O blog Reino de Caíssa tem a honra de apresentar na Seção 8 x 8 de hoje uma entrevista com o atual número 1 do xadrez brasileiro, o GM maranhense Rafael Duailibe Leitão. Um dos maiores prodígios do nosso país, o pentacampeão brasileiro Rafael gentilmente aceitou o convite que lhe fizemos e premia os leitores do blog com uma reveladora entrevista sobre sua vida enxadrística, conselhos para se tornar um bom jogador, perspectivas do xadrez brasileiro, bem como sobre o match Anand x Carlsen. Obrigado, Rafael. Boa leitura a todos!
RC.1 – Como o xadrez entrou na sua vida e qual o papel de sua família para proporcionar a você uma trajetória de sucesso, rumo à maestria?
RC.1 – Como o xadrez entrou na sua vida e qual o papel de sua família para proporcionar a você uma trajetória de sucesso, rumo à maestria?
Rafael
- Aprendi a jogar ensinado por meu pai, quando tinha 6 anos. Meus irmãos também
jogam, portanto o xadrez sempre esteve presente em meu ambiente familiar. Meus
pais sempre me apoiaram e fizeram o possível para que eu desenvolvesse meu
jogo.
RC.2
– Na condição de melhor enxadrista brasileiro da atualidade e ídolo de uma
legião de fãs, como é sua rotina diária de atividades relacionadas ao jogo?
Rafael
- Tento conciliar minhas atividades como treinador e enxadrista profissional.
Durante a semana dedico cerca de 8 horas diárias entre aulas e treinamento
individual. Não dou aulas nem tenho uma rotina definida nos fins de semanas,
mas a verdade é que o xadrez está presente até em meus momentos de lazer.
RC.3-
Na sua longa e bem sucedida carreira enxadrística, existe alguma experiência em
especial que tenha sido marcante na sua vida? Um torneio... Uma partida... Um
adversário!
Rafael
- Muitos são os momentos marcantes, seja pela alegria de uma conquista ou a dor
de uma derrota. Destaco o Campeonato Mundial sub-18, que venci em 1996, na
Espanha. Tanto pela importância do título, quanto por tudo que aconteceu
durante o campeonato.
RC.4
– Como um jogador de grande experiência internacional, qual sua visão sobre o
xadrez brasileiro na atualidade, em comparação com os principais centros do enxadrismo
mundial, especificamente quanto ao nível de popularização do jogo? Podemos
crescer mais, nesse aspecto?
Rafael
- Estamos ainda muito distantes dos grandes centros do xadrez, seja em
popularidade, seja em treinamento, nível técnico, quantidade de torneios ou
condições para os profissionais. A verdade é que o xadrez ainda engatinha no
Brasil. O destaque positivo é que, de uns anos pra cá, o nosso tem sido
inserido dentro do ambiente escolar. Existe, portanto, a perspectiva de
melhorar sua popularidade a longo prazo.
RC.5
– Ainda sob essa perspectiva, como você analisa o nível de profissionalismo das
competições realizadas no nosso país? Sabemos fazer bons torneios? Há alguma
sugestão do nosso melhor enxadrista para melhorarmos nesse aspecto?
Rafael
- Infelizmente ainda contamos com poucas competições. É preciso fazer um
agradecimento aos abnegados que se esforçam para que este número aumente.
Quanto ao nível de profissionalismo das competições, ainda deixamos muito a
desejar. Muitas vezes a organização (especialmente em torneios abertos) peca
por não disponibilizar um salão de jogos adequado, um número mínimo de material
disponível e outras condições indispensáveis para os participantes. Nesse
sentido, considero a organização do Torneio Zonal 2.4, disputado recentemente
em Manaus, um modelo. Excelente hotel, bom salão de jogos, material em todas as
mesas. Como sugestão para os organizadores que tenham a ambição de fazer um
torneio único e serem pioneiros, por que não adquirir os jogos dgt, que
transmitem as partidas diretamente para a internet? Esse lado de transmissão
online ainda é algo deficiente por aqui e um país com a importância do Brasil
tem que ter organizadores e federações com um material tecnológico de ponta
para esse tipo de transmissão.
RC.6
– Talento... Preparação... Juventude... É possível dizer em que medida tais
fatores contribuem para o surgimento de um Grande Mestre? Nesse sentido, quais
seus conselhos para a preparação de um jogador médio que almeje alcançar níveis
mais avançados no xadrez de competição?
Rafael
- É difícil mensurar a importância de cada um dos componentes que formam um bom
enxadrista, mesmo porque isso difere muito em cada pessoa. Uma coisa é certa: é
preciso estudar muito e ser um apaixonado por xadrez. Não adianta passar várias
horas jogando na internet. É preciso estudar a teoria do jogo, fazer
incontáveis exercícios de cálculo, estar disposto a passar horas e horas
trabalhando. Muitos enxadristas jovens tem talento, mas não tem a energia para
o trabalho necessário para ser um Grande Mestre. Um jogador médio, que queria
melhorar seu nível, deve treinar todos os dias, especialmente a parte de
cálculo, além de analisar detalhadamente suas partidas, montar um repertório,
analisar a teoria. Enfim, é preciso ter vontade de "colocar a mão na massa"!
RC.7
– É possível projetar, num futuro não muito distante, um enxadrista brasileiro
batendo na casa de 2700 de Elo FIDE? Poderá ser Rafael Leitão esse jogador? A
propósito, que podemos esperar de sua atuação competitiva no futuro próximo? Existe algum outro objetivo que você ainda
espera atingir na sua vitoriosa carreira enxadrística?
Rafael
- Para que um enxadrista brasileiro chegue a 2700, sem que isso seja fruto do
acaso, antes precisamos melhorar as condições para o xadrez profissional em
nosso país. Para chegar a 2700 é necessário um trabalho incansável e bons
torneios. Se ele não conseguir se concentrar no treinamento porque não sabe
como vai pagar as contas no fim do mês, como melhorar? Da mesma maneira, não
adianta estar bem treinado e ter apenas abertos de fim de semana para jogar.
Isso, de certa forma, responde à pergunta se posso chegar a 2700 em breve. Para
ter chance de conseguir isso, eu teria que morar ou então passar longas
temporadas na Europa, algo que não tenho disposição para fazer, por um grande
número de motivos. Acredito que o Fier tenha chance de chegar a 2700 um dia, já
que ele ama o xadrez e está sempre na Europa. Mas se chegará ou não... isso só o tempo dirá.
RC.8
– Numa crítica bem humorada, você já disse que, na disputa pelo título mundial
deste ano, uma vitória de Anand frente à Carlsen seria uma zebra, tal qual o
Brasil ser campeão mundial na próxima Copa! Convenhamos: jogando em casa e com
o peso do nome, tanto o Brasil quanto Anand, podem vencer suas competições, sem
que isso seja assim tão inesperado, não acha?
Rafael
- Quando entramos na bem humorada seara dos "pitacos", tudo é possível! Continuo
com o mesmo ponto de vista. Tanto o Anand quanto a seleção brasileira estão um
nível abaixo no momento e podem ser considerados "azarões". E nome e torcida já
não ganham jogos. Mas às vezes o esporte – felizmente – não respeita a lógica!
Parabéns ao Reino de Caíssa!
ResponderExcluirEntrevista excelente com o mais completo enxadrista brasileiro.
Rafael Leitão é um orgulho para o nordeste!!!
Ele pode chegar aos 2700, sem muito apoio, assim como fez Leinier Dominguez que é o melhor da América Latina.
Marcone Fiuza
Excelente entrevista, muito bem trabalhada as perguntas fugindo do trivial. Parabéns ao responsável. Saudações do amigo!
ResponderExcluirJornalista e Mestre FIDE
Frederico Gazel
O RAFAEL LEITÃO JOGOU EM FORTALEZA RECENTEMENTE. GRANDE PESSOA !!!!!! PARABÉNS AO BLOG PELA ENTREVISTA.FAZER PERGUNTAS AO GM, TERIAMOS INÚMERAS PERGUNTAS....CONTUDO FOI BOM PARA NÃO CANSAR O GM !!!
ResponderExcluirParabéns Fernando e parabéns GM Leitão muito boa a entrevista. Joguei contra o GM Rafael numa simultânea em SP, e estive recentemente com ele em Fortaleza, além de um grande jogador é uma pessoa muito educada e atenciosa com os fãs, nos sentimos muito orgulhosos de você grande Mestre Rafael Leitão!
ResponderExcluirJoaquim Virgolino Fiho.
Parabéns !!! Ao blog Reino de Caíssa pelo belo trabalho.
ResponderExcluirPerguntas muito bem elaboradas e respostas excelentes. Destaco em especial a pergunta 4, que me toca hoje em dia e a pergunta 7 que me tocou no passado e à minha geração de enxadristas. Leitão, assim como Sunye, Milos, Lima, Vescovi, fizeram e fazem trabalhos pelo crescimento do xadrez brasileiro. Se não aumentar a quantidade de praticantes não teremos futuro. El Debs, Matsura e Fier também merecem crédito neste esforço.
ResponderExcluirEu me esqueci de Krikor e suas excelentes análises de partidas.
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