sábado, 30 de maio de 2015

Carlsen encanta investidores em Nova Iorque!

PÁGINA DO THE NEW YORK TIMES, SOBRE A SIMULTÂNEA DE
MAGNUS CARLSEN NO SOHN CONFERENCE FOUNDATION (Fonte: Chessbase.com)

No dia 04 deste mês de maio, o campeão mundial Magnus Carlsen participou, em Nova Iorque, da XX Conferência Anual de Investimentos da Sohn Conference Foudation, entidade que arrecada recursos para o combate ao câncer pediátrico. O norueguês impressionou o público e os altos executivos presentes ao evento, ao jogar às cegas e com relógio, uma simultânea contra 3 convidados (veja link do vídeo ao final desta matéria).

Uma venda nos olhos, apesar de mal colocada por uma assistente (pois não ficou centralizada), garantiu a “cegueira momentaneamente programada” do campeão mundial, que enfrentou J. Christopher Flowers,  presidente da JC Flowers & Company; Paul Hoffman, chefe-executivo da Liberty Science Center; e Gbenga Akinnagbe, uma estrela da série da HBO "The Wire".

Os lances de Carlsen foram reproduzidos nos tabuleiros dos adversários por 2 GM's, Pascal Charbonneau e Anatoly Bykhovsky, enquanto o GM Maurice Ashley conduzia e explicava aos presentes a forma de realização da disputa, tecendo alguns comentários durante a simultânea.

O tempo para cada jogador, incluindo para Carlsen, era de nove minutos. Perguntado por Ashley se estava pronto para começar, Carlsen disse: "não sei lhe dizer, pois nunca fiz algo assim antes"

Bem, o ator Akinnagbe, na mesa 3, não ofereceu muita resistência e foi o primeiro a ser vencido pelo astro norueguês, que inclusive anunciou mate em 1 lance, causando aplausos da plateia.

O adversário da mesa 1, Flowers, foi o derrotado seguinte, com um jogada de efeito para uma partida às cegas, quando Carlsen tomou um peão em f7, com sua Dama de a2, sem que pudesse ter sua peça capturada por um cavalo inimigo, que não podia se mover, pois deixaria seu rei em xeque. Depois desse lance, Flowers abandonou sem esperar pelo arremate inexorável do seu oponente, cumprindo o que desejava, que era não cometer erros óbvios e abandonar dignamente na hora certa, conforme revelou depois.

A disputa do tabuleiro 2, foi a mais difícil para Carlsen, que chegou a ir para os segundos finais, quando o tempo de Hoffman caiu primeiro, numa posição de clara vantagem para o norueguês. Pela boa resistência, Hoffman mereceu elogios de Carlsen, que foi lhe cumprimentar ao final, comentando um pouco a partida.

O Jornal The New York Times (NYT) deu destaque à exibição de Carlsen com a notável manchete (de nossa livre tradução): "Na Sohn Conference, mestres das jogadas reconhecem as boas jogadas", numa alusão ao reconhecimento da genialidade de Carlsen pelos experts em investimentos. 

Segundo essa matéria no NYT, os executivos renomados presentes no evento, William A. Ackman, fundador e executivo-chefe da Pershing Square Capital Management, e Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, são acostumados a serem as estrelas nas suas concorridas palestras. Na segunda-feira, porém, eles tiveram que ficar fora do palco principal do Avery Fisher Hall e foram ofuscados pelo brilho de Carlsen, quedando paralisados ao assistirem algo que nunca tinham visto antes.

No final da exibição de Carlsen, o Sr. Ackman foi cumprimentá-lo e, admirado, exclamou: "Foi incrível". Vendo Carlsen sair de cena ele disse: "Como aquela mente funciona?" O Sr. Bremmer também ficou surpreso: "Foi assustadoramente impressionante", disse ele.

Ainda segundo o renomado jornal americano, a conferência, que encheu o Avery Fisher Hall, tornou-se o maior encontro mundial de investidores e gestores de fundos de hedge, sendo conhecido pela presença de oradores proeminentes. A exibição de Carlsen foi idéia de Douglas Hirsch, sócio fundador e gerente da Seneca Capital e também um co-fundador da Conference Sohn, cujo despertar para o xadrez se deu há vários anos, depois que seu filho tornou-se interessado no jogo, fazendo com que ele se tornasse amigo de vários mestres e de Carlsen.

Além de Carlsen, o xadrez também foi destaque no evento através de Susan Polgar, que jogou uma simultânea contra 25 pessoas, durante o coquetel de recepção após a Conferência.

O The New York Times destacou ainda o depoimento de Lorenzo Smith III, um banqueiro do JPMorgan Chase, que, mesmo afirmando não estar ali para assistir xadrez, achou o desempenho de Carlsen "incrível". Ele acrescentou que entendeu a ideia da exposição, ao revelar que, assim como no xadrez, o pensamento estratégico é crítico nos investimentos.

Percebemos, assim, que o feito de Carlsen marcou enormemente o xadrez, fascinando esses influentes senhores do capital, para, quem sabe, atrair grandes investimentos não somente para a digna causa que deu origem à Sohn Conference Foundation, mas também para a nobilíssima Arte de Caíssa.

E voltando ao Sr. Bremmer, ele classificou a exposição de Carlsen de eficaz. "Dar ao povo o inesperado é realmente importante", disse ele, acrescentando: "Foi um golpe de mestre dos organizadores." Logo após a simultânea de Carlsen, o Sr. Bremmer iniciou uma exposição e recebeu uma gargalhada da plateia quando ele começou: "Eu me ofereci para fazer esse discurso com os olhos vendados".


3 comentários:

  1. Sem dúvida um feito extraordinário do Campeão Mundial, mas nem de longe tão impressionante quanto as façanhas do estadunidense Harry Nelson Pillsbury, cuja especialidade era jogar 12 partidas de xadrez, 6 de damas e 01 de whiste duplo (um precursor do bridge), ao mesmo tempo e sem olhar para as peças. Tal fato encontra-se registrado em vários livros de história do xadrez, com algumas pequenas variações, a exemplo dos livros História do Xadrez, de Edward Lasker, e Rei Branco e Rainha Vermelha, de Daniel Johnson.

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  2. Façanhas de simultâneas às cegas têm aos montes na história, não só contra 3 ou 12 jogadores, mas contra dezenas deles ao mesmo tempo, por grandes nomes do xadrez mundial... A façanha de Carlsen foi se submeter ao desafio com controle de tempo e nisso parece estar a proeza e o ineditismo do episódio, que encantou os leigos do universo caissiano.

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  3. é preciso levar em conta o aspecto temporal, a exposição hoje é absurdamente superior aos dos feitos passados, o que não os diminui, mas engrandece o contemporâneo, o campeão se sobressaiu ao se expor ao mundo e pela causa e desafio é digno de todos os elogios. quanto ao resultado, nenhuma novidade, ja que nem os GMs atuais conseguem desbanca-lo.

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