sexta-feira, 13 de maio de 2016

No tempo que se dizia xeque!

Por Fernando Melo
Ivo Bichara só jogava relâmpago

Lembrar aqueles dias na Academia Caldas Vianna é o mesmo que lembrar o tempo da inocência. Era o romantismo pleno, quando se jogava pelo prazer de jogar e nem torneio havia, pois era raro termos um. E se jogava muito e quase somente partidas de 5 minutos, para se distrair, que se chamava partida relâmpago, e não blitz, como hoje. Também não havia essa historia de xadrez ativo. Isso foi invenção da FIDE para ganhar dinheiro, já que hoje, por exemplo, existe torneios internacionais e até mesmo mundial, com partida de xadrez blitz, ativo e clássico.

Não condeno os dias atuais, mas o xadrez do meu tempo - lá pela década de 70 - tinha suas singularidades. Era obrigatório dizer xeque! Imaginem!  Quando alguem dava um xeque e ficava calado, o adversário reclamava: Tem que avisar que é xeque! Ah! bons tempos!

E assim sendo, lembro aqui um episódio ocorrido quando da visita à
nossa cidade do GM norte-americano Paul Benko. Foi lá na sede do Clube Cabo Branco, no centro da cidade, à época a meca do nosso xadrez, onde pontificavam figuras como Jeová Mesquita, Fernando Amaral Marinho, Romero Peixoto (todos falecidos), apenas para lembrar três. Benko explicava para os presentes (cerca de umas 15 pessoas) uma determinada posição com suas análises. Até que X, isso mesmo, o nome do rapaz era X, mete o bedelho onde nao é chamado, avisando que o Rei estava em xeque. Ivo Bichara, que estava interessado em saber a conclusão das análises do grande mestre norte-americano, não se conforma com a intromissão de X, e, bruscamente, reage com firmesa: "Tira a mão daí, seu filho da puta!!" E todos cairam na risada, acostumados com a irreverência do saudoso Ivo!

4 comentários:

  1. Grande Ivo! Singular figura, sempre irreverente, com suas sandálias arrastadas e a sua inseparável bolsa de couro a tiracolo. Apesar de vivermos à época em pleno regime militar, havia muito mais tolerância nas relações cotidianas do que hoje, onde impera a ditadura do "politicamente correto".

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  2. Fernando, MAIS histórias vividas, como essa, por favor! Seu leitor agradece. Grande abraço!

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  3. Mestre Ivson! Bom você aprovar. Tenho boas historias com os saudosos Crysostomo Magalhães e Gildemar Pereira de Macedo. Voce mesmo é o centro de um episódio raro na história do xadrez nacional, que um dia conto aqui nessas crônicas diárias. Abraço!

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  4. Muito alvissareiro, caríssimo Fernando, lembrar daqueles bons tempos, em que eu era aluno do Colégio Arquidiocesano Pio XII, e, após as aulas da tarde, eu costumava frequentar aquela sala que tem janela para a rua Duque de Caxias, onde se reuniam, com freqüência quase diária, enxadristas contumazes. Lembro bem do Crysóstomo, Gildemar, Ivo, Bastinho, Lessa (eita bicho escroto), Arnaldo (um gentleman), Francisco Cavalcanti (com ele, eu e outro colega fomos campeões de xadrez nos famosos JOGOS DA PRIMAVERA, não lembro exatamente o ano, pelo Colégio Arquidiocesano Pio XII, contra a até então poderosa Escola Técnica Federal da Paraíba)...Lembro com intensa saudade tudo isso !

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