Quem diria, hein Radjabov?

RADJABOV MIRA O CAMPEÃO DO MUNDO, ESPERANDO A SUA RENDIÇÃO, NA POSIÇÃO
FINAL ILUSTRADA NO CANTO DA IMAGEM. SURGE UM LÍDER IMPROVÁVEL NO GASHIMOV.
(Foto obtida no vídeo do site oficial)

E Carlsen perdeu a segunda seguida... Se uma derrota do campeão do mundo já surpreende, imagem duas em sequência. Segundo apurou o Chessbase, isso não acontecia desde o Grand Slam de Bilbao de 2010, quando o norueguês começou o torneio perdendo para Kramnik e Anand. 

Quem também perdeu hoje foi Caruana, para Mamedyarov, o que propiciou uma improvável liderança ao final da primeira volta: Radjabov, o menor Elo do grupo, ainda que nos altos dos seus 2713, porém 168 a menos do que Carlsen! 

Assim, o Azerbaijão terminou um dia para celebrar, vendo um dos seus filhos vencendo o campeão do mundo e assumindo a ponta do Memorial Gashimov. Quem diria, hein? Será que o espírito do homenageado anda dando uma força para seu compatriota?

Aliás, vale dizer que essa vitória de Radjabov contra Carlsen é algo  raro. Consultando o confronto entre ambos no site da FIDE, vemos que, numa estatística a partir de 2007, o placar é amplamente favorável ao norueguês: 11 vitórias, 15 empates e apenas 1 derrota! Com  o resultado de hoje, Radjabov consegue, portanto, a segunda vitória contra Carlsen, em partidas de clássico, no período.

A liderança do Gashimov mudou de mãos numa linha da Índia do Rei, pouco jogada na elite, que se mostrou complexa, quando Carlsen resolveu sacrificar torre por bispo, a fim de abrir linhas de ataque sobre o rei inimigo. Com uma defesa bem jogada, Radjabov conseguiu conter a ofensiva branca e no final, passando ele a ficar com peça a menos, acuou o campeão do mundo com sua maioria avassaladora de peões passados! 

A derrota de Carlsen, portanto, pode até ser creditada um pouco ao fato dele entrar num esquema tático, pouco usual no seu conhecido estilo de buscar posições equilibradas, onde consegue, como ninguém, encontrar meios de vencer. Há quem diga até que a estratégia foi uma tentativa a todo custo de buscar triunfar, a fim de superar um possível trauma causado com a sua derrota de ontem, ante Caruana. Pagou caro por isso e causou reações já conhecidas quando ele perde, fazendo os comentaristas de plantão, mundo afora, lembrar que ele também é humano e, portanto, sujeito a erros e pressões psicológicas. 

O baque de hoje fez o campeão do mundo amargar -8 pontos no seu Elo vivo e a penúltima posição da primeira etapa desse Memorial, ainda que com os mesmos 2,5 pontos do segundo colocado. Apesar da campanha irregular, ao menos é possível notar que Carlsen foi aquele que menos empatou até aqui, apenas uma vez, o que pode denotar um bom e bem-vindo espírito de luta do campeão, ao contrário do que vimos recentemente no Candidatos, no jogo do seu desafiante pelo título mundial, Anand, que, a propósito, deve estar acompanhando atentamente os acontecimentos no Azerbaijão.

Amanhã é dia de descanso. Tempo para o campeão buscar energias para, quem sabe, retomar o caminho das vitórias, a partir do próximo sábado. Será? Mexeram com a fera! Vamos ver o que vai acontecer!