domingo, 13 de dezembro de 2015

Pawn Sacrifice não agrada!

Quando foi anunciada a película Pawn Sacrifice, baseada na vida de Bobby Fischer, a comunidade enxadrística comemorou a possibilidade de reviver na grande tela a trajetória do maior mito do reino de Caíssa, em todos os tempos. O filme surgiu com ares de grande produção e gerou expectativa em nosso meio, afinal o xadrez seria tema de destaque na sétima arte e trazia Fischer, que no início dos anos 70 impressionou o mundo na sua batalha histórica e vitoriosa contra os russos.

O filme foi lançado há algumas semanas e depois de assisti-lo hoje, contudo, posso dizer que, pessoalmente, ele não me agradou! Apesar de sua duração de quase 2 horas, a trajetória de Fischer é contada com poucos recortes dos fatos importantes de sua vida, distantes entre eles, que dificultam o entendimento lógico do enredo até para os "iniciados" em Fischer. Imaginem para os leigos! 

Por outro lado, o Fischer de Tobey Maguire aparece em todo o filme com ares de paranóico (quero crer que Fischer não foi sempre assim, ao menos na sua expressão pública) e com pouca concentração nas cenas que aparece diante do tabuleiro (o que soa como um insulto à memória do abnegado ex-campeão). Aliás, é difícil enxergar Fischer em Maguire. Falta ao ator, literalmente, estatura para compor o gênio americano. Não só pela sua pouca altura física, que sobrava no enxadrista, mas, mais ainda, pelo carisma que Fischer impunha com sua presença e que carece no famoso intérprete do Homem-Aranha.

Já Boris Spassky, apesar da surpreendente semelhança do ator que o representa, é retratado no filme com um ar um tanto sinistro, afinal, toda história de herói contada no cinema ianque precisa ter o seu vilão. E se o mocinho, mesmo excêntrico, é americano, nada melhor que ter num russo a encarnação do "bandido". Só na cena da famosa sexta partida do match final de Reykjavik, onde Spassky aplaude Fischer no final, é que o russo parece se aproximar da sua condição mais difundida, de um sujeito elegante e educado, que soube, de certo modo, compreender e tolerar os caprichos de Fischer.

Também merecem registros cenas ficcionais que, ao que nos parece, não aconteceram de verdade, como uma em que o próprio Spassky, em plena partida contra Fischer resolve se agachar e virar de ponta cabeça sua cadeira, buscando algo de suspeito implantado nela. Hilário! Tal suspeição de fato houve, mas, pelo que se sabe, ela foi investigada posteriormente pelos agentes do campeão russo, não por ele próprio, em plena partida contra Fischer. Sejamos menos exigentes, porém, e vamos creditar essas cenas à "licença poética" da produção cinematográfica!

Com esse espírito, podemos até perceber que, apesar de tudo, o filme nos permite, com algum esforço, resgatar um pouco da atmosfera que cercou o encontro daquela final em plena guerra fria. As passagens reais de notícias jornalísticas e cenas que mostram a repercussão popular nos Estados Unidos e URSS, ajudam-nos a confirmar quão grande foi Fischer, nesse momento único da história do xadrez.

E se, como um todo, o filme deixou a desejar, ao menos Fischer, no final, não foi pintado em cores fortes como o sujeito enlouquecido que, com gestos e pronunciamentos, afrontou sua nação e teve um fim de vida indigno de sua biografia marcante. As cenas finais até trazem o Fischer real e envelhecido, mas aborda em frases rápidas os dramáticos acontecimentos derradeiros de sua vida, acabando por deixar no espectador, creio, uma imagem mais do gênio de sua arte do que do louco que não soube lidar com sua grandeza.

7 comentários:

  1. Oh crítico bom é o Fê.Sá. Ótima narração. Bom saber. Acho que não
    vou mais ver o filme. Se for é só prá ver o bonitão do Maguire em
    mais uma atuação. Gosto dele. Às vezes, também, as pessoas gostam
    de um filme e outras não.

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  2. Análise crítica perfeita! Mais uma faceta de Fernando Sá. Queria ter um filho assim!

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  3. Ótimo texto. Por gentileza, gostaria de saber como assistir ao filme. Não o encontro nos cinemas, nem em DVD, nem na internet. Poderia me informar? Grato.

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  4. Obrigado a todos pelos comentários generosos sobre o texto.

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  5. Desapontou, muitos e muitos erros cronológicos, e muitas histórias realmente importantes deixadas de fora, se para quem não entende nada de Fischer foi difícil, imagine para os fãs.

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