Após
vencer o Interzonal de 1962, Fischer se empolga para o Torneio de Candidatos,
em Curaçao, mas é contido pelo “pacto russo”! Kasparov comenta:
Para
Bobby o futuro parecia extremamente colorido. Ele não tinha dúvidas nem de seu
sucesso em Curaçao, nem de sua vitória sobre Botvinnik [campeão mundial
de então].
...
Definitivamente,
achando-se o “escolhido por Deus”, Fischer, a julgar pelos fatos, perdeu a
habilidade de fazer uma avaliação crítica de si mesmo e de seu jogo. Mas como
não perdê-la quando todos a seu redor – comentaristas, jornalistas e mesmo
jogadores – tinham efusivamente criado um “culto” a Fischer.
“Infelizmente,
entretanto, (escreve Edmar Mednis, que estudou suas partidas), Bobby levou a
sério esse papo de culto e começou a acreditar nele. Seu pensamento pode ser
exemplificado pelo tipo de declaração ‘Posso jogar qualquer coisa – eles
sucumbem da mesma forma!’ As consequências disso foram desastrosas no Torneio
de Candidatos de Curaçao, maio-junho de 1962 e quase trágicas para o seu futuro
no xadrez.”
...
Assim
foi a contagem final: 1. Petrosian – 17(1/2) pontos em 27; 2-3. Geller e Keres
– 17; 4. Fischer – 14; 5. Kortchnoi – 13(1/2) etc. Quem poderia esperar isso
após Estocolmo?
Esse
fracasso teve um efeito enorme em Fischer. Evidentemente ele tinha que
encontrar alguma explicação, alguma justificativa para o ocorrido... E novamente
se manifestou um traço de seu caráter: ao invés de procurar as causas de seu
fracasso em seu próprio jogo, Bobby procurou outros a quem culpar. E os
encontrou!
Em
um artigo com o título pitoresco “Os Russos Imobilizaram o Mundo do Xadrez”,
publicado na revista Sports Illustrated, ele acusou diretamente Petrosian,
Keres e Geller de fazerem um pacto. Eles teriam supostamente combinado de
antemão em empatarem entre si, o que lhes daria um descanso, enquanto ele teve
que jogar cada partida com intensidade plena.
Realmente as suspeitas eram
embasadas: todas as doze partidas entre o trio de líderes terminaram em empates
insípidos. É claro que o lado soviético negou tudo, e mesmo no Ocidente nem
todos compartilhavam do ponto de vista de Fischer.
Kasparov
se posiciona: Eu não quero interpretar o papel do árbitro, especialmente porque
após mais de quarenta anos muito foi discutido em torno do “pacto russo”. Eu
acho que Fischer simplesmente não levou em conta o “espírito de equipe” dos
jogadores soviéticos. Por que lutar, quando você pode fazer um acordo? (...) É
duro condenar Petrosian, Geller e Keres por esses empates: era uma tradição
soviética e, tendo em mente o calor tropical, era extremamente difícil
finalizar a distância de 28 rodadas sem um descanso.
...
No
final dos anos 1990 a versão de Fischer subitamente recebeu apoio de um lugar
de onde Bobby jamais esperava – do antigo treinador de Petrosian. (...)
[Declaração do GM Suetin:] “Antes do início do torneio o trio vitorioso
concluiu um ‘pacto de não agressão’ um com os outros”.
...
Envergonhado
com o final da batalha em Curaçao, Fischer sonoramente “bateu a porta”,
anunciando que não mais tomaria parte em competições assim novamente. E o que
aconteceu? A partir do próximo ciclo do Campeonato Mundial, o Torneio dos
Candidatos foi substituído pelos Matches!
(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)
(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)
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