Estamos
iniciando uma nova seção, a qual receberá o simpático nome de “O Voo do
Capivara”.
Portanto,
essa não será uma história de desventura. Afinal de contas, capivara também é
gente! E há dias em que ele voa. Em homenagem aos voos dos capivaras, publico a
foto abaixo, que achei na Internet.
Vejam como é leve e gracioso.
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Isto
posto, e para que você saiba do que se trata, vou me apressar e dar um
“spoiler”.
A partida
abaixo transcrita me trouxe enorme satisfação. Num jogo que definiria um dos
finalistas de um torneio, enfrentei um fortíssimo adversário e, ainda, tive de
fazer 15 movimentos em apenas 5 minutos. Apesar disso e das complicações
propostas por meu oponente, mantive o sangue frio e consegui executá-los sem
maiores deslizes.
E
você, caro leitor? Já jogou alguma partida que lhe porporcionou essa
satisfação? Quer compartilhá-la conosco?
Pronto!
Agora que você já está sabendo de tudo, mande um e-mail para marcellourquiza@bol.com.br.
Iremos publicar sua partida preferida.
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Em
1978, recebi um convite do MF Marcos Asfora, então um dos mais fortes enxadristas
do país, para jogar um match. Recém-chegado à capital pernambucana, aquele
convite me deixou muito honrado. Jogamos 4 partidas. Consegui empatar uma
delas.
Posteriormente,
tivemos mais três encontros, sendo dois presenciais e um por correspondência. A
partida abaixo foi jogada na 4ª rodada do I Torneio Cidade do Natal, em 1984. O
vencedor iria disputar o título na última rodada.
Marcello Urquiza x
Marco Asfora
Natal – 03/11/1984
1.e4 Cc6
Nem
sei o nome que se dá a essa defesa. Mas a razão pela qual Marquinho jogou esse
inusitado lance merece um exame. Em tempo, não estranhem a intimidade, pois era
assim que o chamávamos naquela época.
Durante
algum tempo, adotei a Abertura Orangotango (1.b4). Tinha um motivo para isso: a
preguiça. Não conseguia estudar aberturas. Então, entendia que, se jogasse algo
desconhecido, eu e meu adversário estaríamos em condições de igualdade, no que
diz respeito à preperação teórica. Um ano antes, jogando pelo Torneio Poupança
Bandepe, enfrentei Asfora usando essa abertura e, pasmem, ganhei!
Primeira
hipótese. Queria ele me dar o troco, usando agora uma defesa também excêntrica?
Outro
fato que pode tê-lo motivado foi que, após a 3ª rodada, e já conhecido o
emparceiramento, comprei um Informador.
Segunda
hipótese. Teria ele suspeitado de que eu iria preparar alguma linha para
enfrentá-lo no dia seguinte e, por isso,
fugiu do rotineiro?
É
claro que isso é um mero exercício especulativo, mas vale como um “causo” a ser
contado. Só quem pode confirmar a correção dessas hipóteses é o próprio Marco.
2.d4
d5 3.e5 Bf5
4.Cf3 e6 5.Be2
Cb4 6.Ca3 c5
7.0-0 Cc6 8.Be3
f6 9.c4
Uma
pequena análise restrospectiva: observem que, em apenas 7 lances, um dos
cavalos das pretas moveu três vezes, atrasando o desenvolvimento das demais
peças. As brancas, ao contrário, renunciaram ao lance “c3” para priorizar esse
desenvolvimento.
Nesse
contexto, o lance “f6” foi um erro
grave, pois não se deve abrir linhas quando o desenvolvimento está
atrasado. As pretas deveriam ter jogado
“c4”.
Agora,
temos uma verdadeira guerra de nervos no centro.
9.... fxe5
10.cxd5 exd5 11.Ce5
Cf6
As
pretas entregam um peão em troca do seu desenvolvimento. A tentativa de evitar
essa perda material não seria uma boa opção. Por exemplo: 11.... Ce5
12.dxe5 d4 13.Bb5
Bd7 14.e6 Bb5
15.Cb5, e se 15.... dxe3 16.Dh5
g6 17.Df3 Ch6
18.fxe3, com forte ataque. Se 11....
cxd4, então 12.Bd4 Cd4 13.Dd4
Ba3 14.bxa3 Cf6
15.Da4, mantendo a pressão.
12.Bb5 Tc8
13.dxc5 Be7 14.Cc2
0-0 15.Bc6 bxc6
16.Cd4 Bd7 17.b4
Dc7 18.Cd7 Dd7
19.f3 Bd8 20.Dd2
Ch5 21.Tae1 Bc2
22.Bg5 Tce8 23.Te8
Te8 24.Te1 Be5
25.Be3 Dc7
Consegui
manter um vantagem relevante. Mas as pretas, a partir do lance 19.... Bd8, iniciaram um movimento que visava obter
algum contrajogo, colocando pressão sobre o rei branco. Acrescente-se a isso o
fator tempo, pois tinha de jogar os próximos 15 lances em apenas 5 minutos. Um
campo fértil para o erro, pois naquela época não havia o incremento de tempo.
26.g4 Cf6
27.Te2 Dd7 28.Cf5
d4
Ameaçei
jogar Bd4, consolidando a posição. As pretas, acertadamente, avançam o peão em
busca de complicações. Tic-tac, tic-tac... Não posso capturar o peão. Meu bispo
está cravado.
29.Bg5
Teria
sido melhor 29.Bf2, mantendo a ameaça sobre o peão. As brancas ainda possuem
uma confortável vantagem. Mas, agora, as pretas poderiam ter incrementado as
complicações com 29....
h5 30.h3 d3
31.Te1 Ch7.
29.... Cd5
30.De1 Ce3 31.Ce3
Deveria
ter jogado 31.Be3 dxe3 32.Te3
Bd4 33.Cd4 Dd4
34.Rf2, com vantagem de dois peões. Mas, tic-tac, tic-tac... Com pouco tempo para decidir, quis evitar
eventuais complicações decorrentes da cravada em “d4”.
Dr.
Fritz, com seus nervos de silício, diz que as pretas poderiam ter jogado
31.... d3 32.Td2
Bc3 33.Dd1 Bd2
34.Dd2 Dd4 35.Rf2, trocando duas peças pela torre, mas
especulando com o peão passado em “d3”. Mas acho que esse é um tipo de decisão
muito difícil de ser tomada, no calor da batalha.
31.... dxe3
32.Be3 Tf8 33.Rg2
Dd3 34.Df2 Dc4
35.a3 h5 36.h3
Bc7
Opa!
Cedendo a casa “d4” para meu bispo. Tic-tac, tic-tac... Mas já começava a ver
uma tênue luz no fim do túnel.
37.Bd4 hxg4
38.hxg4 Dd3 39.Te7
Tf7 40.Te8 Tf8
Ufa!
Se 40.... Rh7 41.Dh4
41.Da2 Rh7
42.Tf8 Dd4 43.Dg8
Rg6 44.De6
Já
relaxado, não percebi que Df7, seguido de Dh5, levava ao mate.
44.... Rh7
45.Df5 g6 46.Tf7
Rh8 47.Dc8 Bd8
48.Tf8 Rg7 49.Dd8
Pretas abandonam.
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Empatei
com o mestre cearense, Fred Saboya, na última rodada. Terminamos com 4,5
pontos, cada, mas fiquei em 2º lugar por conta dos critérios de desempate.