Kasparov
detalha que a partir da 7ª rodada de Palma de Mallorca alguma coisa deu errado
no mecanismo lubrificado de Fischer que, depois de quase ser vencido por
Matulovic e Naranja, perdeu para Larsen. Porém sua partida com Geller mudou o cenário, conforme revela o ex-campeão mundial russo:
...
O
ponto de virada foi sua partida da 12ª rodada com Geller, que naquele ponto
liderava o torneio. Bobby encarava um problema difícil: primeiramente, ele
tinha um escore catastrófico com Geller (+2-5=2) e em segundo lugar, tinha as
peças pretas. Fischer escolheu uma variante tranquila da Defesa Grunfeld – e
venceu o duelo psicológico: decidido que seu adversário estaria satisfeito com
um empate, já no 7º lance Geller ofereceu empate.
“Rir
foi a primeira reação de Fischer. Geller também começou a rir: a situação era
clara – o norte-americano perdera as três últimas partidas para ele... Subitamente
Fischer parou de rir, inclinou-se e
disse alguma coisa para Geller. (...) Não se sabe o que o futuro Campeão
Mundial disse, mas um dos espectadores
declarou que ouviu nitidamente: ‘Muito cedo’, mas em todo o caso se
tornou claro para Geller que Fischer queria continuar a partida. Geller ficou
terrivelmente vermelho e somente dois lances depois, em uma posição simples,
ele pensou por toda uma hora, e poucos lances depois se encontrava com um peão
a menos.” (Sosonko)
No
entanto, o Grande Mestre soviético defendeu excelentemente e a posição adiada
era empatada. Isso foi confirmado pelas análises caseiras. Entretanto, durante
a continuação, quando todas as dificuldades já tinham ficado para trás, Geller
subitamente cometeu um grave erro... Lapsos assim por parte de seus adversários
em posições de finais simples ocorriam muitas vezes nas partidas de Fischer.
Sua causa é óbvia: a tensão extrema! “Geller permitiu-se relaxar, e Fischer,
que ainda não tinha reduzido sua atenção e interesse na partida, imediatamente
explorou o erro do seu adversário.” (Taimanov)
E
foi talvez com esse sorriso de Caíssa que a famosa arrancada final de Fischer para
o Olimpo começou [grifo do RC]. Tendo reconquistado sua autoconfiança, começou a jogar com a
sua antiga pressão e energia. Após “testar” sua forma em partidas com Ivkov e
Minic, ele freou levemente, como um avião antes de decolar (empates com Jimenez
e Uitumen) – e então produziu uma série de 19 vitórias sucessivas, sem
precedentes na história de competições classificatórias! [grifo do RC]
Embora
Bobby já estivesse classificado para o Torneio dos Candidatos, quando
perguntado como ele estava pretendendo jogar nas três rodadas que faltavam
[sendo uma delas contra Mequinho – nota do RC], respondeu: “Para ganhar, é
claro!”
Antes
de baixarem as cortinas o norte-americano ganhou outro ponto quando Panno não
apareceu para a partida (ele exigia que no sábado, quando Bobby se sentaria ao
tabuleiro após o pôr do sol, todas as partidas se iniciassem simultaneamente,
mas escutou uma negativa) e terminou em esplêndido isolamento: 1. Fischer –
18(1/2) pontos em 23; 2-4. Geller, Hübner e Larsen – 15; 5-6. Taimanov e
Uhlmann – 14; 7-8. Portisch e Smyslov – 13(1/2); 9-10. Gligoric e Polugaevsky –
13 etc.
Novamente como em Buenos Aires, sua margem sobre os perseguidores mais
próximos foi de 3(1/2) pontos.
(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)
Nenhum comentário:
Postar um comentário