terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

VII Memorial Bobby Fischer - Faltam 17 dias!

A obra prossegue e relata a contagem empatada em 5(1/2) x 5(1/2), no match Fischer x Reshevsky, após a 11ª partida. Nesse ponto, Kasparov faz um longo relato dos problemas que surgiram no match, motivados pelo adiamento da 12ª partida para um domingo de manhã, por motivos religiosos de Reshevsky, judeu ortodoxo, e para acomodar um desejo pessoal da Sra. Piatigorsky. Por não concordar com isso, Fischer acabou não comparecendo para a partida e a Reshevsky foi dada a vitória, o que motivou o abandono do evento por Fischer.

Kasparov lembra que após o match houve muita agitação na imprensa americana e prossegue: Todos acusavam Fischer, os rádios e jornais não economizavam em suas manchetes, condenando o ‘moleque mimado’ que havia desgraçado o título de campeão dos EUA com o seu comportamento. A USCF [Federação Americana de Xadrez] também tomou o lado de Reshevsky. Não causa surpresa que Bobby tenha se sentido enganado, abandonado em um canto por todos...

Mas todos não levantaram os braços contra ele [Fischer] por nada, certamente teriam um motivo?! E Fischer o encontrou. Todos eram judeus: Rechevsky, os Piatigorsky, os líderes  da Federação, jornalistas, árbitros... E por isso se apoiavam uns aos outros!
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Para um jovem do Brooklin pouco estudado [18 anos], extremamente egocêntrico, era compreensível tal visão ‘simplificada’ do mundo. O Grande Mestre O’Kelly comentou com muita perspicácia: “O comportamento de Fischer lembra o de um selvagem: todas as coisas que acontecem ao seu redor são percebidas como uma ameaça”.

Segue Kasparov: Ao ficar mais velho, Bobby poderia ter se livrado de seus complexos, mas não teve sorte: além de todos seus desgostos na terra natal, o “rolo compressor” soviético também passou sobre ele, e isso, falando, genericamente, quebrou a identidade de Fischer. Ele cresceu como uma árvore anã, na atmosfera sufocante que enchia o mundo do xadrez desde que a União Soviética entrou na FIDE, com a dominação completa dos jogadores soviéticos e, daí em diante, da máquina política e esportiva soviética.
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E eu acho que a mania anti-semita de Fischer, a qual cresceu com os anos, está amplamente associada com a dominação dos jogadores “judeus-soviéticos”. Parecia-lhe que eles se uniam contra ele com o objetivo de evitar que ele se tornasse o Campeão Mundial. Eu lembro Reshevsky contando-me como, durante o Torneio Interzonal de Mallorca [1970], com olhos em chamas Fischer informou-o de que estava lendo um “livro muito interessante”. “Qual é?” perguntou Sammy [Rechevsky] inocentemente. “Mein Kampf!”  respondeu Bobby...

(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)

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