sexta-feira, 28 de agosto de 2020

O Voo do Capivara - “Tablas?”

1.e4

1.d4

O Salão Nobre do Clube Internacional do Recife estava apinhado de gente. Percebia-se a expectativa criada. Um frenesi contido. A imprensa registrava tudo daquele momento histórico para o xadrez pernambucano.

No centro do salão, formou-se um retângulo com 30 mesas. No seu interior, a imponente figura do Campeão Mundial Boris Spassky (1969/1972) se aproximava do meu tabuleiro.

1.e4

1.d4

Então, ele parou à minha frente, me cumprimentou, deu seu lance...

1.e4

e seguiu o seu caminho, sempre revezando os lances iniciais. Eu tinha o tempo equivalente a 29 passos para decidir o que jogar.

Eu (primeiro à esquerda da foto, com a mão no rosto). Jarbas Belens, Diosman Marinho e Fernando Daher na sequência.

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Só por esse momento, já teria valido a pena ter participado da simultânea que ele deu em 1978. Era uma grande honra enfrentar aquela figura icônica do xadrez mundial. O resultado da partida era o que menos importava. Já era uma vitória estar ali.

Aliás, tive de passar por uma pequena odisseia para conseguir jogar. Primeiro, para conseguir uma vaga, pois o evento despertou grande interesse, inclusive de enxadristas de outros estados. Mas, como eu era um assíduo sócio do Clube de Xadrez do Recife, fui um dos primeiros a tomar conhecimento da simultânea. Busquei logo garantir a minha participação.

Com a presença assegurada, a questão então era levantar o dinheiro para pagar a inscrição. Note que tive de recorrer ao velho e bom fiado, pois o valor não cabia no orçamento da minha mesada. Teria de recorrer a meu pai, que , à essa altura, já andava preocupado com minha exagerada dedicação ao xadrez. Não lembro dos argumentos que utilizei, mas, como visto, foram convincentes.

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Voltemos ao jogo.

Naquela época, eu era aficionado da Defesa Francesa, mas decidi jogar a Pirc, com a qual não tinha familiaridade. Não me recordo qual foi o motivo. Se foi uma decisão de momento, se fiz alguma preparação específica para o evento ou, de repente, vai ver, eu quis “surpreender” Boris Spassky...

Ops! Peço vênia, meu sisudo leitor. Não leve muito à sério essa última hipótese.

O jogo enveredou pela nada surpreendente variante Clássica da Pirc. Lá pelas tantas, Spassky jogou “d5”. Então, cuidei em providenciar o temático “f5”. Ocorreu uma liquidação de peças menores, restando no tabuleiro as damas e as torres, além de um bispo para cada.

Foi quando percebi uma manobra interessante. Mas é melhor você conferir a partida. Ela é curtinha.

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Boris Spassky x Marcello Urquiza

Recife (PE) – 29/11/1978

https://share.chessbase.com/SharedGames/share/?p=8akGdu0lPsg/DgzynqPNosaBWBo/ko6moMHezA4QuLGhagdgWN8CbVlp3rJy/Z7k 

1.e4 d6 2.d4 Cf6 3.Cc3 g6 4.Cf3 Bg7 5.Be2 0-0 6.0-0 Bg4 7.h3 Bf3 8.Bf3 e5 9.Be3 Cc6 10.d5 Ce7 11.g3 Cd7 12.Bg2 f5 13.Dd2 Cf6 14.exf5 Cf5 15.Ce4 Ce4 16.Be4 Ce3 17.De3 Dd2

Início de uma pequena manobra que, julguei, melhoraria a posição da dama. Ataque ao peão “h” para ganhar tempo.

Skassky respondeu “en passant”...

18.Rg2 Db5

Segundo passo da manobra. Outro ataque. Na verdade, um pseudoataque. Eu não estava interessado naquele peão.

Novamente, Spassky mal parou à minha frente. Respondeu rapidamente, protegendo o peão de “b”, e seguiu caminho...

19.b3 Db6

Fim da singela manobra. Entendi que a pressão exercida sobre o ponto “f2” praticamente obrigaria a troca das damas.

Dessa vez, ele estancou. Fez uma expressão de surpresa, pôs as mãos sobre a mesa, olhou para onde minha dama estava apontando, esboçou um leve sorriso e então...

- Tablas?”

Você conhece um super-herói chamado “The Flash”? Aquele que possui “supervelocidade”? Pois bem. Eu acho que o incorporei, tal foi a rapidez com que estiquei meu braço para cumprimentar o campeão!

20.Empate.

Posição final da partida. Dr. Fritz disse que as brancas não necessitavam trocar as damas e que, ademais, estavam com o jogo um pouco melhor. Mas eu não me importo com a opinião dele. A que vale é a de Spassky.

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- Ele vai voltar para assinar a súmula. Tire a fotografia no momento que nos cumprimentarmos. Preste atenção!”

Não verbalizei essa fala aí, não! Tinha de respeitar o silêncio. Só estou tentando traduzir a discreta gesticulação que fiz para um amigo. É que eu tinha comprado uma máquina fotográfica descartável da Kodak – naquele tempo tinha dessas coisas, viu? - e pedi para ele tirar as fotos.

E ele o fez. Eu tenho a fotografia do momento do aperto de mão, mas 27 anos é muito tempo. Esse foi o período em que estive afastado do xadrez. Ela deve estar em algum recôndito insuspeito aqui em casa.

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No dia seguinte, o Diário de Pernambuco estampou a notícia: “Paraibano venceu Spassky na grande noite do xadrez”.

Foi Expedito Medeiros, de Campina Grande, que venceu sua partida de forma brilhante. Mas meu nome também estava relacionado na matéria. Então, quando o jornal chegou lá em Bom Conselho, foi aquela repercussão. Um filho da terra tinha empatado com um campeão mundial de xadrez!

e foi assim que ganhei os meus 15 minutos de fama.

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Resultado final da simultânea:

  • 21 vitórias

  • 08 empates

  • 01 derrota.






quarta-feira, 26 de agosto de 2020

FPBX cancela o Mem. Bobby Fischer de 2020

A Federação Paraibana de Xadrez (FPBX) comunica aos enxadristas em geral que, por deliberação de sua Diretoria, resolveu cancelar o XI Aberto do Brasil – Memorial Bobby Fischer (XI MBF) que estava marcado para março do corrente ano e que fora adiado, em princípio para novembro próximo, em razão da pandemia do coronavírus.

A decisão decorre da permanência do quadro de incertezas associado à pandemia, notadamente em razão da ausência de uma vacina no curtíssimo prazo, que pudesse conter o vírus até a nova data que foi pré-agendada para o evento. Ao contrário, o que se observa, no atual momento, a menos de 3 meses do que seria a realização do torneio, é a manutenção da gravidade do contexto sanitário, com a persistência da média diária de cerca de mil óbitos no país, provocado pelo covid-19.

Diante de tal cenário, não restou outra alternativa à FPBX senão a de cancelar em definitivo o XI MBF em 2020, a fim de preservar a saúde dos enxadristas e de seus familiares, bem como para evitar o provável esvaziamento do torneio, ante o previsível e fundamentado receio da maioria dos jogadores, já sinalizado por alguns deles mais próximos, em participar do evento diante desse sentimento de temor e de incertezas.

Vale dizer, por outro lado, que fica resguardada a possibilidade da realização desta edição do MBF, em 2021, em data a ser ainda definida, no caso do restabelecimento da normalidade sanitária no país.

Os jogadores que já estavam inscritos no XI MBF poderão requerer, a qualquer tempo, a devolução do valor da sua inscrição, pelos mesmos canais utilizados no ato da inscrição. Aqueles que não o fizerem, seguirão, porém, com a inscrição garantida para a edição desse torneio que vier a ser realizada no próximo ano.

No tocante às reservas de hospedagem já realizadas no local do evento, as mesmas estarão asseguradas para o próximo MBF que vier a ser realizado, em data ainda indefinida, nos termos da legislação vigente, e segundo informações obtidas junto à gerência do Littoral Hotel, condição essa que deverá ser confirmada diretamente pelos interessados junto ao Hotel, por meio do número de contato contido no Regulamento do evento (disponível ao lado).

No mais, a direção do torneio coloca-se à disposição dos interessados, nos canais disponibilizados pelo Regulamento do Torneio (link na coluna ao lado do blog), para outros esclarecimentos que se fizerem necessários.


Diretoria de FPBX

Agosto /2020

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O invisível "Carrapato" e outra história

Oba! Hoje a colaboração veio em dose dupla.

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Antes, um pequeno anúncio.

O Professor Piskator, do Recife, vem realizando uma série de entrevistas. Elas estão disponíveis no seu canal do “youtube”. São várias personalidades do xadrez nacional. Mestres, professores e até capivaras, como esse que vos escreve.

A entrevista que concedi está no link abaixo. Dê olhada. 

https://www.youtube.com/watch?v=mchvSMcV8oc&list=PLYztL0gvVNq_tVoaJWYZgcMRwDCu0mByQ&index=7

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Agora, apreciem os textos. Eles são “gostosos” de ler.

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"IDIOT!  IDIOT!"

 Por Leo Mano (*)


Quando se está num país distante, como a Rússia, é uma grande emoção quando você percebe que começa a se familiarizar com o idioma local.

Visitando uma loja de artesanato típico, haviam centenas de jogos de xadrez expostos sobre bancadas. Você precisava caminhar entre elas através de um estreito corredor que não lhe permitia enxergar o chão.

Eis que havia um degrau... eis que meu pé "catou cavaca"... eis que meus braços batiam no ar como um passarinho... fui tombando para a frente, sem ter onde me agarrar.

Depois de um estrondo gigantesco, me vi desabado ao chão, numa área devastada, no centro de uma cratera de impacto. Ainda com os olhos fechados e as mãos na cabeça, senti uma picada na nuca...

Depois outra, mais uma, várias picadas, até perceber que eram peões, cavalos e torres se rendendo à força da gravidade e retornando à Terra... caindo sobre mim, preenchendo a cratera com escombros, tabuleiros e peças.

Depois que a chuva parou, veio o silêncio. Silêncio total!

Silêncio que durou apenas o tempo que a dona da loja precisou para se recuperar. Tão logo o ar lhe veio aos pulmões, começou a berrar:

" - IDIOT! IDIOT!"

Me senti um nativo moscovita! Como se tivesse nascido e vivido a vida inteira às margens do Rio Moscou! Eu entendia perfeitamente o que a dona da loja dizia. Mas preferi não puxar assunto. Me levantei e saí correndo, pulando de alegria e felicidade.

(*) Leo Mano - Fotógrafo e enxadrista, carioca)


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O invisível “Carrapato”

Por Joaquim de Deus Filho


A irresistível atração do abismo.” (A. Pushkin)

Pushkin, "Carrapato" e Tartakower... quem diria!

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E mais dois Grandes Mestres latino-americanos em plena forma.

O condutor das brancas passa hoje por grande momento, sendo Campeão Ibero-americano ao vivo e online. O colosso venezuelano, Eduardo Iturrizaga. Seu adversário, Alexis Cabrera, cubano que, à época,  representava a Colômbia , e que hora joga pela Espanha.

Ambos são ótimos professores e têm canal disputadíssimo no "youtube".

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Eduardo Iturrizaga x Alexis Cabrera

Abierto de Villa de Benidorm", Espanha, 2008.

O diagrama abaixo mostra a posição da partida jogada na sétima rodada.


Como bem comenta Cabrera, os finais de torre têm "una naturaleza insospechablemente compleja"...

Itu joga:

60. Rh7??   Tg7+!!

Pronto, aqui está o bonito, inesperado e monumental "Carrapato". A torre não pode ser capturada, pelo afogamento. Evidente, não?

Seguiu:

61.Rh6  Tg1??

Como assim? As pretas acharam o recurso milagroso – "Carrapato" - e jogam fora?

62.c6?? ...

Incrível! O portentoso GM campeão panamericano não se dá conta, também, do "Carrapato"!

62.... Tg2??

Inacreditável! Conforme comentou o grande professor Cabrera, na "Jaque", junho 2008, "...Cómo es possible? Creo que todos los que estaban observando la partida pudieron apreciar la salvación menos yo...".

Enfim, Itu venceu a decisiva partida, para dividir o título posteriormente:

63.Tc8 Re7    64.Rh7 Rf7    65.c7 Tg5     66.h6 Tc5     67.Tg8 Tc7     68.Tg7 … 1-0

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Como explicação final, Cabrera comenta da baixa motivação causada por uma desesperada posição: "debemos estar siempre alertas!" .

Sim, como bem lembrou o perspicaz S.Tartakower: "Os erros estão aí para serem cometidos!"

Ojo!!”



quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Equipe paulista vence a Copa do Brasil

 A equipe Xadrez na Rua – SP , com 355 pontos, foi a grande vencedora da Copa do Brasil. A final foi jogada nessa terça-feira. O time de Santa Catarina – Team SC Jovens – conquistou o vice-campeonato.

A disputa pelo terceiro lugar, entre a equipe paraibana e a norte riograndense, foi acirrada. Mas a Equipe LBX-RN, que sempre esteve à frente do placar, levou a melhor e subiu ao pódio como terceiro lugar.

Confirma o quadro da geral da classificação.


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A equipe paraibana, como sempre, mostrou seu espírito de luta e está de parabéns pela grande campanha. Congratulamo-nos, também, com cada um dos que participaram. A mobilização foi bonita demais!

Veja como foram alguns desempenhos individuais na última etapa, com destaque para Rafaell Montenegro.



quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Paraíba na final da Copa do Brasil!

 

♫   Paraíba masculina

              Muié macho, sim sinhô   ♫


A música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira retrata outros contextos históricos do Estado da Paraíba, mas serve para enaltecer o feito heroico da equipe paraibana.

Com 331 pontos, a Paraíba obteve o 3º lugar na semifinal da Copa do Brasil e está classificada para a grande final da competição.

Outros estados da Região Nordeste também tiveram participação destacada na etapa jogada nessa terça-feira. O Rio Grande do Norte se classificou na 4ª colocação, e o Ceará esteve na disputa de uma das vagas até os segundos finais da competição.

Aliás, a disputa entre essas três equipes nordestinas foi acirrada: somente 08 pontos separaram o 3º do 5º lugar.

Já as equipes de Santa Catarina, com 388 pontos, e de São Paulo, com 387, garantiram suas vagas com mais tranquilidade.

A grande final será disputada na próxima terça-feira, 18/08/2020, a partir da 21:00h, entre as 04 equipes melhores classificadas.

Confira a classificação geral da etapa.



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A equipe paraibana entrou completa em “campo” e, de novo, demonstrou que sua força está no conjunto. Houve mais um revezamento na atuação de destaque, que, desta vez , coube a Nilo Neto, com 44 pontos.

Veja como foram outros desempenhos individuais no quadro abaixo. Lembrando que, apesar de apenas os dez primeiros pontuarem, todos tem importância para a equipe, pois podem tirar pontos dos outros times.



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sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Desventuras de um Capivara – Um golpe de misericórdia

Como foi seu primeiro contato com o xadrez? Alguns responderão que foi na escola; outros, que aprenderam com o pai; mais alguns, vendo outras pessoas jogarem. São inúmeros, os desígnios do destino.

O meu foi engraçado, literalmente. Pois, foi através de Renato Aragão e sua trupe. Em 1972, Os Trapalhões criaram um quadro para parodiar as polêmicas que Bobby Fischer provocava durante o match contra Spasski. Além de achar graça, aquilo despertou minha curiosidade. Que jogo era aquele? Tinha 11 anos e já gostava de jogar damas com meu pai.

Mas aquela semente teve de ficar adormecida, pois, morando em Bom Conselho, no interior de Pernambuco, não conhecia ninguém que jogasse. Até que, lendo um livro, encontrei um encarte que anunciava uma promoção. Quem comprasse o item anunciado, ganharia um jogo de xadrez. Não tive dúvidas. E, alguns dias depois, recebi a encomenda. Um pequeno tabuleiro em papelão, com as imagens das peças impressas em círculos também de papelão e, para completar, um manual com as regras do jogo. Para os olhos apaixonados daquele garoto, eles pareciam lindos!

E lá fui eu, sozinho, tentar decifrar aquele emaranhado de informações. Mas, sem nenhuma interação com outros jogadores, o progresso era limitado.

Certo dia, folheando a revista Manchete, da qual minha mãe era assinante, me deparei com uma coluna de xadrez, escrita por Valério Andrade. Que grande achado! De imediato, resgatei todas as edições anteriores ainda guardadas. Cortei-as e colei-as num caderno. Esse foi o meu primeiro contato com o xadrez magistral. Depois, fui acrescentando colunas de outros autores, como as de Herman Claudius, Alexandru Segal e de Herbert Carvalho. Ainda guardo esse caderno, com muito carinho. Quem nunca teve um?


Através de uma dessas colunas, descobri a existência do Clube de Xadrez Epistolar Brasileiro – CXEB. E, assim, passei, finalmente, a jogar xadrez. Só que por correspondência. Mas aí cabe outro “causo”, que deixarei para contar depois.

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Em 1977, meus pais resolveram nos mandar para Recife. Eu e meu irmão mais velho. Estávamos no ensino médio e precisávamos nos preparar para o vestibular. Fomos matriculados no tradicional Colégio Nóbrega.

Por obra e graça de Caíssa, era o mesmo colégio onde estudava Flavio Daher. Jovem e talentoso jogador pernambucano. Tinha participado da final do campeonato brasileiro de 1976, em João Pessoa (PB).

Através dele, fui apresentado à comunidade enxadrística local e passei a participar ativamente dos eventos organizados no Clube de Xadrez do Recife. Tenho na memória, e nas planilhas arquivadas, os nomes de muitos com os quais tive a satisfação de conviver.

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Em 1978, integrei a equipe que jogaria os Jogos Estudantis Brasileiros, em Natal (RN). O time também contava com Flávio Daher. Não me recordo dos nomes dos demais jogadores. Se você, caro leitor, for um deles, faça um comentário e me ajude a recompor esse quadro.

Tinha um outro integrante, do qual só fui me lembrar recentemente. Conversando com Marden, meu irmão mais novo, ele se saiu com essa pergunta: “- E aquele cara, que abria um coco apenas com um golpe do dedo indicador?”.

Poxa vida! Era o nosso técnico, Ives Mayal. O moço era carateca. A espessura de seus dedos era assustadora, mas essa história de abrir coco era dita por meus colegas. Ele apenas sorria. Logo a mim, que vivia assistindo filmes de Bruce Lee, no Cine Brasília, lá em Bom Conselho. Fiquei encantado com tudo aquilo. Ah, a ingenuidade juvenil!

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Seguimos para Natal. Lá, resolveu-se que Flávio jogaria no segundo tabuleiro. Uma estratégia comum, mas que também tem seus riscos. O jogador mais forte em tabuleiro inferior, para amealhar uma maior quantidade de pontos; e o jogador que ocuparia o seu lugar, ficaria encarregado de arrancar uns pontinhos dos jogadores mais fortes das outras equipes. E lá fui eu, ocupar o primeiro tabuleiro.

Concluída a penúltima rodada, meu desempenho era de uma vitória, dois empates e duas derrotas. Estava razoável, em face da estratégia traçada pela equipe.

Àquela altura, o Estado de São Paulo liderava a competição com folga. A memória me falha em relação a quem ocupava o segundo lugar. Mas a disputa pelo terceiro estava acirrada. A Paraíba estava apenas meio ponto à frente de Pernambuco.

Corremos para o alojamento e, avidamente, nos pusemos a fazer os cálculos. Chegamos à conclusão de que, se conseguíssemos tirar aquela desvantagem, a medalha de bronze seria nossa, pois estávamos melhor nos critérios de desempate.

E assim seguiu. A Paraíba enfrentaria o Rio de Janeiro, e Pernambuco tinha o Rio Grande do Norte pela frente. Joguei contra Maurício Bezerra Noronha. 

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Maurício Bezerra Noronha x Marcello Urquiza

Natal (RN) – 13/07/1978

https://share.chessbase.com/SharedGames/share/?p=XR6fInEPlmIPGkEBDXbgrSUdrZNh4c9irjJ5M8qXPpurqV91/dGvbtW1yN4Wre7F

1.Cf3 d5 2.c4 Cf6 3.b3 Bf5 4.g3 e6 5.Bb2 h6 6.Bg2 Be7 7.0-0 Cbd7 8.Te1 0-0 9.d4 Ce4 10.Cfd2 Cdf6 11.Ce4 Ce4 12.f3 Cf6 13.e4 dxe4 14.fxe4 Bg4 15.Dc1 c6 16.Df4 Bh5 17.a3 Db6 18.De3 Cg4 19.Dc3

Acredito que, mesmo se você der apenas uma olhada rápida nessa posição, verá que ela tem um “cheirinho de tática”. A diagonal g1-a7 é débil, o peão de “d4” está sujeito a uma cravada e, por conseguinte, o rei branco está numa posição perigosa.

Recordo que percebi essa situação, mas não encontrei um jeito de explorá-la. Não vou me recriminar por isso, mas havia um caminho. Veja o que Dr. Fritz indicou:

19.... e5 20.b4 c5! (Veja que lance magnífico. O peão de “d” continua paralisado). Por exemplo:

- Se 21.d5 ou dxe5, então cxb4+, ganhando a dama.

- Se 21.dxc5 ou bxc5, 21.... Bc5, seguido de Dc5+, com posição ganhadora.

19.... Tad8 20.c5 Dc7 21.d5 Bf6 22.e5 Be5 23.Te5 De5 24.De5 Ce5 25.Be5


A posição só me oferece duas alternativas: exd5 ou cxd5. Em ambos os casos, as pretas ficariam com torre e dois peões por duas peças menores.

Com 25.... exd5, as pretas ficariam com uma posição sem debilidades e com a coluna “e” para suas torres. Seria uma posição muito difícil de ganhar, mas também muito difícil de perder. Lembrando que meio ponto ajudaria bastante a equipe.

Mas avaliei que os dois peões centrais passados me daria chance de vitória. Se não me recriminei antes, foi porque entendei que o lance 20.... c5 era muito difícil. Estava acima da minha capacidade técnica.

Mas agora, não! Ter optado por 25.... cxd5 foi uma capivarada grotesca. Veja o porquê: permite a formação de uma maioria de peões na ala da dama para as brancas, meus peões centrais eram facilmente bloqueáveis e, para piorar, minhas torres não ficaram com uma coluna sequer para trabalhar.  

No afã juvenil de sempre querer ganhar, eu renunciei a qualquer jogo ativo. Se bem que já não sou tão jovem, mas esse ímpeto ainda persevera.

25.... cxd5 26.Bd6 Tfe8

Teria sido melhor 26.... Td6, mas aí seria reconhecer que 25.... cxd5 foi um erro. Ainda era muito cedo para perceber.

27.Cc3 a6 28.Ca4 Bg6 29.Cc3 Bc2 30.b4 f5 31.Ta2 Be4 32.Ce4 fxe4 33.Rf2


À essa altura, as demais partidas tinham terminado ou estavam em vias de acabar. E tudo indicava que a diferença de meio ponto para a Paraíba se manteria. Ou seja, a responsabilidade pela conquista da medalha caiu no meu colo. Bastaria o empate.

Então, como você jogaria esse posição, caso estivesse com as pretas? As brancas estão com o jogo bem melhor, sem dúvidas.

Como não tinha nenhuma possibilidade de jogo ativo, creio que a melhor opção seria fazer jogadas de espera. Aguardar as ações das brancas. E contar com algum erro, a fim de salvar a partida.

Mas a impaciência, o ímpeto que querer fazer alguma coisa, me fez cometer a última bobagem.

33.... e5 34.Td2 d4 35.Be4 b6 36.Bg6 Te6 37.Be4 bxc5 38.bxc5 Tf6+ 39.Re2 Te8 40.Tb2 Rf7 41.Tb6 a5 42.Ta6...

O restante da partida carece de interesse. Foi só esperneio. Abandonei no 49º lance.

*******

Partida terminada, fui ao terraço, que era anexo ao salão de jogos, e me pus a olhar, não para belas vistas da capital potiguar, mas para o vazio. Estava a ruminar aquela sofrida derrota e a oportunidade perdida de ficar no pódio de uma competição de nível nacional.

Então, Ives se aproximou e deu um golpe de misericórdia naquele lutador, que já estava cambaleante:

“ - Você viu o tamanho das medalhas?”

Aí, aí, aí... isso não se faz. Elas eram maravilhosas! Tinham o diâmetro de um pires. Fui à lona. Só consegui dizer:

“ - É. Eu também queria uma.”



quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Equipe paraibana classificada para a 2ª fase da Copa do Brasil

A Copa do Brasil é uma competição online, jogada na plataforma Lichess, com 3 fases eliminatórias. A primeira foi disputada nesta terça-feira e contou com a participação de 21 equipes, divididas em 3 grupos. As 3 primeiras colocadas de cada grupo, junto com a melhor 4ª colocada, participarão da segunda etapa.

A equipe paraibana obteve o 3º lugar do grupo 1, numa disputa acirrada com os estados de Minas Gerais e da Bahia. Confira a classificação do grupo no quadro abaixo:

Desta vez, a atuação de destaque ficou por conta de Fagner Lima, com 38 pontos. Confira outros desempenhos individuais abaixo. Lembrando que, apesar de apenas os dez primeiros pontuarem, todos tem importância para a equipe, pois podem tirar pontos dos outros times.

As equipes que disputarão a próxima fase serão as seguintes:



EQUIPE

GRUPO

COLOCAÇÃO NO GRUPO

PONTOS

1

Paraná Team

3

374

2

Team SC Jovens

3

353

3

RIO DE JANEIRO – OFICIAL

2

350

4

Xadrez de Rua – SP

1

337

5

Equipe LBX-RN

3

321

6

EQUIPE TOP BAHIA

1

307

7

Equipe Pernambuco

2

303

8

Clube-Online Xadrez Goiano

2

296

9

Paraibanos Nativos para Batalhas

1

294

10

Elite Cearense (FCX) *

2

285

(*) Melhor quarto lugar.

*******

Essas 10 equipes disputarão uma batalha classificatória no dia 11/08/2020. Daí sairão as 4 melhores, que jogarão a grande final em 18/08/2020.

Acompanhem!


terça-feira, 4 de agosto de 2020

FEDERAÇÃO CEARENSE DE XADREZ - COMUNICADO

FEDERAÇÃO CEARENSE DE XADREZ    -    COMUNICADO

Caros enxadristas,

Em virtude do prolongamento da situação anormal em que se encontra nosso país, nos sentimos obrigados a cancelar todos os torneios presenciais de âmbito interestadual previstos para esse ano e reprogramá-los para 2021.

Ainda estão em vigor muitas restrições ao livre deslocamento das pessoas, com distanciamentos mínimos exigidos por lei, o que impossibilita a prática do xadrez presencial. 
(Não há como se jogar partidas ao vivo com 1,5m de distância entre os jogadores)  

Além disso, há muitos voos sendo cancelados em cima da hora, o que causaria um transtorno enorme aos participantes de outros estados.

Assim, decidimos realizar um Festival Norte-Nordeste de Xadrez ainda maior, aproveitando o feriado de Tiradentes, entre 17 e 25 de abril de 2021.

A premiação total prevista é de R$ 17.000,00.

Será composto por sete eventos:

Campeonato Regional Nordeste de Xadrez – 2021
Campeonato N-NE Amador 2021 (Cinco categorias)
Campeonato N-NE Sênior 2021 (Duas categorias)
Campeonato N-NE Absoluto Blitz 2021
Campeonato N-NE Duplas Blitz 2021

Palestra com GM convidado

Simultânea com GM convidado
 
*** 

Cronograma:

1 - Campeonato N-NE Sênior 2021
     Suíço em 5 rodadas
     De 17 de abril a 20 de abril de 2021.
    
Categorias:

     +50
     +65
 
Declara o campeão Norte-Nordeste Sênior 50+
Declara o campeão Norte-Nordeste Sênior 65+
Concede o título de Mestre Nacional – MN ao campeão de cada uma das respectivas categorias.
 
2 - Campeonato Regional Nordeste de Xadrez – 2021
Suíço em 7 rodadas
De 17 de abril a 21 de abril de 2021.

Classificará 1 (um) jogador para a fase final do Campeonato Brasileiro Absoluto (intransferível) e 04 (quatro) jogadores para a respectiva Semifinal (com substituição conforme ordem de classificação).  

O Torneio é aberto a todos, que concorrem aos prêmios em efetivo, porém classificará
apenas os jogadores da região Nordeste.

3 - Campeonato N-NE Amador 2021
     Suíço em 6 rodadas
De 21 de abril a 24 de abril de 2021.

Categorias:

          Sub-2200
          Sub-2000
          Sub-1800
          Sub-1600
          Sub-1400
 
Declara o campeão Norte-Nordeste sub 2200
Declara o campeão Norte-Nordeste sub 2000
Declara o campeão Norte-Nordeste sub 1800
Declara o campeão Norte-Nordeste sub 1600
Declara o campeão Norte-Nordeste sub 1400
Concede o título de Mestre Nacional – MN ao campeão de cada uma das respectivas categorias.
 

4 - Campeonato N-NE Absoluto Blitz 2021
22 de abril de 2021.

Declara o campeão Norte-Nordeste Blitz de 2021

 
5 – Palestra com GM convidado
23 de abril de 2021.

 
6 – Simultânea com GM convidado
24 de abril de 2021.

7 - Campeonato N-NE de Duplas Blitz 2021
25 de abril de 2021.

Declara a dupla campeã Norte-Nordeste Blitz de 2021

 

*** 

Todas as inscrições já feitas estão mantidas, mas quem optar pela desistência terá seu pagamento devolvido.

Em breve serão divulgados os folders detalhados dos torneios, incluindo as taxas de inscrição, premiações e as tarifas promocionais de hotéis.

Atenciosamente,

 

Ignacio Barreto – Presidente da Federação Cearense de Xadrez

sábado, 1 de agosto de 2020

O App de Xadrez de Milos para as crianças!

A Federação Paraibana de Xadrez recebeu nesta semana e-mail do GM Gilberto Milos, por meio do qual ele, que é um dos maiores nomes do xadrez nacional, divulga seu projeto de criação do App Chess Alphabet, cujo objetivo é, nos seus dizeres, "incentivar milhares de crianças a ingressarem em nosso querido 'Esporte da Mente'". Para aqueles que desejarem contribuir para que essa ideia prospere, é possível oferecer uma contribuição financeira e, a depender do valor, receber recompensas específicas. O App depois de lançado, será totalmente gratuito. Consulte este link e veja como participar. Desejamos sucesso ao nosso estimado GM, nessa valorosa empreitada!