quarta-feira, 7 de outubro de 2020

O Boneco do Cão

O título acima não tem qualquer referência cinematográfica, tipo “Chucky”, de o Brinquedo Assassino. Se você não sabe, “cão” é uma denominação muito usada aqui no Nordeste para se referir ao inominável, ao anjo decaído.

Pois bem, todo lugar tem um jogador de xadrez folclórico para chamar de seu. E João Pessoa não é exceção. Como você já deve estar desconfiando, a capital paraibana também foi agraciada com um, cuja simpática alcunha é “Boneco do Cão”...

Como? … Não, caro leitor, ele não tem qualquer afinidade com o coisa ruim. Muito pelo contrário. Boneco ganhou esse codinome porque cogita-se que nem o “cão” aguentaria jogar com ele!


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Estava acompanhando uma conversa em um grupo do Whats App, quando foi lançado um desafio: uma disputa presencial de xadrez blitz entre João Pessoa e Campina Grande. A especulação em torno de quais jogadores comporiam as equipes começou imediatamente. Nome vai, nome vem. Tentativas de cooptação. Avaliações mil sobre as chances de cada time. E quando parecia que o pessoal de Campina estava levando vantagem naquela discussão, alguém da equipe de Jampa lembrou:

- “Calma jovem, nós temos Boneco!”

A discussão parou. Só depois de uns dez minutos, um campinense perguntou:

- “Quem boba é Boneco?!”

Mais uma expressão comum nestas paragens: “boba da peste” ou, na sua forma reduzida, “boba”. É usada para denotar surpresa, espanto.

Outro integrante do time da Rainha da Borborema ficou nervoso por desconhecer a força daquela arma secreta, e tentou minimizar:

- “Azar de João Pessoa, que tem um boneco que não pensa e não se movimenta, enquanto Campina conta com humanos.”

- “Brinque não! Ele leva o jogo a sério”. Alertou um pessoense.

- “Eu estudei só para não perder para Boneco. Foi meu incentivo”. Completou outro.

- “É horrível perder para ele”. Testemunhou um terceiro. Disse que ele e os amigos criaram um lema, um ideal: “Que eu perca para qualquer um, só não para Boneco”.

- “Para você ter uma ideia...”

E contou que certo dia, Boneco recebeu a visita de um amigo para umas partidas de blitz. Lá pelas tantas, o amigo precisou dar uma saída, e pediu a ele para ensinar algumas regras básicas para sua filha, que o estava acompanhando. Valores das peças, como elas se movimentavam, algumas jogadas, etc.

Quando o amigo retornou, Boneco estava jogando uma partida no relógio com a menina... e pressionando:

“ - Joga, mizera!”

Moral da história: a Paraíba perdeu uma promissora enxadrista.




5 comentários:

  1. Grande Boneco! Podia ser encontrado todo domingo no final da tarde próximo ao antigo Melo Ferro jogando xadrez e claro com a sua frase preferida: "Joga mizera do cão!" rsrsrs

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  2. Fabuloso e divertido. Mas quem é mesmo Boneco?

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  3. Nossa! Parece aquelas histórias de antigamente que nos contavam antes de dormir e ninguém conseguia pregar o olho com medo do bicho papão kkkkkkk

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  4. Quem diria que "BONECO" seria celebrado aqui, que diga Rondinelle o seu maior pupilo, ou Antônio Dutra que junto com "CABELUDO" eram figuras certas naqueles encontros do Melo Ferro.

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  5. Boa época! Isso sim era xadrez raiz: sem engines, com muita pressão, gritaria e resenha nas tardes de domingo.

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