quinta-feira, 3 de março de 2016

VII Memorial Bobby Fischer - Faltam 8 dias!

O hara-kiri em Sousse [1967] foi o ápice da “segunda onda” de Fischer. Seu ciclo de três anos de atividade chegou a um final. Bobby lentamente, mas de forma segura, mergulhou em outro período de “hibernação”.
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Em outubro [1968] Bobby chegou para a Olimpíada de Lugano, onde os norte-americanos pretendiam competir com a equipe soviética pela medalha de ouro. A razão para tal otimismo era que pela primeira vez eles tinham conseguido inscrever tanto Fischer como Reshevsky na equipe.

Entretanto, ao ver o salão do torneio, Bobby ficou infeliz. “Eu imediatamente percebi que não dá para jogar naquele local! Os espectadores não paravam de andar entre as mesas e até fumavam!” Ele exigiu que a iluminação fosse trocada, fotografias deveriam ser proibidas durante o jogo, sua mesa deveria ser colocada a oito metros distante dos espectadores e, se possível, deveriam lhe permitir jogar em sala separada... Quando os suíços se recusaram a isso, Fischer declarou que não jogaria sob tais condições e foi para Milão.
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E Kasparov faz uma observação marcante: A posição de Fischer é compreensível para mim, pois também fico indignado quando, por exemplo, Anand concorda em jogar na “roça”. Se não forem os principais Grandes Mestres, quem mais lutará pela melhoria das condições de jogo, pelo crescimento do prestígio do xadrez?! Fischer respondeu com firmeza, como um verdadeiro profissional. Quando os organizadores foram incapazes de atender as suas exigências (...), ele deu meia volta e saiu, sem dar a menor importância ao fato de quem sem ele a equipe dos EUA corria o risco de terminar fora das medalhas. Princípios são mais importantes!

A obra prossegue e relata a participação de Fischer no “Match do Século”, realizado em Belgrado, na primavera de 1970, entre as equipes da União Soviética e do Resto do Mundo.

Um ponto relevante nesse evento foi a surpreendente concordância de Fischer em conceder a posição de 1º tabuleiro da equipe do Resto do Mundo ao dinamarquês Larsen, que alegara direito moral de liderar a equipe mundial, pois durante a ausência de Fischer ele havia conquistado alguns grandes sucessos.

Kasparov relata: (...) na verdade ele [Fischer] estava realmente muito feliz por Larsen ter exigido o 1º tabuleiro. Uma coisa era jogar com o “pacifista” Petrosian, de quem Fischer não perdia desde Curaçao e ao estilo do qual tinha se ajustado, e outra muito diferente com o “agressivo” Spassky, que estava  no auge.
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Fischer explorou a situação resultante o máximo que pôde. Ao conceder o tabuleiro 1 “para o bem do match”, ele não somente evitou um encontro muito perigoso com o Campeão Mundial, mas também ganhou a simpatia do público, que fica sempre do lado do “prejudicado”. Após uma abstenção do jogo por aproximadamente dois anos, era muito importante para Fischer conquistar uma vitória psicológica: ele ficava inspirado quando tudo ia de acordo com o seu cenário, e neste caso tudo seguiu como Bobby queria. E parece-me que já em Belgrado ele finalmente compreendeu o mecanismo com o qual ele daí em diante obteria concessões dos adversários e organizadores. O principal era criar um alvoroço em torno do seu nome! “Fischer deixou seu quarto”, “Fischer pediu o jantar no restaurante”, “Fischer pegou um táxi”, e assim por diante. Ainda sem fazer um único lance, aos olhos de todos o norte-americano já parecia ser o claro favorito, e este é um importante elemento para a conquista da vitória no xadrez.

No final o match teve o seguinte resultado: URSS 20 (1/2) x 19 (1/2) Resto do Mundo. Fischer venceu seu match contra Petrosian por 3-1 (+2=2)

No mesmo ano, ocorreu o “Torneio da Paz” em Zagreb que... terminou triunfalmente para o norte-americano:  1. Fischer – 13 pontos em 17; 2-5. Gligoric, Hort, Kortchnoi e Smyslov – 11; 6. Petrosian – 10(1/2) etc.

E ninguém ficou sabendo que ele se sentou ao tabuleiro praticamente contra a sua vontade. “Vou digo alguma coisa sobre a fraca iluminação e...volto”, admitiu para Bronstein um pouco antes. “Eu não jogo mais com iluminação comum: os médicos me disseram que eu posso danificar meus olhos se eu os forçar por cinco horas”. Mas Fischer – caso raro! – calculou mal sua combinação infantil: os organizadores aceitaram todas as suas condições e ele teve que jogar. Não foi a própria Caíssa que conduziu Bobby à coroa mundial?!

(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)

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