Por José Mário Espínola
Zé Mário, Alejandro e Dutra. |
As
minhas tardes de sábado costumam proporcionar um prazer juvenil: jogar xadrez!
Mas o termo é insuficiente para revelar a riqueza que a atividade lúdica
encerra.
Embora
egresso de uma família de enxadristas (Papai e meus irmãos jogavam xadrez), só
me dediquei ao jogo a partir dos 14 anos, quando numa noite de novembro de 1964
eu estava estudando com Fernando Furtado Filho para a prova de história, que
seria dia seguinte no Colégio Pio X.
Lá
para tantas chegou Paulo Germano, futuro médico então, trazendo um jogo de
peças e um tabuleiro. Ele nos ensinou as regras básicas, o movimento de cada
peça, e foi dormir, deixando o jogo ao nosso alcance. Pra que fez isso!
Eu e
Nino passamos o resto da noite, madrugada adentro, jogando xadrez. Manhã
seguinte não deu outra coisa: ficamos os dois em 2ª época em história.
Desde
então nunca mais deixei de jogar. Não com a frequência que eu gostaria, pois
tenho família e profissão para dar atenção. Embora eu jogue muito, não passo de
um capivara, que é o jogador de xadrez mais iniciante, diferente de um
Mestre-FIDE (MF), ou um Grande-Mestre (GM).
Passamos
a jogar só às tardes dos sábados, ora em casa, ora no restaurante Tábua de
Carne, que nos acolheu. Turma boa: eu, Petrov Baltar, Edson Loureiro, Umbelino,
Kleber Maux, Dutra, Anchietinha, Genivaldo e uma figura da qual sinto muita
falta: o médico José Severino Magalhães, um mestre na arte de jogar xadrez, e
na música. Mas era tudo muito irregular, e o restaurante, embora nos acolhesse
bem, não era ambiente próprio para jogar xadrez.
Foi
quando uma tarde o urologista Anchieta Antas Filho me levou para conhecer o
Clube Miramar de Xadrez. Aí me realizei!
O
Clube Miramar é um ambiente exclusivo para se praticar a Arte de Caissa, que é
como Fernando Melo chama o xadrez. O seu presidente é o MF Chiquinho
Cavalcanti. MF é nada mais, nada menos que Mestre Fide! É uma graduação honrosa
concedida (conquistada!) pela Federação Internacional de Xadrez, a FIDE.
O
clube também é uma escola de xadrez, para alunos de todas as idades. Contém 20
tabuleiros, com seus respectivos jogos de peças e relógios. Além de um
tabuleiro-mural, para dar aulas e fazer análises.
Está
sempre revelando um futuro mestre. Mas o melhor aluno do prof. Cavalcanti, não
resta dúvida, é o jovem Mestre Tomaz, que já está brilhando nos tabuleiros do
Brasil afora.
Depois
que passei a frequentar, as tardes dos sábados passaram a ter um novo sentido
para mim. Lá eu me esbaldo. Todos os sábados temos torneios, sendo que uma vez
por mês é valendo título, premiação.
Quem
está fora do xadrez tem uma imagem diferente, um pouco rigorosa, pois só tem
conhecimento dos campeonatos mundiais, onde o silêncio é sepulcral, rostos
fechados, feições rígidas. Ninguém se diverte.
No
Clube de Xadrez Miramar é outra coisa. Fiquei fascinado. Lá o xadrez tem vida!
Lá se brinca, se diverte. Mexo com os amigos adversários, jogando a dama para o
ar só para deixá-los nervosos. Eu me divirto muuuuito! Só a oportunidade de ouvir Petrov com as suas
frases engraçadas (“safado velho!”, por exemplo), quando está vencendo, é
impagável.
Ninguém
consegue deixar de achar graça com a choradeira de Jorge porquê não foi
premiado, nem com a cara de Valdemiza quando toma uma dama do adversário, uns
brincando com os outros...!
Nas
tardes de sábados é possível encontrarmos a bela Rebeca, quando consegue
conciliar as rondas com as tardes de folga no Clube de Xadrez, jogando “um
bolão”, sendo páreo duro para qualquer enxadrista.
A
presença do psicanalista chileno Dom Alejandro Telehoff jogando com Genivaldo
dá um ar de sofisticação internacional ao Clube. A doçura constante de Targino,
o único enxadrista que consegue perder uma partida sem ficar magoado com o
adversário, é comovente.
Os
mestres Eny Nóbrega e Alexandre César conferem um ar de legalidade aos torneios
que acontecem. E a presença do MF Luismar Brito atesta o nível elevado que é o Clube
Miramar de Xadrez.
Antes
dos torneios podemos quebrar a cabeça tentando solucionar os problemas que Déo
Souza sempre tem no bolso. Genildo é um dos primeiros a encontrar a solução.
Todos
os sábados observamos a agilidade de Manassés e Fabiano organizando os
torneios, com a assessoria de Túlio.
Lá
não tem tempo ruim, não tem mal humor. O ambiente é o melhor possível. As
figuras estão sempre alegres. Até Eudes Carioca, quando perde uma partida (e
ele tem horror a perder!) não fica zangado.
Tudo
isso entremeado por deliciosos bolos e outras guloseimas proporcionadas por
Lili, dublê de intelectual e dona de casa. Um cafezinho delicioso, saindo de
uma cafeteira asmática, gorgolejante. Um suco de limão que faz inveja aos
limões sicilianos.
Aí
chegou a pandemia... E para jogar xadrez tenho que recorrer ao computador. Jogo
em grupos, torneios simultâneos, ao vivo (on láine). Cá estou eu, sozinho, num
isolamento de luxo, aqui no gabinete, jogando com adversários sem ver a cara,
sem poder bulir com um ou com outro. Portanto, não vejo a hora de que termine
esse isolamento cruel.
Pois
quando acabar poderei voltar ao Clube Miramar de Xadrez, onde a alegria é pura.
Não tem dinheiro que pague!
VIVA
O XADREZ AO VIVO (no bom sentido, é claro)!
Nota - Texto
originalmente publicado no blog Ambiente de Leitura (www.carlosromero.com.br).
José Mário, você redigiu esse excelente relato de forma agradável, que o leitor gosta de ler.
ResponderExcluirIsso é muito bom para nós xadrezistas para nos mantermos bem informados sobre o nosso cotidiano.
Esperamos ver futuras matérias dessa natureza.
Parabéns!
Parabéns ao Zé Mário pelo belo texto. Obrigado pela lembrança! Me sinto honrado.
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