quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Primeira Vitória!

Crônica de Eny Nóbrega

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Obrigado, Heitor!

Um dos maiores dissabores dos enxadristas, principalmente daqueles que, como eu, começaram tarde na arte de Caíssa, é olhar dentro de sua própria família e ver esposa, filhos, sobrinhos e primos manterem uma postura de alheiamento, indiferença e às vezes – nos casos mais graves! - total desprezo por este esporte.

Para mim, felizmente, isso é coisa do passado. O ano de 2015 me deu a primeira vitória! Vindo de Brasília a passeio e hospedado com os pais na minha residência, meu sobrinho Heitor, de oito anos de idade, surpreendeu-me com um enfático SIM diante da tímida pergunta que lhe dirigi, desanimado por causa de tantas recusas anteriores: “Quer aprender a jogar xadrez”?

E começamos com os movimentos das peças, o cavalo em ele, o bispo em diagonais, a rainha mais poderosa, a torre em linhas retas e o rei fundamental, pois se perder o rei – aqui Heitor completava: “perde o jogo”. Os peões deram um pouquinho mais de trabalho, mas logo ele entendeu que só vão à frente, não podem recuar, somente “comem” as peças adversárias na diagonal e, se chegarem à oitava fileira, são promovidos a qualquer outra peça. “Ah, tio. Igual aos Cavaleiros do Zodíaco, que quando vencem oito inimigos conseguem evoluir”. Isso mesmo, Heitor, confirmei, agradecido a esses seres desconhecidos.

Após as noções básicas e algumas partidas simuladas, Heitor convenceu a sua irmã Clarinha, de nove anos, a participar. Ele mesmo ensinou os movimentos das peças, e depois de umas partidas por mim supervisionadas, com vitórias de ambos, deixei-os brincando e fui dormir.

Mas o melhor estava por vir. Na manhã seguinte, Heitor me abordou e tentou reproduzir uma partida que havia jogado com a irmã na noite passada. “Aí, tio, ela colocou o Cavalo aqui e eu comi com o peão...”, disse radiante. Era o final das férias. À tarde o meu pequeno guerreiro voltou para Brasília, agarrado a um jogo de peças e a um tabuleiro, presentes de um tio orgulhoso e feliz. 
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O belo texto acima nos foi enviado pelo Promotor de Justiça e Enxadrista Eny Nóbrega com o seguinte encaminhamento:

"Fernando,

Acredito que a situação relatada no anexo acontece com inúmeros caissianos.  Aproveitando o enunciado de Tarrasch ("O xadrez tem o poder de fazer as pessoas felizes"), tantas vezes repetido por Fernando Melo, posso afirmar - agora por experiência própria - que ensinar a jogar xadrez é distribuir felicidade.
Abraço, Eny"

2 comentários:

  1. Parabéns Dr. Eny, a semente foi plantada e espero que germine e nos traga dois campeões, lindo exemplo e que todos nós que nos intitulamos de enxadristas possamos imitar este gesto tão nobre que o amigo realizou. Show de Chess Brother!!!
    Abração, J. Virgolino.

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  2. Parabéns, tio coruja! Belo texto. Estou percebendo que entre os enxadristas existem vários candidatos a escritores também. Será que
    é mais um benefício que o xadrez nos proporciona? Acho que sim, pois como diz o mesmo Fernando Melo: Xadrez é como Filosofia,
    nos ensina a pensar. Abraço grande, amigo Eny.

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