sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Conversando com Fischer - 2

Quando cheguei na Colonia, onde Fischer está passando uma temporada e onde tem um sítio, não consegui falar com ele de imediato. Tive que esperar umas três horas. Notei, no seu semblante, que estava feliz, solto, tranquilo, de bem com a vida. O que pode ter acontecido? Quem era a pessoa com quem ele passara tanto tempo? Não perguntei, não achei certo. Não me achava com o direito de ter essa liberdade com ele. Estávamos ali para falar de xadrez. Comentei o cochilo de Mamediarov contra Eljanov, logo no início do Tata Steel 2016. Fischer recostou-se e olhou fixo para mim. Esse erro - disse ele - tem um culpado! Os organizadores! Eles queren espetáculo e ganhar dinheiro. Enchem o local de espectadores, fazem torneio paralelo, que chamam de Festival e o resultado é isse que você falou, Essa história de errar é humano, não se aceita mais. Foi total falta de concentração, desatenção mesmo provocada pelo cenário, e isso não permitimos no Grande Mestre, Mas Fischer não perdeu a fleuma e manteve-se do mesmo jeito quando iniciamos a conversa, ou seja, feliz e tranquilo. Fiquei até um pouco preocupado, achando que tinha falado algo indevido para o momento. Mas não, felizmente ele se despediu com um sorriso! Na saída, um dos residentes da Colonia me disse que Fischer tinha estado antes com Pablo Neruda, e que falaram muito da beleza de Caíssa, o que certamente deixou Fischer do jeito que descrevi no início desse artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário