terça-feira, 13 de junho de 2017

Um discurso para a História

Por FERNANDO MELO

Confesso que hoje, 13 de junho de 2017, 11 horas de uma terça feira, estou escrevendo uma das mais importantes páginas deste blog. Movido pela emoção, ciente da responsabilidade e fiel aos meus princípios, quero dizer que o discurso que vamos conhecer, proferido por um dos homens mais inteligentes que conheci, o meu saudoso amigo Gildemar Pereira de Macedo, é um marco na História do Xadrez da Paraíba.

Aos amigos que me conhecem e que acompanham esse blog e a coluna de xadrez no jornal Correio da Paraíba, há mais de 10 anos, sabem da minha paixão por Caíssa. E digo com toda a certeza que nesta hora, ela, nossa deusa, está feliz por trazermos ao conhecimento dos enxadristas esse discurso de Gildemar!

Portanto, fico feliz por essa iniciativa. Sei que amigos fieis, e muitas vezes generosos, vão se emocionar, principalmente aqueles que viveram aquela época, no já distante ano de 1976. Vamos ao discurso.

DISCURSO DE GILDEMAR
Salão de Convenções do Hotel Tambaú
Noite do dia 3 de julho de 1976

Gildemar Pereira de Macedo
"Quando em 1973 um pequeno grupo de enxadristas fundava a Academia de Xadrez Caldas Vianna, pouco se praticava o nobre jogo na Paraíba. Os antigos ases do tabuleiro haviam requerido aposentadoria ou, pelo menos, licença prêmio. Já ia longe as memoráveis campanhas de Fernando Marinho, Romero Peixoto, Herul Sá e Jeová Mesquita, entre outros.

De atuante mesmo, tinhamos apenas as jogadas gloriosas do talentoso Frank Lins e a abnegada devoção de Bento da Gama. De resto, um reduzido grupo comparecia à blitz do Clube Cabo Branco, onde se exercitava um jogo de forma empírica e simplória, sem Nimzovitch, sem Roberto Grau, sem Pachman, sem Dagostini sequer.

Mas a Caldas Vianna vinha predestinada. Arregimentavam-se os principiantes ... organizaram torneios ... reacendeu-se a chama do Clube de Xadrez da Paraíba ... os veteranos atenderam à convocação ... e alguns volveram à atividade com a disposição de quem pretende recuperar o tempo perdido, como que num agradecimento à Deusa Caíssa pelo milagre da reativação dos pendores adormecidos.

O Campeonato Paraibano veio a revelar dentre os jovens, verdadeiras vocações enxadrísticas, dentre os quais merecem citação Expedito Medeiros, Fernando Melo, Ivson Miranda, Luismar Brito e Dacio Lima.

O diapasão da arrancada nos propiciou p ensejo de patrocinar o Zonal Nordeste. Foi nesta oportunidade  que tivemos a felicidade de conhecer a figura extraordinária do campeoníssimo Pinto Paiva. E foi aí que a Bahia conquistou o coração da Paraíba, através dos lances magistrais e do magnetismo pessoal desse fenomenal jogador.

Daí por diante a nossa luta passou e torno da esperança de realizarmos aqui o campeonato nacional. Conseguimos a palavra da Confederação Brasileira de Xadrez, através do inesquecível presidente Washington de Oliveira, cuja memória o Brasil inteiro tem o dever de reverenciar.

Mas ainda nos faltava quase tudo. A grandiosidade do porte deste conclave não se poderia conter nos estreitos limites de verba tão insignificante como a que nos foi deferida. Felizmente a sensibilidade do Governador Ivan Bichara, que em tão boa hora conduz equilibradamente os destinos do Estado, atendeu aos nossos apelos. A PB-Tur arregaçou as mangas e tomou a si a responsabilidade promocional do acontecimento, ao impulso do presidente Amir Gaudêncio e dessa maravilhosa equipe de promotores do turismo paraibano.

E que se registre por um imperioso dever de justiça, o apoio do Secretário Marcelo Lopes, da Indústria e Comércio, do Secretário Tarcísio Burity, da Educação, e do Prefeito Hermano Almeida, da Capital, da imprensa de quase todo o país, e, sobretudo, de A União, único jornal do país a manter diária e ininterruptamente uma coluna especializada sobre xadrez.

Mas, até que enfim, o sonho da Academia Caldas Vianna se transforma em realidade. O colosso do Hotel Tambaú se converte no firmamento em que podemos contemplar o brilho dos mais expoentes astros do enxadrismo nacional.

A Paraíba se transforma por alguns dias na capital enxadrística do Brasil.

Entretanto, meus senhores, apesar desse momento ornado de glória, a caminhada do xadrez brasileiro ainda é longa e difícil. É preciso mudar a consciência brasileira em relação ao xadrez. É imperioso que se consiga a obrigatoriedade do ensino de xadrez nas escolas, apoiados na certeza científica de que se todo órgão vivo se desenvolve pelo exercício, o cérebro sistematicamente exercitado haverá de desenvolver-se também.

É preciso atrair as atenções do empresariado nacional para as imensas potencialidades promocionais do xadrez.

É necessário mudar a escala de repartição do bolo de verbas destinadas aos desportos, onde o xadrez é contemplado em escala milesimal".


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