Por Rewbenio Frota
Nos grupos de
discussão sobre xadrez, há somente um assunto que se intromete algumas vezes: o
futebol!
Claro, estamos no
Brasil, que, pelo menos até o 7 x 1, era considerado o ‘País do Futebol’.
Assim, não é de se estranhar que, em meio a comentários de torneios, problemas
de mate em três e outros assuntos típicos do meio enxadrístico, apareçam
provocações futebolísticas (ainda que rapidamente censuradas pelo administrador
do grupo, que levanta um cartão amarelo).
Num dos grupos,
apareceu um jogador que também é árbitro de xadrez e de futebol! Foi o
suficiente para aparecer uma pergunta sobre a eterna polêmica entre ‘mão na
bola’ x ‘bola na mão’. Ao ler a excelente explicação do colega, pensei numa
analogia com o xadrez: ‘mão na bola’ é
‘peça tocada, peça jogada!’, mas ‘bola na mão’ é ‘j’adoube!’.
Haveria mais alguma
analogia? Fiquei pensando depois (certamente eu não fui o primeiro). Se o xadrez
é a vida em miniatura e o futebol é uma caixinha de surpresas, poderia
encontrar mais coisas em comum.
Os esquemas táticos
podem ser comparados às aberturas: o 1-2-7 é o Gambito do Rei, o 4-4-2 é a Ruy
Lopez, o “Carrossel Holandês” é o Ataque Fegatello, o 4-5-1 é o Sistema London;
e por aí vai.
Há também clara
analogia entre as peças no tabuleiro e as posições dos jogadores em campo: os
peões são a zaga, os cavalos são os volantes, as torres os laterais, os bispos
jogam no meio-campo e a dama é a artilheira. O rei, claro, fica no gol! Até o
enxadrista tem lugar na analogia: ele é o técnico da equipe (mas, graças a Deus,
é bem menos xingado).
Se tem uma coisa que
não deu para comparar entre xadrez e futebol foi a torcida. Neste quesito são
diametralmente opostos: em campo são numerosos e barulhentos torcedores; ao
redor do tabuleiro, quando muito, se reúnem alguns silenciosos perus (mães,
namoradas, namorados e afins não costumam aparecer).
Mas quando o assunto
é quem foi melhor do que quem, aí fica tudo parecido de novo! Esses dias, num
grupo, voltou a eterna polêmica: quem foi melhor, Fischer ou Kasparov (ou
outro)? Apaixonadas razões foram levantadas por fãs incansáveis de um e do
outro, fatos citados, especulações lançadas, números debulhados! Mas a polêmica
nunca termina. Aí eu lembrei do futebol de novo: Fischer é Pelé, Kasparov é
Maradona!
Pra quê?
Alguns protestaram,
pediram pra trocar os pares da comparação, outros falaram de Neymar, Zico, Di
Stéfano, Puskas, Leônidas e até Biro Biro! La Bourdonnais foi comparado a Garrincha, o
injustiçado, num dos poucos momentos de concordância.
Alguém perguntou,
malicioso: “Se Kasparov é Maradona, qual foi o gol de mão?”. Lembrei, então, do
episódio contra Judit Polgar, quando ele soltou
a peça e depois voltou seu lance; mas fez tudo isso com sua própria mão, jamais
a de Deus!
Assim, do nada,
percebi que se quiser, posso passar horas falando de semelhanças entre os
jogos: perder um pênalti é como não ver um mate em um, o impedimento é
semelhante a quando uma peça está cravada, a grande área é a ala do rei, os
peões protegendo o rei no roque são a barreira das faltas etc.
São tantas semelhanças
que talvez até fosse pertinente, numa licença poética, alterar a frase célebre de Tarrasch: o xadrez, como o
amor, como a música, como o futebol, tem o poder de fazer os homens felizes!