terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Vescovi comenta










Sem perda de tempo, vamos dar a palavra ao campeão brasileiro GM Giovanni Vescovi, que comenta sua partida contra o GM Teimour Radjabov, do Arzebaijão, jogada ontem pelo Mundial por Equipes, na Turquia.
Uma partida fantástica
por Giovanni Vescovi (11/01/10)Blog ESPN
Hoje joguei uma partida como não jogava há muito tempo, cheia de idéias, sacrifícios, ataque e defea. Ao me preparar pela manhã, vi que meu adversário, o GM Teimour Radjabov (2733) joga invariavelmente a Defesa India do Rei, o que me dava a certeza de que teríamos uma partida interessante.
Vale a pena reproduzir os lances:
G. Vescovi vs. T. Radjabov
1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 Bg7 4.e4 d6 5.Cf3 0-0 6.h3 e5 7.d5 Ch5 8.g3 a5 9.Bg2 Ca6 10.0-0 Cc5 11.Be3 Bd7 12.Ce1 b6 13.Rh2 De8 14.Bf3 f5 15.exf5 e4 16.Be2 Bxf5 17.g4 De5+ 18.Rg1 Cf4 19.Bxf4 Dxf4 20.Cg2 Dh6 21.gxf5 gxf5 22.f4 Dxh3 23.Dd2 Rf7 24.Tfe1 Tg8 25.Bf1 Cd3 26.Cb5 Bh6 27.Te3 Cxf4 28.Txh3 Cxh3+ 29.Rh2 Bxd2 30.Rxh3 Tg5 31.Td1 Tag8 32.Txd2 Th5+ 33.Ch4 Tg4 34.Kh2 Tgxh4+ 35.Rg1 Th1+ (0-1)
Minha preparação foi bem até o lance 13. O plano de 8.g3 já havia sido jogado, mas após 8... a5 as brancas normalmente jogam 9.Be2 Ca6 10.Ch2 Cf6 11.Cg4 h5 com jogo equilibrado. A primeira posição importante é após meu lance 14.Bf3. O cidadão normal jogaria com 14...Cf6 e meu plano seria jogar 15.Cd3 para trocar os cavalos e pressionar a ala da dama. Meu adversário pensou bastante e resolveu entrar nas complicações. Mérito pela bravura, mas objetivamente uma decisão perigosa.
Eu não pensei duas vezes para embarcar na confusão e ficar com uma peça a mais e tentar segurar o ataque. A segunda posição crítica é após 21...gxf5. Uma abordagem mais segura seria jogar 22.Dc1 e permitir o avanço 22...f4, para então poder defender o peão de H com 23.Bg4. É difícil dizer o que era melhor, ainda mais sem prever a brilhante idéia que as pretas jogaram na partida. O fato é que eu preferi sacrificar o peão e abrir meu rei para poder ter um jogo mais ativo. Se as brancas conseguirem jogar De3 e depois Cb5 teriam boas perspectivas.
Mas como a história não é feita de "se...", Radjabov encontrou um lance brilhante: 23...Rf7!! Essa é a posição crítica. Evidentemente o meu objetivo era jogar o natural 24.De3, mas então as pretas responderiam com 24...Bd4!! entregando a segunda peça! Após 25.Dxd4 Tg8 26.Tf2 Tg6 27.Bf1 Tag8 28.Td2 Th6 29.Rf2 Dg3+ 30.Re2 Th1 eu não via como minhas peças poderiam me salvar, mas sentia que poderia ter algum recurso antes. Nas analises post-mortem apareceu a idéia 31.Df2 Dg4 32.Re1 Dh3 33.Ce3 Tg3. Essa é apenas uma das inúmeras possibilidades.
Durante a partida passei a procurar alternativas e decidi jogar 24.Tfe1 para ganhar tempos na defesa. Eu precisava expulsar a dama de h3, e parecia preferível deixar de ganhar a segunda peça para alcançar esse objetivo. Ocorre que eu não percebi um outro tema sutil: 26...Bh6! seguido de 27...Cxf4! é decisivo.

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