Por
Rewbenio Frota
Não sei dizer o que eu mais aprecio no xadrez,
pois as qualidades do jogo-arte-ciência que mais saltam à minha vista vão
mudando conforme os anos passam.
A criança se interessou pelas peças tão
diferentes, belas e cheias de personalidade (xadrez arte). O adolescente
atraiu-se pela profundidade científica, pelo alcance da estratégia, pela
infalibilidade da tática (xadrez ciência). Ao jovem adulto interessava o
caráter competitivo, vencer partidas, ganhar pontos... (xadrez jogo).
E o adulto de hoje? Bem, em diversas ocasiões
sou brindado com uma nova faceta dessa maravilhosa criação humana que é o
xadrez!
Um dia desses, tentando levar o xadrez a mais
pessoas, mostrei o diagrama abaixo para alguns amigos que sabem as regras do
jogo, mas não o praticam com frequência.
Pedi a eles que tentassem identificar a ideia
que leva as brancas à vitória em somente duas jogadas.
Depois de algumas tentativas que não
alcançaram o xeque-mate, mostrei a eles a ideia do sacrifício da dama: 1.
D×h7+!
Todos ficaram surpresos e deram a mesma
resposta: "eu jamais pensaria em sacrificar minha dama, sou um cavalheiro
à moda antiga".
Talvez fosse brincadeira, mas isso me mostrou
algo: tomar um pedaço de madeira que chamam de rainha por uma pessoa do sexo
feminino não ajuda em nada a vencer uma partida. Peças de xadrez são apenas
peças, não precisam sequer ter uma representação física!
Meus amigos não descobriram o xeque-mate por,
inconscientemente, transformarem em realidade algo que só existe na fantasia (a
peça de xadrez recebe uma denominação feminina, mas é somente uma peça de
xadrez).
Assim, veio o ensinamento:
no xadrez, como na vida, transformar o
imaginário em algo real só nos distanciam do nosso real objetivo!
Bem, é isso que o xadrez significa para mim
hoje, uma fonte imprevisível de profundos ensinamentos (xadrez filosofia)!
O mestre Frota, ao contrário de alguns Frotas por aí, escreve maravilhosamente bem, mas em defesa a Paulo Freire me deixe retocar seu comentário: no xadrez, como na vida, transformar o imaginário em algo real só nos distanciam do nosso real objetivo! Devo concordar que para pessoas menos informadas talvez eles pensem que o objetivo do xadrez, assim como na vida cavalheira seja proteger a Dama, mas aí cabe uma simples informação, de que é proteger o rei, e não a Dama. Talvez por isso tenham mal entendido o sacrifício. Tudo bem. Mas em qualquer aprendizado, quando eu coloco o real para auxiliar a teoria, algo mágico acontece, senão os engenheiros é que saberiam construir e não os operários. Paulo Freire em seu método de alfabetização de leitura colocava os alunos adultos em seus círculos de leitura e a alfabetização acontecia a partir dos instrumentos dos quais eles manuseavam na prática. Como se vê a prática ajuda na teorização. Um assunto quando me interessa mesmo é porque na prática eu já tenho uma noção do que leio sobre ela. Portanto na vida, colocar a realidade a serviço do imaginário é algo transformador. E no xadrez: aí eu deixo para o mestre das letras Frota.
ResponderExcluirJoão Leite, comentário primoroso! Grande abraço.
ExcluirMuito bom o texto, gosto da ideia de como o xadrez e a experiência de vida (no caso a do autor e dos participantes da crônica) se correlacionam, porém vejo com dificuldades como driblar o real, imaginário, objetivo e subjetivo!!
ResponderExcluirPaulo, essas questões são mesmo difíceis, não escapamos delas sequer no tabuleiro, quanto menos fora deles! Abraço!
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