Kasparov
destaca que o último empurrão para Fischer se decidir a jogar o Torneio
Interzonal de 1970 foi provavelmente o torneio de verão em Buenos Aires,
naquele ano... que “lavou a honra” de dez anos atrás, quando na mesma cidade
Fischer sofrera o pior fracasso de toda a sua carreira. Nessa ocasião ele
conquistou um dos seus maiores triunfos! Todas as noites os 700 assentos do
salão estavam tomados, com espectadores sentados e em pé nos corredores. Bobby
foi tratado como rei, com cada capricho sendo atendido.
No
final Bobby terminou 3(1/2) pontos à frente do perseguidor mais próximo: 1. Fischer – 15 pontos em 17(+13=4!); 2. Tukmakov – 11(1/2); 3. Panno – 11; 4-6. Gheorghiu,
Najdorf e Reshevsky – 10(1/2); 7. Smyslov – 9; 8-9. Quinteros e Mecking –
8(1/2) etc.
...
Após
o torneio em Buenos Aires, Fischer estava sem dúvida em estado de euforia e o
futuro devia parecer muito róseo para ele. Somente isso pode explicar porque em setembro
ele tenha ido à Olimpíada de Siegen, embora os alemães friamente recusassem a
sua habitual lista de condições de jogo, aceitando somente uma das vinte e
cinco exigências: mudar sua mesa um metro mais distante da primeira fila de
espectadores.
A
atração principal para o norte-americano era sem dúvida a oportunidade de
encontrar Spassky no tabuleiro. Fischer ardia de desejo de mostrar ao mundo
“quem era quem”, e estava confiante no sucesso. Assim como seus torcedores, que
“encomendaram um banquete em honra ao vencedor; no restaurante do nosso hotel,
as mesas foram arrumadas, aguardando um mero ‘detalhe’ – a conclusão da
partida” (Kortchnoi).
Mas, como sabemos, uma amarga desilusão aguardava
Fischer! Ele não somente perdeu para o Campeão Mundial, mas também concedeu o
“metal amarelo” no 1º tabuleiro a ele: Spassky marcou 9(1/2) pontos em 12, e
ele 10 em 13... Em vingança, o orgulhoso Fischer declarou em uma entrevista:
“Quando eu perdi para Spassky, abandonei como Capablanca: se perdi uma partida,
me senti como um rei fazendo caridade a um mendigo.”
Em
novembro, após voltar a ameaçar não jogar um Interzonal, cujo motivo,
entre outros caprichos, Kasparov credita o efeito que a derrota para Spassky na
Olimpíada de Siegen causou no humor do norte-americano, Fischer joga o
Interzonal de Palma de Mallorca, graças à concessão da vaga por Benko
e em função do triunfo da USFC, em conseguir, no Congresso da FIDE em setembro
daquele ano, a permissão para escolher seus próprios representantes no torneio.
...
Após
um empate com Hübner, [Fischer] produziu uma série de cinco vitórias, incluindo
entre suas vítimas Smyslov, Hort e Rechevsky. Suas partidas de Mallorca são um
espetáculo surpreendente! Quando o enfrentavam, Grandes Mestres de ponta (para
não se falar nos Mestres), se intimidavam, ficavam paralisados e não ofereciam
uma resistência digna.
Amanhã traremos mais detalhes do Interzonal de Mallorca, que foi marcante na biografia de Fischer.
(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)
(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)
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