terça-feira, 1 de agosto de 2017

A fênix de Fischer!

Por FERNANDO MELO
(Dedico este artigo ao Mestre Fernando Sá de Melo)

Confesso que fiquei um bom tempo sem saber como começar este artigo. Certamente é o mais importante de todos o que escrevi, porque ele encerra uma certeza que para mim sempre foi absoluta, ou seja, a imortalidade de Robert James Bobby Fischer!


O marco de toda as suas partidas (motivo deste artigo) tem um significado bem especial, considerando a minha admiração por Botvinnik e Bronstein. A história de ambos é muita rica nos tabuleiros internacionais, credenciando-os ao respeito dos que conhecem verdadeiramente o xadrez, no que ele tem de mais mais puro como arte e ciência. O que eles disseram sobre o tema central deste artigo é definitivo para mim.


A partida que estou a me referir é a 13ª do match contra Boris Spassky, em 1972.
Vejamos o que disse Botvinnik:
"Foi a maior conquista de Fischer em Reykjavik".
Vejamos o que disse Bronstein:
"De todo o match, eu considero a 13ª partida a mais bela. Possivelmente porque, mesmo hoje, quando eu a analiso pela enésima vez, ainda não consigo compreender as minúcias por trás desse ou daquele plano ou lance individual. Como uma esfinge misteriosa, ela ainda provoca a minha imaginação."

No seu livro  Meus Grandes Predecessores, Vol. IVKasparov dedica nada menos do que oito páginas na apresentação da partida, com análises e comentários valiosos.
Com as negras, Fischer jogou a 13ª partida empregando a Defesa Alekhine e venceu após 74 lances. Voltou a usar essa Defesa na 19ª partida e empatou após 40 lances. 

Quando Fischer jogou 60. ...Tg8, Botvinnik fez o seguinte comentário:
"Fischer encontra uma solução paradoxal: ele afoga a sua própria torre, mas bloqueia o peão passado das brancas e amarra o seu bispo a ele. Agora cinco peões passados estão lutando contra a torre branca. Anteriormente nada similar havia ocorrido no xadrez. Spassky estava abalado e perdeu. Logo Smyslov encontrou um empate para as brancas, mas teria ele o encontrado no tabuleiro, sentado frente a Fischer?"

Meu Deus! Isso está sendo dito pelo Patriarca da Escola Russa! Ecoa para mim como um dos mais intensos elogios sobre a força de Bobby Fischer

Comentando a partida com Krogius, psicólogo e segundo de Spassky, Fischer disse "que havia notado a indecisão do adversário antes do 25º lance, quando ele poderia ter criado um ataque poderoso", observa Kasparov. E finaliza Fischer nessas impressões junto com Krogius: "Eu também senti que Spassky subestimou o perigo da sua posição, quando eu tinha cinco peões pela torre!"

E assim, para terminar, fico com a sensação de que tudo o que fiz até hoje, que foi muito pouco - pois poderia ter feito muito mais - em defesa do xadrez, valeu a pena e me sinto premiado quando me deparo com essa 13ª partida, a verdadeira fênix de Fischer!


Um comentário: