domingo, 20 de junho de 2021

Darcy assusta os russos!

 Por Fernando Melo




O GM Darcy Lima (ELO 2516) tem uma passagem bastante curiosa na sua vida profissional de enxadrista. Todos nós sabemos que os russos são os melhores do mundo. É mesmo uma questão cultural. Não adianta questionar. Lembremos que em 1972, veio Bobby Fischer e tomou a coroa, deixando os russos atordoados. Atualmente o campeão do mundo não é russo. É da Noruega, mas isso não tira o mérito dos russos continuarem pontificando no tabuleiro mundial.

Nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2011, o GM Peter Svidler (ELO 2743 - 8 vezes campeão da Rússia) enfrentou o brasileiro, e a primeira partida terminou empatada. Até onde estou informado, o russo "suou" para não perder esse embate, já que teve um momento em que ficou inferior. O GM Alexander Grischuk, segundo de Svidler nessa Copa, chamou a atenção deste ,ao dizer que o ELO de Darcy não representava a força que ele tinha, que tivesse cuidado.  E na segunda partida, Svidler venceu e Darcy teve que voltar para o Brasil, com o melhor dos troféus: ter conquistado o respeito dos russos.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Bobby Fischer - O escudeiro de Caíssa



Quem desejar adquirir o livro O escudeiro de Caíssa, de autoria de Fernando Melo, de qualquer lugar do Brasil, pode enviar e-mail para samelojp@gmail.com, informando nome e endereço completo (com CEP), que retornaremos o contato, com instruções para que seja efetuado o pagamento no valor total de R$ 30,00 + custos de postagem.


Confira a seguir o prefácio do livro:

Tenho cá para mim que Fernando Melo está feliz, muito feliz, bastante feliz! Ele certamente haverá de perdoar esse plágio do seu jeito particular de descrever a intensidade de um adjetivo nos seus textos. É porque, só assim, para tentarmos capturar o sentimento que há de lhe ter dominado, após a conclusão dessa obra sobre o ex-campeão mundial de xadrez, o genial norte-americano Bobby Fischer!

E antes de explicar a razão dessa felicidade, devo primeiro dizer algo mais. Diz-se que o homem, na sua vida, deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro... Essa frase talvez permita interpretações das mais diversas, dentre as quais, provavelmente, aquela que a toma em seu sentido literal. E se assim fizermos, ao menos no que diz respeito a escrever um livro, Fernando Melo não teria ainda cumprido a sua missão entre nós, mesmo já tendo escrito, não apenas um, mais muitos outros livros, sobre temas dos mais diversos. Faltava um! Faltava um livro sobre xadrez! E, sobretudo, faltava um livro sobre Bobby Fischer!

Ele agora chega nas mãos dos leitores, notadamente do público enxadrístico, para se somar ao repertório de publicações de Fernando Melo, que, assim como fez nos seus romances, nos enredos policiais, nas biografias de personalidades paraibanas marcantes, traz seu estilo jornalístico livre, irreverente, que não se rende aos rigores de uma erudição indesejada.

Não é difícil perceber nas entrelinhas dos seus escritos, a paixão que o motiva! Fernando Melo é, sem dúvida, um sujeito movido pela paixão! Por isso mesmo, com a mesma energia intensa com que se dedica a um projeto, pode muito bem descartá-lo, sem cerimônia, se algo irrompe em seu caminho, trazendo-lhe frustração. Até mesmo o xadrez foi alvo das suas idas e vindas, mas a Deusa Caíssa, diligente, não desejou que um súdito assim, tão intensamente apaixonado pela sua nobre arte, dela se afastasse em definitivo.

E assim o xadrez, desde sempre, se fez, e se faz, presente na vida de Melo e de sua família, que além de mim, seu filho caçula, tem no seu primogênito Sílvio, meu irmão, e na sua dedicada esposa Ana, minha querida mãe, seguidores dessa magia do jogo dos reis, que tanto nos une e nos fascina! A “febre”, inclusive, não cessa! Melo haverá de ficar radiante ao ler estas linhas e saber que seus netos (meus filhos) já demonstram um notório interesse pelo xadrez, mais além do que o simples brincar! Daniel (10 anos) “quer ser Bobby Fischer” e Maria Rita (6 anos) “quer ser Judit Polgar” (indiscutivelmente a maior representante do xadrez feminino da história!).

Tal intensidade na vivência do xadrez ganhou especial força nos últimos oito anos, em função da criação, por Melo, do blog Reino de Caíssa, que, desde então, traz postagens quase que diárias sobre o universo das 64 casas, seja a nível local, nacional ou internacional. O endereço na internet já rompeu a casa de um milhão de visitantes desde o seu início em 2009 e é, certamente, um dos espaços sobre xadrez mais prestigiados na internet brasileira.

E sabe qual o tema mais recorrente de matérias no blog? Não seria difícil para o leitor curioso, numa breve pesquisa por lá, descobrir que o campeão de postagens é ele: Bobby Fischer! Até mesmo eu, que durante um certo período assumi a titularidade do blog (hoje Melo e eu dividimos a editoria da página) não me furtei, vez por outra, de reverenciar o eterno ex-campeão mundial americano, principalmente nos momentos de promover o principal evento do calendário enxadrístico da Paraíba, cujo nome, claro, não poderia ser outro: Memorial Bobby Fischer, também uma criação de Melo, que hoje tem status de Aberto do Brasil e desfruta de grande aceitação em todo o país (em 2017, o evento chega a sua 8ª edição).

Alguém pode estar pensando: ora, os filhos só celebram Bobby Fischer assim, influenciados pela paixão do pai por ele! Pode até ser, mas, no meu caso, tenho um precedente que me favorece. Numa família de vascaínos (meu pai, minha mãe e meu irmão), tive a sorte de sair flamenguista, o que mostra talvez um pouco de minha autenticidade!

Irreverências à parte, o fato é que não parece muito árduo notar em Fischer uma genialidade que lhe fez único! Se até mesmo nomes como Kasparov e Carlsen dão depoimentos nos quais podemos perceber, sem muito esforço, o reconhecimento de Fischer como o maior enxadrista de todos os tempos, parecem de menor relevância quaisquer opiniões em sentido diverso...

A propósito, mesmo conhecendo os grandes feitos de Fischer, não é raro encontrar-me impressionado novamente ao reler suas proezas, como, aliás, aconteceu quando lia este livro de Fernando Melo.

Confira você mesmo, leitor! Deguste as próximas páginas e se aperceba da grandeza de Bobby Fischer!

E não se preocupe, achando que vai encontrar passagens exaustivas sobre a vida do americano genial. Nota-se com facilidade que não foi o propósito de Fernando Melo escrever uma biografia completa do saudoso ex-campeão mundial. A obra está perfeitamente delimitada apenas naqueles que, para o autor, foram os momentos mais intensos da carreira enxadrística de Fischer, com ênfase maior no seu significado para o xadrez e menos tinta nas suas idiossincrasias ou personalidade polêmica.

Sob alguns títulos bem criativos, os capítulos retomam a campanha do americano em todos os torneios de relevo de que participou, amparados em uma investigação de cunho jornalístico, que buscou contribuições de alguns dos principais autores sobre Fischer.

Com números que realçam os seus feitos, reprodução de comentários de especialistas e jogadores da época (muitos dos quais seus rivais russos), além, é claro, de partidas célebres selecionadas de Fischer, o livro de Melo, na sua linguagem que lhe é peculiar, há de agradar ao seu público, quem sabe contribuindo para despertar neste também uma admiração especial por aquele que, estamos nós convencidos, foi o maior enxadrista da história!

Fernando Melo agora é autor, portanto, de um livro sobre Bobby Fischer, o Escudeiro de Caíssa! Eis aqui a razão de sua felicidade!

 

João Pessoa 26 de dezembro de 2016

 

Fernando Sá de Melo

Coeditor do Blog Reino de Caíssa

segunda-feira, 14 de junho de 2021

O Golpe da Loira Fatal

 Antes de passar ao “causo” que nos ocupa, necessito me justificar perante os leitores do Blog Reino de Caissa. Meus textos, apesar de abordar assuntos técnicos referentes ao xadrez, têm características de crônicas, pois busco sempre vinculá-los, numa abordagem bem humorada, a algum episódio que testemunhei ou do qual fiz parte.

Os cronistas se inspiram em pequenos episódios do dia a dia, dando-lhes um significado especial, para escrever seus textos. Longe de mim querer me incluir numa tão nobre categoria de artistas. Mas, a exemplo deles, retiro do cotidiano do xadrez os motivos para meus escritos. E, convenhamos, a vida vem andando devagar... E com justa razão. Essa pandemia sem fim nos obriga a reduzir o ritmo a fim de conter a proliferação do vírus. Da mesma forma acontece com o xadrez presencial. Os torneios são raros, motivo pelo qual não venho publicando com a regularidade que gostaria.

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São raros, mas acontecem. Vez por outra, participo de algum. Apesar da forte oposição da família. Desta vez foi o Aberto do Brasil de Araruama, no Rio de Janeiro. Embarquei para lá no dia 01/06 e fiquei hospedado no hotel onde os jogos seriam realizados. No dia seguinte, o MN Joca Dedeus me mandou uma mensagem perguntando se eu aceitaria dividir o apartamento com um amigo dele, que tinha ficado sem acomodação. “Sem problema, Mestre”, respondi.

Meu companheiro de quarto, carioca boa praça, tinha uma rotina bem definida: logo que acordava, ligava para a namorada, da cama mesmo. No intervalo entre as duas rodadas do dia, outra ligação. E, finalmente, antes de dormir, tinham a última conversa.

Era um chameguinho de lá, outro chameguinho de cá; ciumezinho de lá, ciumezinho de cá; saudade do lado de lá, saudade do lado de cá... Coisas de casal apaixonado. Já habituado com o teor das conversas, eu dava pouca atenção ao que se passava. Mas uma frase dita em uma dessas ligações despertou minha atenção.

- Olha, você está chorando porque quer atrair a atenção dos olhares masculinos. Esse é o golpe da loira fatal!”, disse meu companheiro de quarto, creio que para descontrair.

Opa!!”, pensei. Aquilo me fez lembrar de algo de tinha ocorrido na partida que joguei naquela tarde.

Deixo a interpretação do que aconteceu a seu cargo, caro leitor.

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Fotografia com minha simpática adversária. 

E antes que alguém pergunte de que se trata aquela garrafa que estava na outra mesa, já respondo: é uma garrafa de cerveja mesmo! A foto foi tirada no final da última rodada, e eu já estava comemorando minha participação em mais uma festa do xadrez brasileiro.

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Marcello Urquiza x Kim Garcia

Aberto do Brasil de Araruama

3ª rodada – 04/06/2021


Link da partida:

https://share.chessbase.com/SharedGames/share/?p=pABq8r9nOXgz/X55gsMIxvIutPEnr2gH/qj0ZLLuWJKpmVNUruIlOD3kDJmrp6n5

1.e4 c6 2.d4 d5 3.Cc3 dxe4 4.Cxe4 Bf5 5.Cg3 Bg6 6.h4 h6 7.Cf3 Cd7 8.h5 Bh7 9.Bd3 Bxd3 10.Dxd3 e6 11.Bf4 Da5+ 12.Bd2

Não nutro muita simpatia por essa linha da Caro Kann. Ela já foi exaustivamente estudada, e algumas de suas variantes teóricas chegam a ultrapassar vinte lances. Mas como não conhecia outra forma de enfrentá-la, então fui desse jeito mesmo.

12.... Bb4+

Uma novidade para mim.

13.c3 Be7 14.c4 Dc7 15.0-0-0 Cgf6 16.Rb1 0-0-0

Aqui o mais jogado é 16.... 0-0, o que me parece ser a razão do lance 12.... Bb4+, provocando o avanço do peão “c”. E então teríamos uma partida de roques opostos, com todas as complicações que envolvem esse tipo de posição.

17.Ce4 Cxe4 18.Dxe4 Cf6 19.De2 The8 20.Bc3 Cd7 21.Ce5 Tf8

Eu achava que após a troca dos cavalos, com 21.... Ce5 22.fxe5, as brancas teriam alguma vantagem devido ao maior espaço na ala do rei. Mas Dr. Fritz não concorda com esse entendimento e afirma que a posição estaria igualada.

O lance jogado na partida é inferior, pois dá oportunidade às brancas de fazer a ruptura central, com graves consequências para as negras.

22.d5 Cc5

As negras não tinham boas opções. Por exemplo:

a) Se 22.... exd5, eu estava pensando em jogar 23.Cxd7 Dxd7 24.Bxg7 ou 23.Cc6 Dxc6 24.Dxe7, com vantagem em ambos os casos.

b) Com 22.... cxd5, as negras exporiam seu rei perigosamente após 23.cxd5 exd5 24.Td5.

23.dxc6

Dirigi minha atenção para o peão de “c6”. Nem cheguei a considerar 23.dxe6, pois entendi que o lance jogado seria suficiente para obter vantagem.

Preciso fazer um “mea-culpa”: estávamos numa posição crítica da partida, e nenhuma possibilidade poderia ter sido descartada.

Não que 23.dxc6 seja é um mal lance, mas a melhor opção mesmo era capturar o peão de “e”. Por exemplo:

23.dxe6 fxe6 (se 23.... Cxe6, segue 24.Cxf7) 24.Cg6 Txd1+ (24.... Tg8 25.b4) 25.Txd1 Td8 26.Bxg7, com vantagem decisiva.

23.... bxc6 24.Df3 Bf6

24.... Rb7 não resolveria o problema. Por exemplo: 25.Cxf7 Txd1+ 26.Txd1, e se 26.... Bg5, então 27.Cd6+.

25.Txd8+

Não quis capturar o peão de “c6” de imediato para não comprometer minha estrutura de peões, depois de 25.Cxc6 Txd1+ 26.Txd1 Bxc3 27.bxc3. Mas Dr. Fritz avalia que essa posição é claramente vantajosa para as brancas.

Eu quis ganhar o peão sem ceder nada em troca. O GM Jonathan Rowson escreveu um livro chamado “Los siete pecados capitales del ajedrez”. Recomendo. Mas só que ele não abordou o pecado da avareza...

Aliás, sobre avareza, você pode ler o seguinte texto:

https://reinodecaissa.blogspot.com/2020/03/desventuras-de-um-capivara-i-o-pecado.html

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Foi aí que eu percebi que minha adversária estava mordiscando as unhas.

25.... Txd8



O momento tão aguardado: o ganho de um peão com 26.Cxc6, ademais de expor do rei das negras.

Fiz menção de tocar no cavalo. Mas recuei. Precisava dar uma última checada na posição...

Minha adversária continuava a mordiscar as unhas, agora com um jeito um tanto desalentado. Isso só fez aumentar a confiança de que estava no caminho certo.

Como não observei nenhuma intercorrência (para usar uma palavra da moda), decidi capturar o peão... Vamos que vamos!

26.Cxc6

Mas …

26.... Td3!

Hã??” …

… “Ui!”

Devo ter feito uma expressão parecida com a que Carlsen fez quando levou aquela pancada de Supi.

Perdi meu cavalinho...”

E foi aquele desespero para tentar encontrar uma forma de minimizar o prejuízo. 27.Ba5 era a melhor alternativa. Por exemplo:

Com 27.Ba5 Txf3 28.Bxc7 Rxc7 29.gxf3 Rxc6, e talvez eu tivesse alguma chance de lutar por conta dos peões da ala da dama. Mas percebi que as pretas poderiam jogar 28.... Txf2, e o final resultante me pareceu sem esperança.

Então tomei uma medida compatível como meu desespero, apelando para um eventual xeque perpétuo.

27.Cxa7+ Dxa7 28.Dc6+ Dc7 29.Da8+ Rd7 30.Bxf6 gxf6 31.Df8

As brancas estão perdidas. Além da desvantagem material, seu rei está sozinho frente a três poderosas peças. Bastaria organizar o ataque. Dr. Fritz sugeriu a seguinte linha: 31.... De5 32.Dxf7+ Rc6 33.De8+ Rc7 34.Db5 Df5 35.Ra1 Dxf2.

31.... Dd6

Mas as pretas preferiram materializar sua vantagem de forma mais tranquila.

32.Dxh6

Ainda fruto do desespero. 32.Dxd6+ era a melhor alternativa.

32.... Td2

As brancas não encontraram o caminho mais fácil para a vitória. Com 32.... Ca4, o ataque seria irresistível.

33.De3 Td3

Era melhor 33.... Td1+ 34.Txd1 Dxd1 35.Dc1 Dxh5, com vantagem, apesar de que as brancas teriam algumas chances de complicar o jogo.

34.Dc1

A essa altura, com o tempo se esgotando para ambos os jogadores, os erros se sucediam. Ademais, a posição era muito complexa. Eu estava pensando na possibilidade de trocar minha dama pela torre e pelo cavalo, e avançar o peão de “h” até “h7”, deixando a dama negra limitada a impedir h8=D.

Mas o Dr. Fritz diz que a melhor defesa era 34.De2!, pois se 34.... Td2, a dama retornaria para “e3”. E se as negras tentassem incrementar o ataque com 34.... Ca4, então 35.Dc2, obrigando o cavalo a voltar.

A posição estaria melhor para as negras, mas as brancas teriam amplas possibilidades de defesa.

34.... Ce4

E as negras perderam o foco do ataque devido à sua preocupação com o peão “h”.

Com 34.... Td2, seguido de ...Ca4, teria acontecido a troca da dama pela torre e pelo cavalo. Vejamos o que Dr. Fritz diz a respeito disso: 34.... Td2 35.h6 Ca4 36.Ra1 Cxb2 37.Dxb2 Txb2 38.Rxb2 Db4+ 39.Ra1 Dc3+ 40.Rb1 Dd3+ 41.Rb2 Dh7, e o peão não conseguiria chegar a “h7”, com vantagem decisiva para as negras.

Mas como ganhar? O rei não tem tempo de ir para “h8”, já que os peões da ala da dama avançariam. Quem se propõe a formular um plano?

35.h6 Cg5

Com 35.... Cxf2 36.h7 Cxh1 37.h8=D Td1 38.Dxh1 Txh1 39.Dxh1 Dxd3+, o final resultante estaria empatado.

36.Rc2 Ch7

Último erro. Agora as pretas estão perdidas. Com a simplificação que se segue, o cavalo ficará retido em “h7”, e o rei preto não poderá conter o avanço dos peões da ala da dama.

Com 36.... Dd4 a partida estaria igualada. Recorro a Dr. Fritz mais uma vez (aliás, ele foi imprescindível para a análise dessa partida): 36.... Dd4 37.c5 De4 38.Td1 Txd1+ 39.Rxd1 Dxg2 40.Dd2+ Re8 41.Dd6, com provável empate por xeque perpétuo.

37.Td1 Txd1 38.Dxd1 Dxd1+ 39.Rxd1 f5 40.b4 e5 41.a4 Rc6 42.a5 e4 43.g3 f6 44.b5+

As pretas abandonam.

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Judith Polgar certa vez disse que o xadrez tem um importante componente psicológico. Que seria difícil para ela vencer um computador, já que não seria possível confundi-lo.

Sabemos que as reações de nossos adversários indicam como eles estão se sentindo em determinado momento do jogo. Suas expressões corporais, expressões faciais, grunhidos, forma de fazer um lance, etc. Tudo isso são indicadores.

Mas também existem os gestos “teatrais”. O Professor Antonio Dutra, de João Pessoa, se tornou conhecido entre os amigos como o “Mestre das Táticas” porque, jogando uma partida, ele executou um lance e de imediato levou as mãos à cabeça, dando a impressão de que tinha cometido um erro crasso. O gestual passou credibilidade para seu adversário, que aceitou de bom grado o peão que ficou pendurado... Perdeu a partida, é claro.

E isso nos impõe mais um desafio: identificar se as sinalizações são autênticas ou se se tratam apenas de “cena”.

Não sei dizer se o mordiscar de unhas de minha adversária foi “cenográfico” ou apenas um cacoete sem qualquer vinculação com a partida. Mas o certo é que ele me deu uma falsa sensação de segurança.

Isso posto. Já alertei aos leitores que é necessário ter muito cuidado quando formos navegar pelos mares tormentosos das linhas táticas.

E se sua adversária for uma moça bonita mordiscando as unhas, com um jeito meio largado, então redobrem a atenção!

Cuidado com o canto das sereias!

Quem avisa, amigo é...