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Kasparov - Doctor Honoris Causa da Universidade de Saint Louis (Foto: Chessbase) |
Assim questionou Kasparov no seu discurso para jovens graduandos, quando ele foi agraciado com o título de Doctor Honoris Causa, no mês passado, pela Universidade de Saint Louis, em Missouri (EUA), cidade que vem se mostrando uma parceira generosa do xadrez, com eventos como o Sinquefield Cup e o recente match de Kasparov contra Short, num breve e bem sucedido retorno aos tabuleiros do ex-campeão mundial.
Eis o trecho em que Kasparov lança sua desconcertante indagação:
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“Quando ganhei o
campeonato mundial em 1985, eu tinha 22 anos e foi o maior dia da minha vida.
Eu imagino que, hoje, é esta a sensação para muitos de vocês. Você é jovem,
você é forte, e você tem um objetivo de longo prazo em suas mãos. Nesse dia, em
1985, aconteceu uma coisa estranha. Eu estava ali, de pé no palco, ainda com as
minhas flores e medalha, a pessoa mais feliz do mundo... Quando fui abordado
por Rona Petrosian, a viúva de um ex-campeão mundial dos anos 60, Tigran
Petrosian.
Eu estava esperando
os mais fervorosos parabéns, mas ela tinha outra coisa em mente: ‘Jovem, eu
sinto pena de você’ Ela disse. O quê? Pena de mim? Pena de mim? O mais jovem
campeão mundial da história, no topo do mundo? ‘Eu sinto pena de você’, ela
continuou, ‘porque o dia mais feliz da sua vida acabou’ Uau, eu não podia
acreditar! Mas, quando eu superei meu choque comecei a me perguntar: e se ela
estiver certa? E embora eu não tivesse pensado mais sobre isso no dia da
comemoração, vim a perceber que Rona Petrosian tinha me dado uma nova meta de
vida: provar que ela estava errada! Agora eu percebo que ela me fez um favor
naquele dia e, por isso, pergunto a vocês: E se o dia mais feliz de sua vida
acabar?"
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E sua reflexão faz mesmo sentido, quando se olha para sua história de vida.
Sua energia vital não esmaeceu após conseguir o ápice de sua profissão, sagrando-se campeão mundial em 1985 e mantendo-se no topo por 15 anos, quando passou a coroa do xadrez mundial para Kramnik em 2000, vindo a se aposentar das competições em 2005.
Kasparov, a partir de então, traçou objetivos pessoais para seguir motivado em busca de outras conquistas grandiosas em sua vida, mostrando-se um sujeito vivaz e eloquente em todas as suas aparições públicas. Ainda no universo caissiano, criou a Fundação Kasparov e viajou pelo mundo, disseminando sua iniciativa de promoção do xadrez. Enveredando pela política lançou-se, outrora, como feroz opositor ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que o levou até mesmo ao cárcere em 2012.
E apesar do poder do adversário, Kasparov segue altivo, como se nota no lançamento em breve do seu livro Winter is Coming (O inverno está chegando), onde mostra, no seu entender, as ameaças que Putin e "os inimigos" representam para o mundo livre.
O ex-campeão mundial também procurou exercer sua liderança na cúpula do xadrez internacional, quando lançou-se candidato à presidência da FIDE, no ano passado, mas não logrou êxito. Não se duvide que ele persista no seu propósito de comandar a entidade máxima do nobre jogo
Como se nota, o incansável "Ogro de Bakú" segue sua receita de continuar buscando seus sonhos, acreditando que o dia mais feliz de sua vida pode ser uma eterna construção, traduzindo mais no caminhar, do que exatamente no ponto de chegada!
Que fiquemos então com essa lição do nosso eterno campeão mundial...
Veja nos links abaixo outras matérias sobre o discurso de Kasparov em Saint Louis: