sábado, 12 de agosto de 2017

Wesley So, menos óculos e mais xadrez!

Por Rewbenio Frota

Acabou ontem a Copa Sinquefield nos EUA com vitória do super GM francês Maxime Vachier-Lagrave, impondo-se sobre Carlsen e Anand, além de Wesley So e Sergey Karjakin. A Copa Sinquefield faz parte do Gran Chess Tour, que se propõe a ser algo similar ao circuito de Grand Slam do tênis,  iniciativa das mais promissoras para o nosso jogo, pois mantem competições de alto nível e alta premiação que motivam os melhores do mundo a se manter em excelente forma o ano inteiro.

O mais estranho, porém, não foi o vencedor da Copa (nessas competições onde só jogam monstros de quase 2800 ou mais, qualquer um pode ser o campeão), mas o fato de o “lanterninha” da competição, ter sido justamente o GM Wesley So, atual campeão do Grand Chess Tour e número 2 do mundo!

Recentemente, So ficou invicto em torneios de elite por 67 partidas, o que lhe trouxe inúmeros títulos importantes, praticamente consecutivos: Copa Sinquefield 2016, medalha de ouro (individual e por equipes) nas Olimpíadas de xadrez 2016, London Chess Classic 2016, Wijk aan Zee 2017 e Campeonato dos EUA 2017.

Porém, quando parece ser a principal força a desafiar o reinado de Magnus Carlsen, ele começa a desacelerar. Perdeu a primeira partida em meses no Memorial Gashimov (acabou em 2º-3º) em abril, empatou todas as partidas no torneio Altibox Norway (acabou em 4º-6º) em junho e, agora, foi o último na Copa Sinquefield.

Para mim, a partida que melhor ilustra as dificuldades pelas quais que Wesley So vem passando para administrar seu jogo foi na quinta rodada, contra o próprio campeão mundial. Jogando de brancas, ele se atrapalhou numa sequência de cinco lances e, sem razão, permitiu a entrada de poderosa torre na segunda fila (ainda perdendo um peão).  Sucumbiu poucas jogadas depois, quando ficou claro que, ao jogar 19. Bf4?, havia omitido a simples resposta de Carlsen: 23. ... De2.

O que pode estar acontecendo? Wesley teria esgotado seu repertório de aberturas?, Teria sido “mapeado” por seus astutos adversários no topo mundial? Está escondendo o jogo para a Copa do Mundo que se aproxima? Ou estaria passando por outro momento pessoal difícil (lembremos que há dois anos ele passou por situações pessoais que afetaram muito seus resultados, tendo até mesmo perdido uma partida por anotar frases motivacionais durante uma partida)?

No esporte, todas as competições individuais são, fundamentalmente, batalhas mentais, onde a confiança e o ego contam muito. No xadrez, que é por excelência um esporte mental, esses fatores são ainda mais importantes.

Quero crer que não seja nada além de uma oscilação, uma fase de rearranjo das ideias sobre seu jogo. Na elite, essas etapas de maré baixa são amplificadas, pois os adversários são capazes de aproveitar até mesmo as menores imprecisões para abocanhar o ponto inteiro. Espero que seja apenas uma rápida fase de ajustes, que volte a apresentar um xadrez mais combativo, criativo e preciso.

Para tanto, como ficou claro no caso da planilha, será preciso aprender a administrar as inevitáveis excentricidades que alguns GMs de alto nível acabam demonstrando, às vezes danosas ao desempenho. Ultimamente, por exemplo, Wesley tem usado óculos de sol durante as partidas (teria aprendido com Korchnoi?). Se pudesse dar um conselho ao GM, daria somente este: tire esses óculos Wesley!

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