Quando Bobby Fischer sentou-se pela primeira vez diante do
tabuleiro para enfrentar Mequinho, sabia que o jovem adversário de 18 anos, não
era um estranho no ninho. O Brasil, um país do Carnaval e do Futebol (pelo
menos naquele tempo, ganhando a Copa no México) não tinha tradição no xadrez,
mas Fischer certamente iria sentir na pele a força e a capacidade do primeiro
GM brasileiro, o gaúcho Henrique Costa
Mecking.
Tendo vencido o Sul-Americano em 1967 e o Internacional de
Bogotá em 1970, Mequinho vinha com certa credencial. Ocorre que Fischer já era
tido como o melhor do mundo, e o mais cotado futuro adversário de Boris
Spassky, o soviético que na época era o detentor da coroa mundial do xadrez.
Tanto isso é verdade que nesse torneio, o de Buenos Aires de
1970, mais precisamente no período de 19 de julho a 15 de agosto, Mequinho
terminou em oitavo num total de 18 jogadores, com 8,5 pontos, enquanto Fischer
pontificou em primeiro com 15 pontos, 3,5 a mais na frente do segundo colocado.
Para quem conhece xadrez, chegar em primeiro com essa diferença, só mesmo
Fischer!
E no embate Mequinho x Fischer ocorreu algo que deve ter
assustado o norte-americano. No 18º movimento ele percebeu que sua Dama estava
sendo caçada pelo brasileiro, ganhando em troca uma torre e um cavalo. Imagino
o frenesi no salão com os comentários sobre aquela ousadia "do pirralho do
Brasil". Mas, no 30º lance, Fischer com sua posição consolidada (duas
fortes torres na coluna aberta da dama), a partida foi decretada empate por
repetição de jogadas.
Embora em 1970 Mecking já fosse um jogador de grande capacidade, Fischer era muito superior a ele e fez questão de alardear esse fato, com a presunção e a arrogância que lhe eram características. O episódio a seguir encontra-se registrado no volume 4 do livro Meus Grandes Predecessores, de Garry Kasparov. Referindo-se a Mecking, afirmara Fischer: "Esse falastrão disse uma vez: 'Eu acho que se Fischer vier a perder para mim, isso não causará danos à sua reputação'. Esse tagarela! Eu somente perderei para Mecking se for mordido por uma cobra venenosa!" (Meus Grandes Predecessores, vol. 4, p. 369).
ResponderExcluirMas jogou muito o falastrão! Seria bom que o Fernando ou você próprio Jales pudesse editá-la por aqui. Tal sentiu a força de Mequinho certa vez.Morreu sem poder dar o revide. Mequinho criou variante para a Índia de Rei. Jogou muito. Abs. Zirpoli
ResponderExcluirMecking poderia ter vencido o torneio dos candidatos e enfrentado Karpov em 1978. Um enxadrista que consegue vencer dois interzonais (Petrópolis e Manila) tem de ser muito forte. Em 2011, o grande Viktor Korchnoi (recentemente falecido) em entrevista à revista New in Chess(*) teceu grandes elogios ao brasileiro, equiparando-o a Mikhail Tal e Magnus Carlsen "pela tremenda força de vontade e capacidade hipnótica sobre seus adversários".
ResponderExcluir(*)Fonte:Reino de Caíssa.
Mecking poderia ter vencido o torneio dos candidatos e enfrentado Karpov em 1978. Um enxadrista que consegue vencer dois interzonais (Petrópolis e Manila) tem de ser muito forte. Em 2011, o grande Viktor Korchnoi (recentemente falecido) em entrevista à revista New in Chess(*) teceu grandes elogios ao brasileiro, equiparando-o a Mikhail Tal e Magnus Carlsen "pela tremenda força de vontade e capacidade hipnótica sobre seus adversários".
ResponderExcluir(*)Fonte:Reino de Caíssa.
Dos grande enxadristas brasileiros, Mecking, foi sem sombras de dúvidas o melhor e mais preparado, todavia doença que lhe acometeu, o deixou debilitado e só o fato de ter ameaçado vencer o Lendário Bob Fscher e não ter perdido a partida, já foi para ele um grande trufo no cenário enxadrista mundial e tem que ser reverenciado e respeitado.
ResponderExcluirConheci Mequinho em S. Lourenço do Sul quando ele, com oito anos, dava os primeiros passos no jogo de xadrez. Lá se encontravam reunidos para conhecê-lo os melhores jogadores de Pelotas e Porto Alegre, dentre eles Pio Azevedo, saudoso campeão estadual de então. Depois acompanhei seu notável progresso em Pelotas, onde ele sagrou-se campeão estadual. Lembro-me dele escorregando pelo corrimão da grande escadaria do Clube Caixeral dessa cidade, enquanto seus adversários pensavam para responder a seus lances.
ResponderExcluirNessa partida, mesmo com a posição consolidada,por Fischer, depois do susto, Mecking tinha grandes chances de vencê-lo, de acordo com as posições das peças brancas no tabuleiro.É certo que ganharia ou outro grande mestre também, com as mesma situação. Penso que Fischer percebeu essa situação e forçou o empate e Mecking precipitadamente aceitou sem analisar com mais profundidade sua possível vitória.
ResponderExcluirPresunção e arrogância não ganham um jogo. Bobby era o que era não pelo o que falava mas pelo o que fazia (só Fischer sabia o que ele passou pra chegar onde chegou). Parabéns ao Mequinho que se superou nesse jogo,parabéns ao Bobby que fez mais um grande jogo entre os muitos que fez.
ResponderExcluir