O
match semifinal com Bent Larsen (Denver, julho 1971) foi aguardado com enorme
interesse. Ele viria a responder a pergunta que estava na boca de todos: quão
justificado foi o escore de 6-0 no match anterior? Mais tarde Mark Yevgenevich
[Taimanov] brincou que, ao perder pela mesma contagem, Larsen salvou-o de uma
represália completa: não havia meio de se achar que o Grande Mestre dinamarquês
pudesse ser suspeito de ter um pacto secreto com os imperialistas americanos!
Evidentemente,
em contraste com Taimanov, Larsen não se considerava simplesmente uma “vítima
de Fischer”. Seus sucessos e ambições estavam mais altos. Após a recente
colisão no “Match do Século”, onde o dinamarquês exigiu o 1º tabuleiro para si,
e a sua vitória muito importante sobre Fischer no Torneio Interzonal, ele
estava contando, pelo menos, com uma luta árdua. Esse era essencialmente um
match pelo Campeonato do Mundo ocidental.
Todavia,
como se sabe, a história se repetiu e Fischer liquidou o match também por 6-0! Tal
comentou: “Parece-me que em todo o match Larsen não teve vantagem em um único
lance sequer.”
E
Kasparov declara com autoridade: Eu acho que o choque do fracasso de Larsen
foi muito maior do que o de Taimanov: ficou evidente que o que ocorrera em
Vancouver e Denver de forma alguma havia sido um acidente, e que o mundo do
xadrez tinha encontrado uma nova força, sem análogas na história! [grifo do RC]
Como
no match anterior, esse também teve seus momentos críticos: para perder de
zero, em algum momento é preciso quebrar psicologicamente. A meu ver, as duas
primeiras partidas foram decisivas: na sequência, Larsen estava grogue, e não conseguiu sair desse
estado até o fim do evento.
E
Kasparov então apresenta as 2 partidas iniciais com extensos comentários, para,
em seguida, lembrar que na terceira partida Larsen, de negras, esteve
irreconhecível e as brancas venceram com facilidade.
Na
quarta partida, jogando com as brancas, o dinamarquês caiu sob um ataque na
Defesa Índia do rei literalmente do nada. Após essa derrota, como ocorreu com
Taimanov em sua época, a pressão sanguínea de Larsen subiu bruscamente e ele
foi obrigado a ir se consultar com um médico.
E foi
somente na quinta partida, que ocorreu após três dias de atraso, que ele se
defendeu com sucesso e finalmente esteve próximo de um empate. Contudo o autor
russo mostra que o dinamarquês deu “um passo em direção ao abismo” com o lance
20...Bd6? e acabou sofrendo a quinta derrota.
Na
sexta partida, a qual veio a ser a última, Larsen escolheu a sua favorita
Abertura Bird – 1. f4 e tinha posição igual, segura, mas ele preferiu o
“hara-kiri”: sacrificou um peão, então um segundo e...nada pôde fazer para conter
o jogo preciso e enérgico do adversário: 6-0!
...
Mais
tarde o dinamarquês explicou: “Você acha que eu não poderia ter empatado
algumas partidas com Fischer? É claro que eu poderia! Mas eu não quis fazer
isso. Eu joguei pela vitória em cada partida – o que é importa é vencer, é
preciso sempre lutar!” Ninguém discute que é preciso lutar, mas por que jogar
tudo para o alto, sem pensar? Como Tal comentou, tanto Larsen como Taimanov são
excessivamente otimistas e ambos queriam pelo menos vencer uma partida – embora
não houvesse pré-condições objetivas para isso. Mas evidentemente isso também é
resultado de um colapso psicológico: a perda completa da objetividade!
...
A batalha em Denver impressionou o mundo do
xadrez: um segundo sucessivo Grande Mestre de alto nível havia sido derrotado
pelo mesmo placar incrível de 6-0! [grifo do RC] “Independente de com quem ele jogar no match
final e de como esse match terminar”, escreveu Tal, “hoje podemos dizer com
segurança que uma superioridade assim em eventos do Campeonato Mundial jamais
foi demonstrada por nenhum competidor pela coroa do xadrez”. E devo
acrescentar, por nenhum Campeão Mundial. [grifo do RC] O grande Lasker arrasou Marshall e
duas vezes massacrou Janovsky (+8=7, +7-1=2, +8=3), mas isso não pode ser
comparado com o 12-0 de Fischer!(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)
Fernando quem é RC? Roberto Carlos. Abs.
ResponderExcluirRC = Reino de Caíssa.
ExcluirObg
ExcluirFernando Sá e Fernando Melo: Esta é a minha postagem favorita da série! Muito sucesso para o Memorial BF 2016! Espero participar na próxima edição.
ResponderExcluirObrigado, Mazetto, por prestigiar a reedição desta série especial de postagens e pelos votos de sucesso ao nosso Memorial. Esperamos sim contar com sua participação em edições futuras do evento, desejando-lhe que novos sucessos advenham, como o seu 2º lugar geral no VI Memorial Bobby Fischer, realizado no ano passado.
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