Por Fernando Melo*
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Gildemar jogando no Hotel Tambaú na década de 70 |
A feliz ideia de homenagear a memória do advogado tributarista Gildemar Pereira de Macedo. como patrono do Aberto do Brasil - I Torneio Memorial Machado de Assis, a ser realizado nos dias 15 a 17 de novembro do Littoral Hotel, tem para mim um valor sentimental muito forte. Com ele convivi no início da década de 70, no florescer da Academia de Xadrez Caldas Vianna, quando costumava aparecer nos fins de semana para partidas amistosas com amigos comuns. Foi uma época romântica, impossível de esquecer.
Gildemar Pereira de Macedo nasceu em Picuí-PB no dia 23 de novembro de 1937 e faleceu no dia 7 de dezembro de 1992, com a idade de 55 anos. Casado com Afra Dantas Macedo e teve quatro filhos: Gilvia, Lírida, Gil e Erick. Na sua vida profissional foi Agente Fiscal, Procurador do Estado da Paraíba, Professor Universitário e Advogado Tributarista. E foi também Enxadrista. Adorava jogar e não suportava perder!
Na década de 70, pelos idos de 1972, teve início a chamada Academia de Xadrez Caldas Vianna, que funciona até hoje na minha residência, em uma área externa. Pois bem, nessa Academia, nos finais de semana, pontificavam muitos enxadristas, entre outros Abdias Sá, Frank Lins, Chrisóstomo Magalhães, Anchieta Antas, Ivo Bichara, os irmãos José Severino e Nisbel Magalhães, todos falecidos e o saudoso Gildemar!
Havia um respeito mútuo e confiança extrema. Gildemar sentia-se em casa quando vinha jogar na Academia. Fomos amigos, chegamos até a estudar os primeiros anos na Faculdade de Direito. Eu terminei abandonando o curso, Gildemar continuou e tornou-se um aluno exemplar. Na cadeira de Direito Tributário ele era o melhor aluno, ao ponto do professor Octacílio Silveira, que ocupava o cargo de Secretário das Finanças, no Governo João Agripino, convidar Gildemar, mais de uma vez, para dar aula em seu lugar, por ter que viajar com o Chefe do Executivo, a serviço. Uma vez formado, Gildemar abriu uma banca de Advogado e em pouco tempo era a mais procurada e respeitada em todo o Estado.
Gildemar não cedia fácil! Certa vez, fomos nós dois à inauguração do Estádio Almeidão, com o jogo do Botafogo-PB com o Botafogo-RJ. O estacionamento estava totalmente lotado. Na saída Gildemar não lembrava onde tinha deixado seu carro. Não pensou duas vezes, Me chamou a sentar num banco nas proximidades e ficamos ali, esperando. O último carro que sobrasse seria o dele. E assim foi feito.
No alto da glória profissional, a sua saúde foi atingida e quis o destino que ele interrompesse suas atividades. Infelizmente, apesar da sua brava luta pela vida, esta o deixou aos 55 anos. Sua causa não foi em vão. Plantou sementes que se tornaram raízes e hoje são árvores frondosas para orgulho da sua amada Afra.
Tenho saudades de Gildemar! Há 10 anos, quando do Campeonato Pessoense de 2009, o Troféu de Campeão do evento levou seu nome. Agora, 10 anos depois, o Troféu de Campeão do Memorial Machado de Assis, também terá seu nome. Homenagens que se sucedem para quem não pode ser esquecido, 27 anos após a sua morte.
Imagino frente a frente com Gildemar, ele tendo que enfrentar a minha Bird. Pena que na época eu ainda não jogava o meu famoso 1.f4! Queria ver a reação dele diante das dificuldades de impedir os fulminantes ataques que essa Abertura proporciona.
- Abandona, Gildemar?
- Coisa nenhuma, não fui feito para a derrota!
E é verdade, terminou seus dias como um vencedor naquilo que abraçou como profissão.
* Fernando Melo é jornalista, presidente da Federação Paraibana de Xadrez e coordenador do Projeto Machado de Assis.