Crônica de Eny Nóbrega
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Obrigado,
Heitor!
Um
dos maiores dissabores dos enxadristas, principalmente daqueles que, como eu,
começaram tarde na arte de Caíssa, é olhar dentro de sua própria família e ver esposa,
filhos, sobrinhos e primos manterem uma postura de alheiamento, indiferença e
às vezes – nos casos mais graves! - total desprezo por este esporte.
Para
mim, felizmente, isso é coisa do passado. O ano de 2015 me deu a primeira
vitória! Vindo de Brasília a passeio e hospedado com os pais na minha
residência, meu sobrinho Heitor, de oito anos de idade, surpreendeu-me com um
enfático SIM diante da tímida pergunta que lhe dirigi, desanimado por causa de
tantas recusas anteriores: “Quer aprender a jogar xadrez”?
E
começamos com os movimentos das peças, o cavalo em ele, o bispo em diagonais, a
rainha mais poderosa, a torre em linhas retas e o rei fundamental, pois se
perder o rei – aqui Heitor completava: “perde
o jogo”. Os peões deram um pouquinho mais de trabalho, mas logo ele
entendeu que só vão à frente, não podem recuar, somente “comem” as peças
adversárias na diagonal e, se chegarem à oitava fileira, são promovidos a
qualquer outra peça. “Ah, tio. Igual aos
Cavaleiros do Zodíaco, que quando vencem oito inimigos conseguem evoluir”.
Isso mesmo, Heitor, confirmei, agradecido a esses seres desconhecidos.
Após
as noções básicas e algumas partidas simuladas, Heitor convenceu a sua irmã
Clarinha, de nove anos, a participar. Ele mesmo ensinou os movimentos das
peças, e depois de umas partidas por mim supervisionadas, com vitórias de
ambos, deixei-os brincando e fui dormir.
Mas
o melhor estava por vir. Na manhã seguinte, Heitor me abordou e tentou
reproduzir uma partida que havia jogado com a irmã na noite passada. “Aí, tio, ela colocou o Cavalo aqui e eu comi
com o peão...”, disse radiante. Era o final das férias. À tarde o meu pequeno
guerreiro voltou para Brasília, agarrado a um jogo de peças e a um tabuleiro,
presentes de um tio orgulhoso e feliz.
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O belo texto acima nos foi enviado pelo Promotor de Justiça e Enxadrista Eny Nóbrega com o seguinte encaminhamento:
"Fernando,
Acredito
que a situação relatada no anexo acontece com inúmeros caissianos. Aproveitando o enunciado de Tarrasch ("O
xadrez tem o poder de fazer as pessoas felizes"), tantas vezes repetido
por Fernando Melo, posso afirmar - agora por experiência própria - que ensinar
a jogar xadrez é distribuir felicidade.
Abraço, Eny"
Parabéns Dr. Eny, a semente foi plantada e espero que germine e nos traga dois campeões, lindo exemplo e que todos nós que nos intitulamos de enxadristas possamos imitar este gesto tão nobre que o amigo realizou. Show de Chess Brother!!!
ResponderExcluirAbração, J. Virgolino.
Parabéns, tio coruja! Belo texto. Estou percebendo que entre os enxadristas existem vários candidatos a escritores também. Será que
ResponderExcluiré mais um benefício que o xadrez nos proporciona? Acho que sim, pois como diz o mesmo Fernando Melo: Xadrez é como Filosofia,
nos ensina a pensar. Abraço grande, amigo Eny.