Olhem bem o diagrama ao lado. Nessa posição, o que pode acontecer? O equilíbrio de forças, somado ao fato de que há no tabuleiro bispos de cores opostas, parece sugerir que o empate é inevitável. A melhor disposição do bispo e torre brancas, contudo, pode indicar que o primeiro jogador tem alguma possibilidade, mesmo que, para muitos, essa seja considerada uma posição morta.
As chances das brancas aumentam, se o seu condutor for Magnus Carlsen! "Ele consegue tirar água de pedra", disse o GM Gawain Jones, atual campeão britânico de xadrez. Bem...Foi o que parece ter alcançado o gênio norueguês ao jogar "g4" no lance 67 de sua partida de ontem contra Kajakin, pela oitava rodada do Tata Steel. O lance só faz sentido com seu complemento 68. h5 (depois de 67....hxg4), pois integra parte do plano de acionar os dois peões brancos de "f" e "e" no ataque ao Rei negro e seu encurralado bispo.
Quem mais teria a ousadia de jogar esses lances? Para milhões de aficionados mundo afora, g4 sequer seria considerado. Uma legião de professores suariam para explicar a razão do movimento aos seus pupilos. Muitos titulados contudo, haverão de dizer que a jogada é previsível e possível. Quem deles, porém, efetivamente assumiriam os riscos de entregar dois peões próprios a essa altura do jogo, gerando dois peões passados e unidos ao adversário?
Carlsen ousou fazê-lo! Preferiu buscar a vitória do que se contentar com o enfadonho empate. É certo que Karjakin não jogou os lances mais exatos, ao refutar a oferta do segundo peão em h5, talvez em função da pressão do relógio. As análises mostraram que havia linha de empate, por cheque perpétuo, caso ele tomasse em h5 e viesse a perder o bispo em f8. A sequência escolhida pelo russo acabou lhe custando a partida, ante a precisão do jogo de seu adversário.
O fato é que Carlsen buscou o único caminho possível para o triunfo, com coragem e muito talento. Como comentou aqui no blog, Wagner Torres: "Os lances de Carlsen impressionam pela correlação de quase 100% com os melhores lances do software, ou seja Karjakin praticamente enfrentou o Houdini 3.0." Esse é, portanto, o nosso maior enxadrista da atualidade! Aprendamos com ele!
Nenhum comentário:
Postar um comentário