quarta-feira, 31 de maio de 2017

Para lembrar sempre!

GM Anatoly Karpov
Por FERNANDO MELO

Passei a manhã estudando a Defesa PIRC, debruçado em algumas partidas do russo Zurab Azmaiparashvili. De repente me deparo com o Campeonato URSS 1983, vencido por Anatoly Karpov. Este sofreu apenas uma derrota, exatamente para esse russo de nome complicado! E vendo aqui, vendo ali e vendo acolá as variantes possíveis, eis que me deparo com o lance 12.b4 das brancas.  Venha cá, viu que Karpov não toma o peão de b5 negro, com o Bispo? Pois é, não tomou.

Ocorre que - e agora começa o boom desse artigo - Karpov resolveu tomar em outra partida, um ano depois, numa Simultânea em Londres. O seu adversário era um jovem de 15-16 anos.  A partida é maravilhosa, espetacular, boa de ser reproduzida no tabuleiro. À altura do lance 22, Karpov tem 8 peões e o adversário 5! Havia igualdade nas demais peças, num total de 7 para cada lado. Portanto a vantagem das brancas era grande, mas ocorre que a reação das negras veio como um ciclone de alta proporção, derrubando tudo. Karpov deve ter ficado impressionado com a força do seu jovem adversário. Vale a pena conhecer essa partida, lance após lance!

Karpov - Neil Carr
PIRC (B08)
Simultânea Londres 1984

1.e4 d6 2.d4 Cf6 3.Cc3 g6 4.Cf3 Bg7 5.Be2 0-0 6.0-0 Bg4 7.Be3 Cc6 8.Dd2 e5 9.d5 Ce7 10.Tad1 b5 11.a3 a5 12.Bb5 Bf3 13.gf Ch5 14.Tfe1 f5 15.De2 f4 16.Bd2 g5 17.Df1 Tf6 18.Dh3 Th6 19.Dd7 Df8 20.Dc7 Tc8 21.Da5 Cf6 22.Rf1 g4 23.Re2 gf+ 24.Rd3 Th2 25.Db6 Cg4 26.Tf1 Tb8 27.Dd6 Cf2_28.Tf2 Tf2 29.a4 Tg2 30.Rc4 Tg6 31.Dd7 Cc8 32.Rb3 Cd6 33.Th1 f2 34.Tf1 Tb7 35.Dh3 Cb5 36.ab Tb5 37.Ra2 Ta6+ 38.Rb1 Tb2+ e as brancas abandonam.

  NOTA: Neil Carr foi campeão mundial  sub-14 anos. Ele morreu aos 47 anos de ataque cardíaco quando estava de férias em Jersey

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Anchieta ganha Najdorf!

O médico Anchieta Antas Filho ganhou o Torneio Ativo Miguel Najdorf, realizado no último sábado no Clube de Xadrez Miramar, sob a direção do MF Francisco Cavalcanti, somando 6 pontos em 6 possíveis Em segundo lugar, com 4 pontos. Alexandre César e em terceiro, também com 4 pontos, Edson Loureiro. No total foram 12 participantes, Além dos citados, a presença de Petrov Baltar, Luciano Galindo, José Mario, Felipe Guedes, Genildo Gomes, Francisco Arivânio, Rogério Targino, Ubirajara Barros e Mirra Mariana. A arbitragem esteve a cargo de Fabiano Andrade.


domingo, 28 de maio de 2017

Bobby Fischer sem censura

Por David & Alessandra De Lúcia
New In Chess

"Quando Bobby Fischer morreu em 17 de janeiro de 2008, decidi escrever um livro sobre ele, similar aos meus livros anteriores na minha biblioteca de xadrez, que abrangeria apenas itens de Fischer da minha coleção. Mas a minha coleção de xadrez evoluiu de muitas maneiras ao longo dos últimos 25 anos. Sempre tive grande interesse  em certos jogadores como Morphy, Lasker, Capablanca, Alekhine e Fischer.

Há aproximadamente 100 partidas de torneio jogadas e analisadas por ele, incluindo o "jogo do século" contra Donald Byrne. Também quatro encontros de suas simultâneas pelos Estados Unidos em 1964 e que não estavam registrados. A coleção inclui o manuscrito de trabalho do seu famoso livro My 60 Memorable Games, com extensa correção feitas por ele.

A coleção também possui três dos seus passaportes, seu cartão de segurança social, cartão de seguro e seu cartão Young Men`s Christian Association. O acordeão da infância de Bobby, a harmônica, o radio transistor de bolso, 15 quebra-cabeças. Há três dos seus jogos de xadrez, sete conjuntos de xadrez de bolso, relógio de xadrez, o seu relógio de xadrez patenteado dos quais apenas três existem.

Bobby criou várias bibliotecas durante sua vida, uma que vendeu ao negociante de livro de antiquarium Walter Goldwater em 1970. Outra foi vendida quando a Bekins Storage Company vendeu suas posses em 1998. Outra quando residia na Hungria e presumo que existisse outra na época de sua morte na Islândia.

Minha coleção tem cerca de 800 livros que pertenciam a Bobby em vários momentos de sua vida, alguns assinados e, com poucas exceções, todos carimbados Bobby Fischer na página 39 (o mês e dia que Bobby nasceu) ou página 43 (o ano que ele nasceu).
A maior parte da literatura de Fischer não era ficção...

 Gostaria de agradecer a minha filha Alessandra por me ajudar com muitas das fotos. Foi divertido tê-la com minha parceira. Espero que gostem do livro".

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Tem torneio amanhã!


A partir das 14h30, no Clube de Xadrez Miramar, sob a direção do MF Francisco Cavalcanti, será realizado o Torneio Ativo Miguel Najdorf (foto), com 15 minutos nocaute, em 6 rodadas. O vencedor receberá troféu e os dois seguintes, formando o podium, receberão medalhas. Sócios pagam 20 reais e não sócios 30 reais. Lembramos que na primeira rodada, todos devem jogar a Variante Najdorf da Defesa Siciliana! Os tabuleiros serão armados já com esses primeiros lances.

A arma secreta de Fischer!

Por FERNANDO MELO

Fischer acaba de tomar o peão de h6 com seu cavalo (veja a posição no diagrama),
 e fica esperando a resposta do adversário assim como vemos na foto, tomando água,,bem relaxado.


O II Torneio Cidade de Buenos Aires foi realizado entre os dias 19 de julho a 15 de agosto de 1970, contando com 18 participantes de vários países. Esse evento teve algumas dificuldades preliminares e algumas tinham a ver com Bobby Fischer, que sem dúvida era o jogador mais procurado para torneios naquela época. Os entendimentos com os dirigentes e Fischer demoraram, além de outros preparativos. O fato é quando o torneio começou Fischer não estava lá. Só chegou horas antes da terceira rodada. O resultado foi uma série de mudanças na programação. e um extensão do torneio por vários dias. Mas com boa vontade de todos, tudo estava de aluma forma resolvido.


Quando Fischer começou a jogar ficou claro que ele ia dominar o torneio. Ganhar os seus dois primeiros jogos já o colocou em primeiro lugar, já que nenhum outro jogador tinha feito tão bem. Na verdade Fischer teve uma fantástica sequência de seis vitórias antes de surgir um empate com o veterano Najdorf. Então veio mais cinco vitórias seguidas e a pontuação de Bobby Fischer após 12 rodadas era de 11,5 - 0,5!  Assim era Fischer no início da década de 70, totalmente imbatível.

Mas vamos ao que me proponho apresentar no artigo de hoje, ou seja, a arma secreta que ele usava para tantas vitórias. Fischer sabia usar o tempo como poucos. Não me refiro ao tempo do relógio, mas das jogadas no desenvolvimento das partidas. No inicio do meio jogo, após os lances da abertura, seja ela qual fosse, lá estava ele com dois, três tempos na frente do adversário. 

Foi assim nesse torneio de Buenos Aires, diante do romeno Florin Gheorghiu, na terceira rodada. Vejamos a partida, lance a lance, e sentirmos como ele vai conquistando espaço no tabuleiro.

Fischer - Gheorghiu
Abertura Petrov (C42)
1.e4 e5 2.Cf3 Cf6 3.Ce5 d6 4.Cf3 Ce4 5.d4 Be7 6.Bd3 Cf6 7.h3 0-0 8.0-0 Te8 9.c4! ("Este é o movimento chave que inicia o sofrimento das negras. Pouco a pouco, todas as portas são fechadas para Gheorghiu, ficando sob uma resistência passiva entre sua própria parede de peões.") Cc6 10.Cc3 h6 11.Te1 Bf8 12.Te8 De8 13.Bf4 Bd7 14.Dd2 Dc8 15.d5 Cb4 16.Ce4 Ce4 17.Be4 Ca6 18.Cd4 Cc5 19.Bc2 a5 20.Te1 Dd7 21.Te3 b6 22.Tg3 Rh8 23.Cf3 De7 24.Dd4 Df6 25.Df6 gf 26.Cd4 Te8 27.Te3 Tb8 28.b3 b5 29.cb Bb5 30.Cf5 Bd7 31.Ch6 Tb4 32.Tg3 Bh6 33.Bh6 Ce4 34.Bg7+ Re7  35.f3 (1-0) Para Gligoric, Fischer sabia agir como poucos o uso dos tempos, sendo isso sua arma secreta. Essa partida é um bom exemplo para o leitor aprender.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Bobby e Judit!

Por FERNANDO MELO

Família Polgar: Susan e Judit (em pé) Sofia sentada, a
 mãe Klara com o bebezinho de Judit e o pai Laszlo.
Quando Judit Polgar nasceu, no ano de 1976, Bobby Fischer já tinha abandonado os tabuleiros oficiais quatro anos atrás. Ela na Hungria, ele nos Estados Unidos. Quis o xadrez que mais tarde os dois se encontrassem, quando Fischer foi morar na Hungria., na década de 90. 

Analisando friamente. baseado em pesquisa e estatística, Judit Polgar é a melhor jogadora de todos os tempos. E vou mais longe, porque acredito: Judit fez Fischer mudar a opinião que ele tinha sobre as mulheres enxadristas. Para ele, a mulher era inferior ao ponto de ele dar um cavalo de vantagem e ganhar!.Judit mostrou que as mulheres sabem jogar como os homens. Vejam o que hoje faz a nossa querida chinesinha Hou Yifan!

Judit e Fischer
Fico feliz quando falo de Fischer e de Judit. Eles estudaram e analisaram muitas partidas juntos. Fischer frequentava a casa da família Polgar e imagino o quanto ele ensinou às três irmãs! Não quero me aprofundar nesse assunto, pois prefiro falar sobre Fischer até 1972. A presença dele com os Polgar foi na década de 90. Mas é impossível falar da força de Judit como enxadrista, sem lembrar Bobby Fischer. Hoje ela tem 40 anos e está afastada das competições, mas a coroa continua sendo dela para sempre!. 

Fischer com parte da família Polgar

domingo, 21 de maio de 2017

Rocando com Bobby Fischer!

Por FERNANDO MELO
Petrosian x Fischer - Portoroz 1958

Rocar é preciso! Elementar, meu caro Watson!* Verdade, mas tem jogador que aqui acolá teima em não rocar e as vezes termina se dando mal. Prometi a um amigo que ia fazer um levantamento das partidas de Bobby Fischer e constatar quantas vezes ele roca durante um torneio. Vamos hoje apresentar o primeiro resultado.



Torneio Interzonal de Portoroz, 1958.


Foram 21 jogadores. Fischer terminou em 5º lugar, com 12 pontos. O campeão foi Miguel Tal, com 13,5 pontos. Mas vamos ao que interessa no momento. Fischer jogou 20 vezes, rocou dezoito, sendo 17 roques e um grande roque. Ele não rocou, por coincidência, nas duas últimas partidas. Contra Cardoso (19), que ganhou e Gligoric (20), que foi empate. O grande roque foi contra Bent Larsen (7) e Fischer ganhou.

Nesse torneio, Fischer jogou sete vezes, das dez que jogou de brancas, a Abertura Rui Lopes, e em todas ele rocou até o quinto lance. Usou as variantes C67, C84, C92( 3 vezes), C97 e C99

* Elementar, meu caro Watson.


 Em nenhum dos 4 romances romances e 56 contos escritos pelo Sir Arthur Conan Doyle sobre o detetive Sherlock Holmes, existe essa frase, apesar de famosa! Ele diz, mas de forma separada: "elementary" e em outro momento " my dear  Watson", mas nunca os dois juntos. No entanto o não dito ficou como dito e permanece até hoje! E vocês sabiam que Sir Arthur era médico e espírita fervoroso?!

sábado, 20 de maio de 2017

Aprendendo com Dvoretsky - II

Por FERNANDO MELO

Antes de começar a análise do que aconteceu durante a partida Tal - Korchnoi, Camp. URSS 1958, vamos dar uma examinada no diagrama ao lado.

Vejam que a Dama branca está em f3. Na verdade a posição da partida coloca a Dama em f4 e o peão da coluna "h" está em h6. Este foi o lance 33 feito por Tal, ou seja 33.h6+ e não 33.Df3.
Agora vamos ao que nos fala Mark Dvoretsky.

"Tal levou a cabo uma combinação errada com o tema da promoção do peão: 33.h6+ Th6 34.Dh6+ Rh6 35.g7. Depois da inesperada 35. ...Dg3+! as brancas abandonam. Portanto, era necessário 33.Df3! forçando o empate com a ameaça 34,Db7+. A 33, ...Dd5 é possível tanto 34,Df4=, como 34.Dd5+". 

A biblioteca de Bobby Fischer!

Por FERNANDO MELO
Bobby na casa de Collins na década de 50.


"Bobby provavelmente leu mais do que "ler", mas sim mastigado e digerido - mais livros e revistas de xadrez do que qualquer outra pessoas. Não era tarefa. Foi um prazer e fez dele o jogador mais experiente da historia. Cinco a dez horas por dia de leitura e estudo foram a regra, não a exceção." - Jack Collins.

Bobby aprendeu a jogar em março 1949 ( 6 anos) e logo estava lendo seu primeiro livro de xadrez, possivelmente The Games of Chess de Siegbert Tarrasch. Este foi o início de um amor ao longo da vida de literatura de xadrez que foi para servi-lo bem.

A primeira fonte de Fischer para livros de xadrez foi a Biblioteca Pública de Brooklyn, cuja coleção ele rapidamente esgotou. Felizmente por esta altura ele tinha feito amizade com Jack Collins, o fundador do lendário Hawthorne Chess Club, que se tornaria a segunda casa de Bobby. Collins tinha uma extensa biblioteca e introduziu Bobby para grande jogadores do passado, incluindo Wilhelm Steinitz e Adolf Anderssen. Os dois passaram muitas horas passando por The International Chess Magazine de Steinitz e o trabalho de Herman von Gottschall sobre Adolf Anderssen. Sua influência sobre Bobby Fischer pode ser vista em seu hábito de transformar "a peça de museu" aberturas em armas perigosas com Steinitz 9.Ch3 nos Dois Cavalos um dos exemplos mais conhecidos. Esta linha, violando a bem conhecida máxima "um cavalo na borda é fraco"

Bobby começou a construir sua biblioteca no início de sua carreira e no final dos anos 1950 ele possuía perto de cem livros e várias centenas de revistas. Sua coleção continuou a crescer até que em 1968, tendo se mudar para Los Angeles, viu-se forçado a vender parte de sua biblioteca. Uma vez estabelecido em sua nova casa Fischer começou a adquirir mais livros de xadrez com seriedade. Ron Gross, que se tornara amigo de Fischer no Campeonato Americano de Xadrez Junior de 1955 e permaneceria perto dele por quase 30 anos, lembra-se de visitar seu apartamento em 1970 e encontrar montes de livros e revistas espalhados por toda parte, com apenas um caminho estreito que permite passagem pela sala de estar."

Fica assim portanto registrado um pouco dessa particularidade na vida de Bobby Fischer, esta sua paixão incontrolável pela literatura de xadrez.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Bobby desmonta a Najdorf!

Por FERNANDO MELO

Tem coisas que não faço mas que deveria fazer, mas insisto em não fazer. Uma delas é jogar a Defesa Siciliana.  No passado eu costumava jogar a Francesa e de tanto perder terminei desistindo. Depois veio a Pirc e ela foi ficando, ficando, e continua até hoje. Sei que Bobby Fischer gosta muito da Siciliana, tanto de negras  como de brancas. Uma de suas partidas mais famosas é quando ele enfrentou o criador da Variante Najdorf, isso mesmo , próprio Miguel Najdorf o embate histórico entre o criador e a criatura, 

Esse é um tema que os poetas gostam muito de se inspirar. Vejamos o que diz Cora Coralina: "Melhor do que a criatura, fez o criador a criação. A criatura é limitada. O tempo, o espaço. normas e costumes. Erros e acertos. A criação é ilimitada. Excede o tempo e o meio. Projeta-se no cosmos."

No xadrez, a verdade de Cora Coralina é contrariada na partida que vamos ver abaixo, jogada na Olimpíada de Varna 1962, entre  Bobby Fischer e Miguel Najdorf.

Fischer - Najdorf

Siciliana - Var. Najdorf


1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cd 4.Cd4 Cf6 5.Cc3 a6 6.h3 b5 7.Cd5 Bb7 8.Cf6 gf 9.c4 bc 10.Bc4 Be4 11.0-0 d5 12.Te1 (Veja diagrama) e5 13.Da4+ Cd7 14.Te4 de 15.Cf5 Bc5 16.Cg7+ Re7 17.Cf5+ Re8 18.Be3 Be3 19.f3 Db6 20.Td1 Ta7 21.Td6 Dd8 22.Db3 Dc7 23.Bf7+ Rd8 24.Be6 e as negras abandonam. 

terça-feira, 16 de maio de 2017

Clube Miramar homenageia Najdorf

Por FERNANDO MELO

Miguel Najdorf o mais amado entre os jogadores

Será realizado na tarde do próximo dia 27 (sábado), a partir das 14 horas, no Clube de Xadrez Miramar, o Torneio Ativo Memorial Miguel Najdorf, com 15 minutos nocaute e em 6 rodadas. As inscrições estão abertas com o diretor MF Francisco Cavalcanti, sendo que sócios pagam 20 reais e não sócios 30 reais. O campeão receberá o Troféu Najdorf e o vice e terceiro lugar, medalhas.


Esse torneio terá uma particularidade. Na primeira rodada, todas as mesas estarão armadas com a variante Najdorf (1.e4 c5, 2.Cf3 d6 3.d4 cd 4.Cd4 Cf6 5.Cc3 a6), levando assim os participantes a jogarem essa defesa.

Bobby Fischer x Miguel Najdorf

Considerado o jogador mais amado do mundo, Najdorf é uma verdadeira lenda do xadrez. Polonês de nascimento e naturalizado argentino, é bem conhecido por ser o criador da Variante Najdorf, da Defesa Siciliana. Bobby Fischer costumava jogar essa linha e tem um momento histórico, na Olimpíada de Varna 1962, quando os dois se enfrentaram e jogaram a citada variante. 

De olho no peão!

Por FERNANDO MELO

Joguei ontem uma partida amistosa de 30 minutos com o mestre Genildo Gomes, treinando com ele para o torneio de Recife, em julho próximo, quando serão homenageados os saudosos Dr. Luiz Tavares e Eduardo Asfora, numa iniciativa feliz do MF Marco Asfora.

Para responder ao 1.e4, joguei a Pirc, mas com uma preocupação: como evitar aquele ataque branco na casa h6? Como era treino, evitei rocar na abertura, contrariando minha rotina. Genildo também não rocou e o meu plano de jogo foi focado no centro, sem evidentemente desprezar as duas alas. Percebi que Genildo focava sua atenção na ala da dama. De repente me ocorreu tentar ganhar o peão branco de e4, defendido pelo cavalo em c3. 

Parto do princípio de que devemos jogar com um plano, mesmo que seja débil, mas que seja um plano. Você joga com mais vontade, de forma mais prazerosa. O fato é que fiquei de olho no citado peão. E disse comigo mesmo: vou ganhar esse danado! E não é que ganhei!

Não vou mostrar a partida toda, apenas o suficiente para justificar tudo o que disse acima. Foi assim:

Genildo x Melo
Defesa Pirc

1.e4 d6 2.Cf3 Cf6 3.Cc3 g6 4.Be2 Bg7 5.d4 c6 6.Bf4 Ch5 7.Bg5 h6 8.Be3 Cf6 

Foi a partir daí que fiquei de olho no tal e4! Xadrez, até mesmo por também ser um jogo (defendo que seja mais arte), é preciso um pouco de sorte. Imagino que meu adversário não estava percebendo meu olhar faceiro para o dito cujo, ou se estava não deu muita importância, já que o tal peão estava bem defendido pelo cavalo de c3, o que é verdade. Eu tinha a tarefa hercúlea de desviar esse maldito cavalo, transformá-lo num fragilizado Rocinante, com perdão do meu amigo Don Quixote.

9.h3 b5 10.a3 Da5

Vejam que estou cercando o cavalo e, pelo menos na minha visão, estava indo muito bem até que o jogo ficou fixado na ala da dama, no que terminou ajudando no meu intento.

11.b4 Dc7 12.Dd2 a5 13.Ta2?

Respirei fundo, e disse comigo mesmo: obrigado Bobby Fischer. Tem sido assim, quando algo acontece de bom, agradeço ao mestre Fischer, sempre! Quando acontece de ruim, o que tem sido mais comum, reclamo dele e ele faz ouvido de mercador, quando muito me manda estudar mais. É assim que ele me trata!     
O último lance das brancas me dá a vitória. O resultado final da partida não interessa, o que interessa era ganhar o peão de e4! 

13. ...ab 14.ab Ta2 15.Ca2 , desviando o sofrido Rocinante e deixando o peão ao meu dispor. Claro que joguei 15. ... Ce4!
Marcamos outros encontros, antes de julho chegar.

domingo, 14 de maio de 2017

Remígio no reino do xadrez!

Joaquim Virgolino e Melchior Batista, Prefeito de Remígio:
A cidade terá Torneio de Xadrez!

Ali, pertinho de Esperança, terra de Joaquim Virgolino, está Remígio, cidade do brejo paraibano que acaba de anunciar um grande evento de xadrez, despontando assim como mais um centro de relevância na prática da modalidade em nosso Estado. A iniciativa tem no Prefeito Municipal, Melchior Batista, seu maior responsável. Ele esteve presente no Torneio de Esperança, como vemos nas fotos, e, demonstrando ser um entusiasta do nobre jogo, logo se mostrou disposto a também levar para sua cidade um evento de xadrez de mesma magnitude.
As tratativas avançaram e, segundo nos informou Joaquim, o Prefeito "bateu o martelo"! O I Torneio de Xadrez Cidade de Remígio vai acontecer no dia 06 de agosto, no ritmo de de 20' KO, em 6 rodadas, com prêmios de R$ 1.600,00, distribuídos segundo o folder abaixo. Em breve traremos mais informações sobre a forma e o valor de inscrição.

Portanto, vamos todos nos programar para participarmos e prestigiarmos esse novo centro do xadrez paraibano. Bem-vindo, Remígio, ao encantado mundo do reino de Caíssa!

O convite de Asfora!

Por FERNANDO MELO



O meu velho amigo MF Marco Asfora, decano do xadrez pernambucano, me ligou ontem e fez um convite. Como sabemos, de 7 a 9 de julho, teremos em Recife o I Memorial Luiz Tavares / Eduardo Asfora, conforme mostra o cartaz ao lado. Asfora sabe do meu carinho pelo saudoso Dr. Luiz Tavares. Meu livro O Escudeiro de Caissa é dedicado a ele e diz assim:

À memória de Dr. Luís Tavares da Silva (1916-1995). Com ele aprendi a compreender o verdadeiro valor de Bobby Fischer e, como se não bastasse, me deu a conhecer a Abertura Bird! Um marco na cirurgia cardíaca e no ensino universitário de Pernambuco, ex-presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, campeão brasileiro em 1957, e grande protetor e incentivador do GM Henrique Mecking. 

Bem, o convite de Asfora é para que eu apresente na abertura oficial do torneio, por meio de um discurso, os ilustres homenageados. Não só aceitei, como fiquei feliz por essa oportunidade de externar o quanto eleva meu espírito homenagear o meu eterno mestre Dr. Luiz Tavares e Eduardo Asfora!   
  

O legado de Steinitz!

Por FERNANDO MELO

A história do xadrez, em toda sua plenitude, coloca Wilhelm Steinitz no lugar de honra. Aprendi com Bobby Fischer a respeitar esse que foi o primeiro campeão do mundo! Hoje, 14 de maio, é comemorado o aniversário do seu nascimento e o legado deixado por ele é muito rico.

Pesquisando no Chessgames encontro informações valiosas a respeito de Steinitz. A extensão do seu domínio no xadrez mundial é evidente pelo fato de que, a partir de 1866, quando ele derrotou Adolf Anderssen, até 1894, quando renunciou à coroa mundial para Emanuel Lasker, venceu todos os seus jogos.

Mas vejamos um pouco
o que dizem dele, ao longo do tempo:

Steinitz era um pensador digno de um assento nos salões de uma universidade. Um jogador, como o mundo acredita que era, ele não era. Seu temperamento estudioso tornava isso impossível. E assim ele foi conquistado por um jogador e no final pouco valorizado, ele morreu. - Emanuel Lasker 


Steinitz foi o primeiro a estabelecer os princípio básicos da estratégia geral do xadrez. Ele foi um pioneiro e um dos pesquisadores mais profundos na verdade no jogo, que foi escondido de seus contemporâneos. José Raul Capablanca


Ele foi sem dúvida um gênio no xadrez, um dos maiores que já viveu. E o que eu mais respeito nele, é que ele classificou o xadrez como uma arte. A luta com ele me forçou tantos minutos de intenso prazer, quanto períodos de desânimo. Miguel Chigorin


Steinitz estava sempre procurando alguma linha completamente original. Ele entendeu mais sobre o uso de quadrado do que fez Morphy, e contribuiu muito mais para a teoria do xadrez. Ele é chamado  de pai da moderna escola de xadrez. Antes dele o Rei era considerado uma peça fraca e os jogadores começaram a atacar o Rei diretamente. Steinitz afirmou que o Rei era bem capaz de cuidar de si mesmo, e não devia ser atacado até que alguém tivesse alguma outra vantagem posicional. Ele sempre procurou linhas completamente originais e não se importava de entrar em aposentos apertados se ele achava que sua posição era  essencialmente sólida. Bobby Fischer




sábado, 13 de maio de 2017

Livros sobre Bobby Fischer

Por FERNANDO MELO

De grão e grão ... minhas pesquisas são sementes que crescem e dão bons frutos. Uma delas é sobre o blog Xadrez Memória, de Arlindo Rodrigues Vieira. E assim encontro o Bibliofischermania, que informa sobre diversos livros escritos sobre Bobby Fischer.

Todas las partidas de Fischer - É a tradução espanhola do inglês - The Games of Bobby Fischer da Bastford. "Esta versão é uma raridade e tenho certeza que poderia ir claraente aos 150, 200 Euros. Não sei se tem todas as partidas, mas que tem quase todas e as que interessam."

E continua Arlindo Vieira: "Tenho este livro com a capa num estado miserável e escurinho de tanto o manusear, prova provada, que fui mesmo um predestinado a "neca" de xadrez, pois tanto reproduzi as partidas do livro. E todas! Textos de Bisguier, alguma história dos Campeonatos dos EUA, um estudo de Keres, outro de Barden, um estudo do repertório de aberturas de Fischer. Índices de aberturas, de adversários e 770 partidas, umas comentadas estilo Informador, outras com texto, tornaram esse livro o ideal para uma visão global da obra genial de Fischer na tabuleiro. Foi na altura um "must" da Bastford, mas a versão espanhola que possuo, teve uma edição limitada, como limitada foi a vida da Bruguera Ajedrez. Cartonado, notação descritiva (parece que existe uma moderna  versão em notação algébrica), um belo livro."

"Talvez só o Bobby Fischer: Complete Games of the American World Champion, de Lou Hays , faça concorrência a Wade e Connell. Esse livro praticamente só se arranja nos alfarrabistas Web e no mínimo quem quiser a versão inglesa terá de despender cerca de 20 libras!".

Voltaremos com mais artigos sobre outros livros. 

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Aprendendo com Dvoretsky

Por FERNANDO MELO

A partida que vamos ver foi jogada no Campeonato dos Estados Unidos de 1980. Conduzia as brancas Joseph Bradford, atualmente com 66 anos, e as negras pelo saudoso Robert Byrne (nosso conhecido dos embates com Bobby Fischer), que faleceu em 2013.

Quem quiser aprender xadrez de verdade, nos dias de hoje, não pode dispensar o estudo aprofundado dos ensinamentos de Mark Dvoretsky. Essa é a razão que abro, a partir deste artigo, uma série de outros sobre esse mestre na arte de ensinar. 

Na partida em questão, Robert Byrne, conforme assinala Dvoretsky, "se viu tentado pela jogada espetacular 30. ....Dd4?? sem advertir o contragolpe não menos espetacular, mais muito mais efetivo... e que propiciou às brancas uma grande vantagem material".

Muito bem, que lance seria esse que Dvoretsky fala e que pertence a Bradford? Vale a pena ver a partida do início e chegar até ele... portanto:

Joseph Bradford
Joseph Bradford - Robert Byrne
Inglesa (A14)

1.Cf3 Cf6 2.g3 b6 3.Bg2 Bb7 4.0-0 e6 5.c4 Be7 6.b3 0-0 7.Bb2 c5 8.Cc3 d5 9.Ce5 Cc6 10.cd Ce5 11.d6 Bg2 12.de De7 13.Rg2 Tad8 14.Rg1 Cc6 15.d3 Cg4 16.Dd2 f5 17.Tad1 e5 18.f3 Cf6 19.Dg5 De6 20.Dh4 Cd4 21.e3 Cc2 22.Bc1 Cb4 23.d4 e4 24.dc Td1 25.Td1 bc 26.fe fe 27.Ba3 De5 28.Ca4 Cfd5 29.Cc5 Ce3 30.Cd7 Dd4 
E agora José? Como é que as brancas vão se sair dessa? Vejam o que Bradford faz!

31.Dh7+ !! Rh7 32.Cf8 Rg8 33.Td4 Cbc2 34.Te4 (1-0)

Qual seria então o lance correto para Byrne não perder a partida? E tem esse tal lance? Tem! Diz Dvoretsky:

"Porém jogando 30. ...Dd6! as negras ganhariam porque a Tf8 está defendida pela dama e o contra sacrifício da dama em h7 não tem sentido."
Também era possível, continua Dvoretsky, "30. ...Df5!? 31.Cf8 Cd1 32.Dh7+ Dh7 33.Ch7 Cc2 -+ ou 33. ...CD3 34.Cg5 e3 -+." 

Espero que tenham aproveitado bem. Até o próximo estudo.



A prancheta do fiscal!

Fischer contra Keres em Curaçao 1962, pelo Torrneio de Candidatos
Por FERNANDO MELO

Olhando bem essa foto, constatamos que está bem poluída! O normal, pelo menos nos dias de hoje, é termos as peças sobre o tabuleiro, o relógio e as súmulas. Mas a foto mostra mais. Xícara de café, prato com sanduíche e a prancheta do fiscal. Não posso precisar se era um costume da época, jogarem comendo, mas parece que Fischer estava com muita fome nesse torneio, onde não se deu muito bem no geral.

Estamos falando do Torneio de Candidatos  de Curaçao - 1962. Eram oito jogadores, cada um enfrentando o mesmo adversário quatro vezes! Um detalhe: dos oito, cinco eram russos! Estão vendo como era difícil para Fischer? Quebrar esse monopólio, esse imperialismo caissiano dos soviéticos, só mesmo um Fischer, mas que pagou caro, muito caro, bastante caro, com seus protestos homéricos, suas desistências históricas, tudo em nome de um xadrez leal e digno. Essa gratidão, todos nós que amamos o xadrez, devemos ter em favor de Bobby Fischer.

Antes de mostrarmos a partida da foto, em que Fischer ganhou, jogando com as brancas uma Rui Lopes, vamos falar um pouco sobre a prancheta do fiscal, prática não mais usada nos dias de hoje. Na verdade, não é fiscal, mas assistente de pontuação. Ele anotava cada lance que era passado para outro assistente que colocava no mural. Esses assistentes eram voluntários. E quanto a comer durante a partida, na própria mesa do jogo, tem um caso que ficou famoso. Não era comida propriamente, era bebida. Lembram do iogurte de Karpov!? Kasparov as vezes jogava com uma barra de chocolate ao lado. E atualmente, Magnus Carlsen, pelo menos quando começou a despontar, jogava com um suco de laranja ao lado. Mas vamos à partida. Desse embate de quatro partidas, uma vitória para cada um e dois empates.

Fischer - Keres
Rui Lopes (C96)

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 a6 4.Ba4 Cf6 5.0-0 Be7 6.Te1 b5 7.Bb3 d6 8.c3 0-0 9.h3 Ca5 10.Bc2 c5 11.d4 Cd7 12.dc dc 13.Cbd2 Dc7 14.Cf1 Cb6 15,Ce3 Td8 16.De2 Be6 17.Cd5 Cd5 18.ed Cd5 19.Ce5 Ta7 20.Bf4 Db6 21.Tad1 g6 22.Cg4 Cc4 23.Bh6 Be6 24.Bb3 Db8 25.Td8 Bd8 26,Bc4 bc 27.Dc4 Dd6 28.Da4 De7 29.Cf6 Rh8 30.Cd5 Dd7 31.De4 Dd6  32.Cf4 Te7 33.Bg5 Te8 34.Bd8 Td8 35.Ce6 De6 36.De6 fe 37.Te6 Td1 38.Rh2 Td2 39.Tb6 Tf2 40.Tb7 Tf6 41.Rg3 (1-0) 


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Boas lembranças de Estocolmo!

Por FERNANDO MELO

Rudolf  Teschner (1922-2006)
Depois de analisar o resultado do Interzonal de Estocolmo 1962, começo a acreditar que Bobby Fischer, aos 18 anos, já tinha força para ser campeão do mundo. Ele ganhou esse torneio com facilidade. Foram 13 vitórias e nove empates, 17,5 pontos num total de 22 partidas jogadas entre 27 de janeiro a 6 de março. O russo Efim Geller terminou em segundo, com 15 pontos, 2,5 a menos do que Bobby. O terceiro lugar foi ocupado pelo russo Tigran Petrosian, também com 15 pontos. O quarto lugar pelo russo Viktor Korchnoi, com 14 pontos e teve mais um russo, Leonid Stein, que terminou em oitavo com 13,5 pontos. 

As partidas de Bobby Fischer, em geral, são merecedoras de atenção e tenho por todas especial carinho. Nesse Interzonal de Estocolmo, logo na primeira rodada, a partida me agradou muito. Para muitos, o nome do MI alemão Rudolf Teschner não significa nada, ainda mais se soubermos que ele terminou esse torneio em 21º lugar entre 23 jogadores, somando apenas 6,5 pontos, com 3 vitórias, 12 derrotas e sete empates.

O feito de ter empatado com Bobby Fischer, logo na primeira rodada e num empate de luta, o credencia. É certo que Fischer chegou atrasado, mas sabemos todos que o potencial do norte-americano (e provou isso vencendo o torneio) era muito além do potencial do alemão. Vejamos a partida.

Teschner - Fischer
Índia do Rei (E92)

1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 Bg7 4.e4 0-0 5.Cf3 d6 6.Be2 e5 7.de de 8.Dd8 Td8 9.Bg5 Te8 10.Cd5 Cd5 11.cd c6 12.Bc4 cd 13.Bd5 Cd7 14.Tc1 h6 15.Be3 Cf6 16.Bb3 Ce4 17.Tc7 Be6 18.Be6 Te6 19.Tb7 Ta6 20.a3 Cd6 21.Tb4 Tc6 22.0-0 f5 23.g3 g5 24.Td1 a5 25.Ta4 Cc4 26.Tc1 Ch2 27.Tc6 Ca4 28.h4 f4 29.Bd2 e4 30.Ce1 fg 31.Tc4 gf+ 32.Rf2 e3 33.Re3 Cb6 34.Te4 Cd5+ 35.Re2 Cf6 36.Ta4 gh 37.Th4 Rh7 38.Ta4 Te8+ 39.Rf3 Cd7 40.Ta5 Ce5+ 41.Rf2 (1/2).

Além de jogador, Teschner foi editor por 38 anos (1950-1988) da revista alemã Deutsche Schachzeitung, a mais antiga do mundo e que foi fundada em 1846, por Ludwig Bledow. O nosso conhecido Siegbert Tarrasch foi seu editor em 1897. 


quarta-feira, 10 de maio de 2017

O cavalo de Bobby Fischer!

Fischer doma o Tornado! 
Por FERNANDO MELO

Quero acreditar que a abertura Rui Lopes é a mais estudada no universo caissiano, mais do que a defesa Siciliana. É o que penso, mesmo porque esta é bem mais nova do que aquela. 

Ontem, no meu laboratório, descobri uma partida que Fischer jogou no malogrado Interzonal de Sousse, Tunez, 1967, contra o GM húngaro Laszlo Barczay . É uma aula de xadrez bem ao estilo fischeriano.

 O lance 11.Ch4!? contraria muitos tratados de aberturas, que considera esse salto de cavalo inferior. Mas esse não é um cavalo qualquer, é um Tornado puro sangue! ! A ousadia desse lance é típico em Fischer, fruto de estudos caseiros. Ele fez consciente. Pena que Barczay não aceitou o sacrifício do peão de e4 , para sabermos como Fischer iria reagir!

Mas devemos agora nos concentrar a apreciar essa partida, com apenas 24 lances, mas  que é muito interessante por conta do lance de número 11, que me referi acima.

Fischer - Barczay
Rui Lopes (C95)
In. Sousse, 1967

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 a6 4.Ba4 Cf6 5.0-0 Be7 6.Te1 b5 7.Bb3 d6 8.c3 0-0 9.h3 Cb8 10.d4 Cbd7 11.Ch4 ed 12.cd Cb6 13.Cf3 d5 14.e5 Ce4 15.Cbd2 Cd2 16.Bd2 Bf5 17.Bc2 Bc2 18.Dc2 Tc8 19.b3 Cd7 20.e6 fe 21.Te6 c5 22.Ba5 Da5 23.Te7 Dd8 24.Cg5 e as negras abandonaram. Se 24. ...Cf6 25.Tg7+, etc. E se 24. ...g6, igualmente 25.Tg7+, etc. 

terça-feira, 9 de maio de 2017

Quem ganhou o US Open -1957?

Por FERNANDO MELO

Koltanovski introdiuziu o Sistema Suiço nos EUA
O tradicional Aberto dos Estados Unidos tem suas histórias. Uma delas vamos contar hoje. Entre os dias 5 a 17 de agosto de 1957 foi realizado em Cleveland, Ohio, o 58º US Open, que atraiu 175 jogadores de 23 Estados, o distrito de Columbia, México e Canadá.

Arthur Bisguier foi originalmente proclamado vencedor e estava dirigindo de volta para Nova Yorque com o troféu de primeiro lugar, mas teve de devolver porque, no recálculo feito pelos dirigentes, o primeiro lugar cabia a um garoto de 14 anos, chamado Bobby Fischer. Esse é um momento amargo para Bisguier e feliz para Bobby, por ter sido o seu primeiro torneio internacional importante.

Na tabela de classificação original dava os três primeiros lugares a Arthur Bisguier (10/12), Donald Byrne(9,5 /12)  e Robert James Fischer(9/11). Na tabela final, Bobby em primeiro e Bisguier em segundo, ambos com 10 pontos e Donald em terceiro, com 9,5.

Bisguier escreveu mais tarde um artigo para Chess Review (outubro de 1957, pp.297.298) no qual ele fez o seu melhor para ser desportivo e louvar Fischer copiosamente, mas sua amargura com os dirigentes do torneio e sistema de desempate em geral era aparente.

Considero oportuno trazer à tona um ligeiro perfil do dirigente, já habitual, desse torneio. Trata-se de Georges Koltanowski. Ele nasceu na Antuérpia, Belgica, em 17 de setembro de 1903 e morreu em 5 de fevereiro de 2000, com a idade de 96 anos, nos Estados Unidos, onde havia se  naturalizado, fugindo do terror nazista. Mais do que um jogador, também foi expositor, escritor, promotor, dirigente e showman.

Atenção para esse detalhe: ele dirigiu o Open dos Estados Unidos de 1947, a primeira vez que o Sistema Suiço foi utilizado nesse evento e foi muito responsável por popularizar o Sistema Suiço nos Estados Unidos. Ele também foi presidente da Federação de 1975 a 1978.

domingo, 7 de maio de 2017

Um lance inusitado!
























Por FERNANDO MELO

O episódio que vou contar agora é estranho, muito estranho, bastante estranho. Chego ao ponto de acreditar que de todos os meus poucos leitores, nenhum deles ouviu falar nesse caso, nesse lance inusitado.

No Torneio de Candidatos, Bled 1959, Fischer jogou contra Tal. As duas fotos são do momento preciso do episódio que estou narrando. Bobby Fischer acaba de jogar 1.e4 e espera pacientemente a resposta de Miguel Tal.

E é nesse momento que ocorre o lance inusitado feito por Tal. Como pode isso acontecer? Como pode o primeiro lance ser inusitado? Essa sensação de surpresa é perfeitamente normal. Acredito até que o leitor esteja pensando que estou querendo tirar leite de pedra, ou forçar demais minha entrada no Céu! Será?
Sabem o que Tal fez? Vou dizer agora.

Ele segurou o peão de e7 e  o colocou na casa e6, mas continuou segurando o peão, olhou para Fischer, sorriu, e fixou finalmente o peão na casa e5. Fischer viu a "brincadeira" mas ficou na dele, nem aprovou e nem desaprovou. Simplesmente fez que não viu, e com isso manteve-se concentrado.

Conto esse episódio porque ontem eu vi o vídeo que registra o ocorrido. Na época, Tal podia ser considerado como o melhor jogador do momento, uma vez que no ano seguinte, ele tornou-se campeão do mundo ao derrotar Botvinnik. 

RETIFICAÇÃO: O TORNEIO FOI O INTERZONAL DE PORTOROZ, EM 1958, E NÃO O QUE FALEI ACIMA. PEÇO DESCULPAS! O RESULTADO FOI EMPATE EM 41 LANCES.

sábado, 6 de maio de 2017

Um empate perdido!

Por FERNANDO MELO

Fischer aguarda Lrarsen definir o sorteio das cores da 1º partida. Deu Fischer de brancas.
Quando falamos de Bent Larsen, logo somos levados aos 6-0 que ele sofreu de Bobby Fischer, na Semifinal do Torneio de Candidatos de 1971, em Denver-EUA. Poderia ter sido um pouco diferente e é o que vamos ver nesse artigo de hoje.

Estou lendo um livro de Mark Dvoretsky e nele encontrei alguns estudos valiosos sobre algumas partidas de Bobby. Vamos nos prender à 5ª do match com Larsen.

"As negras (Larsen) deviam contentar-se com a jogada 20. ...Bxd5! , encaminhando-se a um final de bispos de cores contrárias. Depois de 21. Txe7 Tfe8 (ou 21. ... a6) a partida provavelmente teria terminado em empate.."

Ocorre que Larsen não fez essa jogada e algo pior aconteceu. Vamos descobrir vendo a partida abaixo.  

Fischer - Larsen
Semifinal do Torneio de Candidatos
Denver-EUA 1971
5ª partida do Match  
Siciliana (B88)

1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cd 4.Cd4 Cf6 5.Cc3 Cc6 6.Bc4 e6 7.Bb3 Be7 8.Be3 0-0 9.0-0 Bd7 10.f4 Dc8 11.f5 Cd4 12.Bd4 ef 13.Dd3 fe 14.Ce4 Ce4 15.De4 Be6 16.Tf3 Dc6 17.Te1 De4 18.Te4 d5 19.Tg3 g6 20.Bd5 Bd6 21.Te6! (Segundo Dvoretsky, Larsen não estimou esse sacrifício de qualidade.) Bg3 22.Te7 Bd6 23.Tb7 Tac8 24.c4 a5 25.Ta7 Bc7 26.g3 Tfe8 27.Rf1 Te7 28.Bf6 Te3 29.Bc3 h5 30.Ta6 Be5 31.Bd2 Td3 32.Re2 Td4 33.Bc3 Tcc4 34.Bc4 Tc4 35.Rde Tc5 36.Ta5 Ta5 37.Ba5 Bb2 38.a4 Rf8 39.Bc3 Bc3 40.Rc3 Re7 41.Rd4 Rd6 42,a5 f6 43.a6 Rc6 44.a7 Rb7 45.Rd5 h4  46.Re6  e as negras abandonam, 

Trago para o leitor o relato abaixo, de um observador da partida acima, cujo nome Robert Sandberg, eu desconheço. Diz ele, conforme conta no chessgame:

"O observador olha com fascínio como Larsen, o tático supremo, é superado em cada turno. Por mais incrível que pareça, ele simplesmente não é concorrente de Fischer. Ele estabelece posições sólidas, com objetivos estratégicos sólidos e depois perde o seu caminho, sua atenção desviada por uma agitação tática. Posição após posição e Larsen ficou sem ideias. O xadrez de Fischer simplesmente não permite que Larsen demonstre o belo xadrez que ele repetidamente demonstrou em torneios recentes. Quando os movimentos perspicazes são feitos, são geralmente Fischer; quando as escaramuças táticas ocorrem. são a vantagem de Fischer. Quando o endgame é alcançado, é sempre Larsen lutando para segurar. Na quinta partida, Larsen jogou talvez dez movimentos em uma posição perdida... Quando o jogo terminou e Fischer ficou recebendo um apaixonado aperto de mão de um dos juizes, ouvindo-se aplausos da plateia, Larsen olhou para a multidão com uma expressão espremida, esganiçada, confusa e então via-se nele a imagem da derrota . Com todo respeito ao jogo notável de Fischer, que triste era ver esse outro grande jogador tão humilhado."

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Lance cirúrgico!

Por FERNANDO MELO

De um grande mestre experiente como Paul Benko não se pode esperar certo tipo de erro. Mas aconteceu, acontece e vai continuar acontecendo sempre. Todos cometem erros e muitos desses erros poderiam ser evitados se o jogador estivesse mais concentrado na partida. 


Lembram como Fischer definiu o segredo do xadrez? Vamos relembrar. Consiste em não fazer jamais um movimento sem haver compreendido antes a posição.

Na partida que vamos ver abaixo, Benko cometeu o grave erro exatamente por não entender (ou menosprezar) o lance de Fischer 36.Be4 (Veja a posição no diagrama).

Fischer - Benko
USA-ch(1965) 
Rui Lopes (C95)

1.e4 e5 2.Cf3 Cf6 3.Bb5 a6 4.Ba4 Cf6 5.0-0 Be7 6.Te1 b5 7.Bb3 d6 8.c3 0-0 9.h3 Cb8 10.d4 Cbd7 11.Ch4 Cb6 12.Cd2 c5 13.dc dc 14.Cf5 Bf5 15.ef Dc7 16.g4 h6 17.h4 c4 18.Bc2 Ch7 19.Cf3 f6 20.Cd2 Tad8 21.Df3 h5 22.gh Cd5 23.Ce4 Cf4 24.Bf4 ef 25.Rh1 Rh8 26.Tg1 Tf7 27.Tg6 Bd6 28.Tag1 Bf8 29.h6 De5 30.Dg4 Tdd7 31.f3 Bc5 32.Cc5 Dc5 33.Tg7 Tg7 34.hg+ Rg8 35.Dg6 Td8 36.Be4 Dc8 37.De8+! e as negras abandonaram! 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O iluminado!

Por FERNANDO MELO

Olhem bem para essa foto. Fischer pensa e Reshevsky espera. O que logo me chamou a atenção foi a presença agressiva da luz, iluminando a mesa. Esse era um dos itens que Bobby fazia questão. Uma boa iluminação abre ainda mais a visão sobre o tabuleiro. Mas, que partida foi essa? Quem ganhou, quem perdeu? Qual foi a defesa que Fischer usou já que a foto mostra ele com as negras? Foi jogado em que torneio, em que local, em que cidade, em que clube?
Vamos por partes. 

Todas as respostas: 
Foi no ano de 1963. Fischer tinha 20 anos feitos e Reshevsky 52 anos.  As brancas jogaram a Inglesa e Fischer respondeu com a simétrica. No 47º lance , Fischer que tinha vantagem material, dá um xeque com mate inevitável na sequência, o que leva o condutor das brancas a desistir. O jogo foi em Nova York, no Marshall Chess Club, pelo Campeonato dos Estados Unidos de 1963/1964 (15 de dezembro a 2 de janeiro). 

E agora daremos uma noticia que é será uma grande surpresa para muitos.
Foram 12 jogadores, todos contra todos, com oito Grandes Mestres três Mestres Internacionais e um sem título. Fischer somou onze vitórias! Eu nunca ouvi falar, na época de Fischer e após ela, que alguém tenha ganho todas as partidas do campeonato do seu país! Em segundo lugar, Larry Evans com 7,5 pontos. Paul Benko chegou em terceiro com 7 pontos e o grande rival Samuel Reshevsky, chegou em quarto lugar com 6,5 pontos.
É por essas e por muitas outras, que Fischer é o ILUMINADO do xadrez mundial!   

quarta-feira, 3 de maio de 2017

O amoroso Silvio Sá!

Por FERNANDO MELO

Todo ano é assim e hoje esse gesto se repete:
Dona Ana sobe na cadeira para abraçar Silvio!
Hoje é um dia especial aqui em casa, razão porque saio da minha rotina fischeriana para homenagear o meu filho Silvio, que completa 48 anos. Falar de Silvio me vem logo à mente Dona Ana. Ouço ela dizendo: Silvinho é muito amoroso! É verdade! Dona Ana não teve filhas, mas seus dois filhos valem tanto para ela, são tão participativos, que me deixa a certeza de que ela é feliz. E vejo mais, enquanto Silvio é a emoção, Fernando (seu irmão um ano mais novo) é a razão. Este pensa, aquele sente. Silvio abraça, Fernando cumprimenta. São sentimentos que se completam e nesse particular está a felicidade de Dona Ana!

Mas Silvio não é só amoroso, tem mais qualidades. Vascaino da gema. E a prova disso é que sua rivalidade com seu irmão, flamenguista (eles se respeitam) é que quando o Flamengo perde, vale como uma vitória do Vasco. Nos últimos anos, pelo que sei, o Flamengo tem estado melhor, mas este ano será do Vascão!  Né não, Silvinho? 

Mas no xadrez? Ah! aqui temos uma singularidade. Essa paixão pelo futebol, leva Silvinho a ter longos papos com outro vascaino chamado Darcy Lima, o homem que mais vive xadrez no Brasil, pois é o presidente da Confederação Brasileira de Xadrez. Pela internet os dois falam muito de futebol, principalmente sobre o Vasco da Gama. E xadrez? Não falam nada? Nada, podem acreditar!

Na área de relações publicas, o xadrez paraibano está bem servido. Silvio sabe fazer amizades, sempre sorridente e simpático com as pessoas, e acredito que no dia de hoje, quando comemoramos seu aniversário, deverá receber muitas mensagens. Que assim seja e que Silvio continue sendo o que é, o filho amoroso e o amigo sincero. 

terça-feira, 2 de maio de 2017

Confiança sem limites!

Por FERNANDO MELO

Bobby Fischer - Miguel Tal
Sabemos todos que Miguel Tal perdeu o titulo de campeão do mundo na revanche contra Miguel Botvinnik., que ocorreu em maio.de 1961. Cinco meses depois Tal joga o Torneio Internacional de Bled (Iugoslavia) e vence. Era um jogador fantástico, cuja derrota em maio não o abalara tanto como se podia imaginar. Sabemos também que Bobby Fischer jogou esse torneio em Bled, terminou em segundo e o único a derrotar Tal.

O que talvez alguns não saibam é o que Bobby fez nessa partida. Foi incrível, muito incrível, bastante incrível. Você sacrificar qualquer peça para um adversário forte é algo muito incomum, e quando você sacrifica uma dama para um adversário chamado Miguel Tal, no ano de 1961, prova que a confiança que você tem em si mesmo é sem limites!  

"Em xadrez de alto nível, você tem que conduzir sua superioridade de maneira impiedosa.", disse Fischer. Ao sacrificar a dama no lance 23, Fischer sabia o que estava fazendo e, mesmo com a partida se desenrolando mais 24 lances, ele consegue a vitória. Uma vez batido, disse o grande Tal: "É difícil jogar contra a teoria de Einstein!"

Sem querer provocar a nova geração, gostaria que ela soubesse que Fischer tinha apenas 18 anos quando jogou essa partida, e nem Karpov e nem Kasparov chegaram a tanto com essa idade! Deixar o grande Tal o tempo todo na defensiva, quando sabemos do seu estilo agressivo, só mesmo um Bobby Fischer!

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Natal promoverá Aberto do Brasil em junho!

Morro do Careca na Praia de Ponta Negra (RN), local do D Beach Resort, onde será realizado o
10º Aberto do Brasil Xadrez Potiguar, de 2 a 4 de junho de 2017


Entre os dias 2 e 4 de junho deste ano, vai acontecer em Natal a 10ª edição do Aberto do Brasil Xadrez Potiguar, com 4.500 reais em prêmios acumulativos, além da oferta de 2 vagas para a Semifinal do Brasileiro de 2017. A competição, que tem a organização da FNX, presidida pelo AI Igor Macedo, será realizada no D Beach Resort, na beira-mar da praia de Ponta Negra, situado a 200 metros do conhecido ponto turístico de Natal, o Morro do Careca. Eis aí mais um excelente motivo para fazer parte do evento: além do prazer de jogar xadrez, o participante poderá desfrutar dos encantos do excelente lugar do torneio! Serão 6 rodadas, no ritmo de 1h30+30s por lance ou 2h KO. Até 22 de maio, as inscrições têm valor promocional de R$ 100,00. Após essa data, o valor será de R$ 120,00. Os GM's e MI's estão isentos da taxa, enquanto para MF's e MN's o valor único da inscrição é de R$ 60,00. Todos os jogadores precisam estar em dia com a anuidade da CBX. Confira mais detalhes sobre os procedimentos de inscrição e demais informações no site Xadrez Potiguar (link).