domingo, 19 de maio de 2019

Fernando Melo - E lá se vão 40 anos de sonhos...

(Matéria originalmente publicada no 
Jornal A UNIÃO, em 17 de maio de 1979)



Não adianta erguer mastro sem bandeira

Aproveitando o ânimo que toma conta dos enxadristas pessoenses, ao final de mais uma Campeonato Paraibano e o surgimento de um novo torneio a partir da próxima semana, quando se homenageará o Jangada Clube, conforme registramos ontem, quero dizer, mais uma vez, a necessidade de pensar no Clube de Xadrez da Paraíba.

Todos sabem da atenção que presta, prestou e prestará esta coluna ao entusiasmo do Presidente Abdias Sá, à frente da Federação Paraibana de Xadrez. Isto é um fato conhecido e não devemos nos alongar. Todavia, no último domingo, data venia, o CXP foi considerado pelo Presidente da FPX como uma questão encerrada.

Dizia Abdias que não existe a menor condição de se manter um Clube de Xadrez com exclusiva participação dos sócios, mas que os clubes sociais tinham suas portas abertas para que o xadrez tivesse sua movimentação.

Uma primeira análise desse raciocínio leva a crer que pensa certo o nosso Presidente. A campanha não é de hoje, vem se arrastando por muito tempo. Nada de objetivo se concretizou em termos de permanência. Hoje, a situação fica cada vez mais difícil. Os passos cessaram e as vozes silenciaram. Não há como reivindicar um direito se não existe quem queira se beneficiar desse direito. Esse quadro estranho que se pinta no nosso xadrez é uma realidade.

O pouco que se fez em termos de se popularizar o xadrez da Paraíba, ficou reduzido a uma meia de enxadristas que nada querem em termos de trabalho, dedicação e empenho pelo direito de conquistar. Preferem viver em casa alheia, usufruindo das benesses do estilo pequeno burguês, ao sabor de televisão colorida, poltronas confortáveis e piscinas aconchegantes. Talvez o nosso xadrez venha a tomar o lugar do tênis que se praticava em João Pessoa, até pouco tempo, quando uma igrejinha era senhora de toda a quadra. O que vemos hoje é um tênis se popularizando, abrindo caminhos para que todos possam praticar o ex-esporte branco.

Entendo que Abdias Sá, vendo-se sozinho, cansado de esquematizar planos infrutíferos por falta de espectadores, tenha compreendido que o melhor mesmo seja se contentar com o que já temos. Me parece uma acomodação provocada pelas decepções, nunca pela vontade de acertar. Daí porque trago essas palavras no sentido de mostrar que não devemos desanimar de uma vez por todas, passando uma esponja num clube que deve existir, ser forte e se edificar com o esforço de seus filiados.

Portanto, nada mais resta do que continuar gritando no deserto para que uma dia essa voz seja ouvida, não pelos poderes públicos, mas pelos próprios enxadristas, responsáveis diretos pelo desenvolvimento do nosso xadrez. A eles, somente a eles, cabe o direito de reivindicar o que lhes falta. Estou disposto a voltar a este assunto, mostrando inclusive o que se deve fazer para que o Clube de Xadrez da Paraíba não seja arquivado, porque se isto acontecer não teremos mais interesse em continuar usando o nosso tempo em soerguer um mastro sem bandeira.

Um comentário:

  1. O PMA = Projeto MACHADO DE ASSIS faz parte do sonho de termos um xadrez voltado para a cultura de nosso povo. Se até hoje não conseguimos fundar o Clube de Xadrez da Paraíba, nm por isso perdemos a esperança. Podemos buscar no PMA novos caminhos, de forma mais ambiciosa, em favor da educação de nossa juventude. Agradeço a Fernando Sá e o parabenizo pela determinação em mostrar que o sonho não acabou e que não estamos esquecidos pelo muito que fez o nosso saudoso Abdias Sá, em defesa do xadrez paraibano!

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