(FALTAM 2 DIAS PARA O ABERTO DO BRASIL
VI TORNEIO MEMORIAL BOBBY FISCHER)
VI TORNEIO MEMORIAL BOBBY FISCHER)
Bobby Fischer: Uma vida em 30 dias
(Extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores'' de Garry Kasparov - Ed. Solis)
Depois
da vitória de Fischer no match da semifinal do Candidatos, contra Larsen, diz
Kasparov: Assim,
no caminho para o match pelo campeonato mundial, havia somente mais uma
barreira a ser superada. Mas que barreira! Em contraste com os inimigos já
conquistados, dessa vez Fischer enfrentava um adversário que possuía não
somente uma experiência única no jogo de matches (três matches no mais alto
nível!), mas também raras qualidades de luta. Não era sem razão que Petrosian
era chamado de “Tigran de Aço”: sua tenacidade na defesa, seu incrível senso do
perigo, sua lendária e fenomenal habilidade em esperar, como um animal, e então
subitamente desferir um golpe mortal. Um jogador assim não é superado
facilmente...
Era
evidente que no match final do Torneio dos Candidatos (Buenos Aires,
setembro-outubro de 1971) não se podia esperar um “blitzkrieg” [termo alemão para "guerra-relâmpago" - Nota do RC]. Ambos os
jogadores eram famosos pela sua invencibilidade (durante os três anos passados,
Fischer havia perdido somente 3 partidas em 114!) e ambos tinham passado invictos
pelas quartas-de-finais e semifinais. Se bem que enquanto o norte-americano
tinha atingido um escore sem precedentes de 100% nesses matches, Petrosian
tinha conseguido marcar somente duas vitórias em 17 partidas.
Na
sequência da obra, Kasparov analisa em detalhes a 1ª partida do match, na qual
Petrosian lança uma novidade teórica no lance 11 e cria reais dificuldades para
Fischer. Ao
fim da partida, porém, Fischer vence! Diz Kasparov: Uma batalha grandiosa!
Não,
isso era impossível de acreditar: Fischer vencera outra vez – sua 13ª vitória
sucessiva em matches de Candidatos! E se sua série final em Mallorca for incluída, dezenove no total! Eu acho que muitos devem ter imitado Taimanov ao
exclamar nesse momento: “Esse Fischer, ele é invulnerável, ele é de algum modo
enfeitiçado?”
Sem
dúvida, esse foi um duro golpe para Petrosian: obter tal posição na abertura e
“desperdiçar” tal novidade! Contudo, para surpresa geral, o ex-Campeão Mundial
rapidamente soube recompor suas forças e brilhantemente venceu a super aguda 2ª
partida. Isso foi uma sensação! Os espectadores aplaudiram de pé, incapazes de
acreditar totalmente no que havia acontecido. De acordo com uma testemunha ocular,
“até por sua aparência era óbvio que o americano estava chocado”. Foi aqui que
Fischer foi testado: estava abalado ou não? Ele estava abalado!
Na
3ª partida Petrosian obteve novamente uma boa posição, ganhou um peão e tinha
chances de vitória, mas no apuro de tempo demonstrou falta de presença de
espírito: ele decidiu arrastar a partida para o adiamento, com o objetivo de
encontrar em casa o caminho mais claro para a vitória e... pela primeira vez em
sua vida caiu numa repetição de posição por três vezes.
"(...) Petrosian ficou tão incomodado com
esse empate quanto com sua derrota na primeira partida” (Baturinsky). Um
momento altamente dramático! O americano teve sorte e evitou uma segunda
derrota consecutiva, que poderia ter mudado substancialmente o curso do match.
Foi depois desta partida que Petrosian começou a desenvolver a sensação de que
Fischer era invulnerável...
Na
4ª partida o ex-Campeão cometeu um erro psicológico evidente: ao fazer um
rápido e insípido empate com brancas (...), ele deixou seu oponente se
recuperar completamente. Disse Fischer: “No começo [do match] eu não me
sentia muito bem. Mas quando na 4ª partida, na qual ele tinha as brancas, logo
desde a abertura Petrosian evitou qualquer ‘agressão’, eu sabia que eu venceria
o match”.
Na
partida seguinte Petrosian novamente superou seu oponente com pretas, dessa vez
numa velha variante da Defesa Petroff, sem poucos movimentos além da sexta
fila, mas novamente ele desperdiçou sua vantagem...
Assim,
após cinco partidas o marcador estava igualado: 2(1/2)-2(1/2). Por fora parecia
que tudo estava indo bem para Petrosian, mas não era bem assim. Averbakh:
“Percebi em seu comportamento os mesmos sinais que foram observados na fase
final de seu segundo match com Spassky. Ele se tornou muito sensível e
extremamente irritadiço. A impressão era que Tigran estava achando duro
enfrentar a tensão crescente. Issso significava que a qualquer momento uma
crise podia ser esperada, e ela chegou na 6ª partida.”
E
após analisar a 6ª partida, vencida por Fischer, Kasparov estuda também, em
detalhes o 7ª confronto do match, arrematando com o seguinte comentário: Essa
partida esplêndida, que Fischer considerou ser sua melhor conquista em todo o
match, se equipara com a 4ª partida do seu match com Taimanov. É ainda mais
valiosa, pela razão de que nessa ocasião o Grande Mestre americano superou um
renomado especialista em finais de partida.
Mais
duas vitórias encerraram o match: 6(1/2)-2(1/2). Essa foi uma vitória
absolutamente esmagadora! Será que Petrosian alguma vez imaginou que naquela
época pudesse perder quatro partidas seguidas?...
O
final do match em Buenos Aires chocou o mundo do xadrez. Até Botvinnik, que não
era inclinado a misticismo, novamente, como após o match em Denver, começou a
falar sobre milagres: “É difícil falar sobre os matches de Fischer. Desde que
ele começou a jogá-los, os milagres começaram. Seu match com Taimanov foi surpreendente,
o de Larsen ainda mais estonteante, e o match Petrosian-Fischer foi totalmente
assombroso. Nos dois primeiros matches tudo estava claro para o público, mas o
que aconteceu em Buenos Aires permanece um mistério até agora. Da 1ª a 5ª
partidas Petrosian dominou essencialmente, mas nas quatro remanescentes ele ‘desceu’
para o nível de Taimanov e Larsen... No geral Spassky é agora superior a Fischer.
Essa é a minha firme convicção. Mas como o match entre eles vai terminar, as
características e o resultado, eu não me aventuraria a prever, já que em tempos
recentes começaram a ocorrer milagres no mundo do xadrez.”
Onde se lê milagre, leia-se: talento. Abs. Zirpoli
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