domingo, 6 de março de 2016

VII Memorial Bobby Fischer - Faltam 5 dias!

Kasparov detalha que a partir da 7ª rodada de Palma de Mallorca alguma coisa deu errado no mecanismo lubrificado de Fischer que, depois de quase ser vencido por Matulovic e Naranja, perdeu para Larsen. Porém sua partida com Geller mudou o cenário, conforme revela o ex-campeão mundial russo:
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O ponto de virada foi sua partida da 12ª rodada com Geller, que naquele ponto liderava o torneio. Bobby encarava um problema difícil: primeiramente, ele tinha um escore catastrófico com Geller (+2-5=2) e em segundo lugar, tinha as peças pretas. Fischer escolheu uma variante tranquila da Defesa Grunfeld – e venceu o duelo psicológico: decidido que seu adversário estaria satisfeito com um empate, já no 7º lance Geller ofereceu empate.

“Rir foi a primeira reação de Fischer. Geller também começou a rir: a situação era clara – o norte-americano perdera as três últimas partidas para ele... Subitamente Fischer  parou de rir, inclinou-se e disse alguma coisa para Geller. (...) Não se sabe o que o futuro Campeão Mundial disse, mas um dos espectadores  declarou que ouviu nitidamente: ‘Muito cedo’, mas em todo o caso se tornou claro para Geller que Fischer queria continuar a partida. Geller ficou terrivelmente vermelho e somente dois lances depois, em uma posição simples, ele pensou por toda uma hora, e poucos lances depois se encontrava com um peão a menos.” (Sosonko)

No entanto, o Grande Mestre soviético defendeu excelentemente e a posição adiada era empatada. Isso foi confirmado pelas análises caseiras. Entretanto, durante a continuação, quando todas as dificuldades já tinham ficado para trás, Geller subitamente cometeu um grave erro... Lapsos assim por parte de seus adversários em posições de finais simples ocorriam muitas vezes nas partidas de Fischer. Sua causa é óbvia: a tensão extrema! “Geller permitiu-se relaxar, e Fischer, que ainda não tinha reduzido sua atenção e interesse na partida, imediatamente explorou o erro do seu adversário.” (Taimanov)

E foi talvez com esse sorriso de Caíssa que a famosa arrancada final de Fischer para o Olimpo começou [grifo do RC]. Tendo reconquistado sua autoconfiança, começou a jogar com a sua antiga pressão e energia. Após “testar” sua forma em partidas com Ivkov e Minic, ele freou levemente, como um avião antes de decolar (empates com Jimenez e Uitumen) – e então produziu uma série de 19 vitórias sucessivas, sem precedentes na história de competições classificatórias! [grifo do RC]

Embora Bobby já estivesse classificado para o Torneio dos Candidatos, quando perguntado como ele estava pretendendo jogar nas três rodadas que faltavam [sendo uma delas contra Mequinho – nota do RC], respondeu: “Para ganhar, é claro!”

Antes de baixarem as cortinas o norte-americano ganhou outro ponto quando Panno não apareceu para a partida (ele exigia que no sábado, quando Bobby se sentaria ao tabuleiro após o pôr do sol, todas as partidas se iniciassem simultaneamente, mas escutou uma negativa) e terminou em esplêndido isolamento: 1. Fischer – 18(1/2) pontos em 23; 2-4. Geller, Hübner e Larsen – 15; 5-6. Taimanov e Uhlmann – 14; 7-8. Portisch e Smyslov – 13(1/2); 9-10. Gligoric e Polugaevsky – 13  etc.  Novamente como em Buenos Aires, sua margem sobre os perseguidores mais próximos foi de 3(1/2) pontos.

Sobre os matches vindouros do Torneio dos Candidatos, Kasparov registra a opinião do Campeão Mundial de então, Spassky: “A figura mais interessante dentre os jogadores modernos é Fischer. Ele está no auge do seu poder criativo e é o candidato mais provável a chegar ao match pelo Campeonato Mundial. Nesse caso ele, talvez, também se torne Campeão Mundial, mas já isso dependerá de mim.”

(Reedição da série de postagens 'Bobby Fischer: uma vida em 30 dias', publicada neste blog em 2015, com base em extratos do Vol. 4 do livro 'Meus Grandes Predecessores' de Garry Kasparov - Ed. Solis)

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