Por Rewbenio Frota
O xadrez andou errante na década
de 1990, após o cisma causado pela saída de Kasparov e Short da FIDE para
disputarem seu match mundial por uma associação concorrente (PCA na
época). Ainda houve tentativas de manter a tradição, mas já próximo aos anos
2000 o sistema de matches para definir o campeão mundial foi trocado por
um torneio de chaves eliminatórias no formato knockout (KO).
Esse campeonato mundial KO coroou
jogadores como Khalifman (1999), Ponomariov (2002), Kasimdzhanov (2004)
e Anand (2000 – que se tornou a exceção que confirmou a
regra de que os torneios KO não favorecem os favoritos). Somente após a
reunificação dos títulos mundiais (2006),
esse tipo de competição não foi mais utilizado para definir o campeão do mundo.
Porém, o que fazer com ele?
A FIDE, então, acertadamente,
transformou o que era um formato ruim para um campeonato mundial num excelente
novo tipo de torneio: a Copa do Mundo! Além disso, os finalistas da Copa do
Mundo ganham vaga no Torneio de Candidatos. Por exemplo, foi por ter sido
campeão da última Copa do Mundo (2015)
que Sergey Karjakin iniciou seu caminho para ser o desafiante de Magnus Carlsen
no ano passado.
Num torneio KO, há um peso muito
grande para as partidas de desempate, que são em cadência rápida ou blitz,
e isso historicamente causa dificuldades aos grandes nomes. Talvez por isso,
alguns dos melhores no ranking mundial recusam-se em participar. Por
exemplo, Carlsen não joga eventos assim desde a Copa do Mundo de 2007
(quando foi eliminado por Kamsky nas semifinais).
Para o público, porém, é uma
festa! Se as partidas clássicas perdem em interesse porque os jogadores usam
estratégias conservadoras de baixo risco, as partidas rápidas levam os grandes
mestres a deixar cair todas as máscaras, tornam-se apenas humanos que precisam
em poucos segundos definir seu destino no torneio, sobretudo se o desempate vai
até a temida partida ‘Armagedon’ na qual não existe a figura do empate (que
favorece ao jogador de peças pretas).
Hoje, 3/9, começa a Copa do Mundo 2017 em Tblisi, Georgia, e há uma
grande surpresa: Magnus Carlsen vai jogar!
Como assim? Se a Copa do Mundo
serve para qualificar jogadores para desafiar o Campeão Mundial, como fica se o
Campeão Mundial joga o torneio? Bem, é um brecha no regulamento da FIDE (ou uma
maravilhosa maneira de dar ainda mais emoção ao torneio). Talvez Magnus, que
não venceu nenhum dos últimos torneios clássicos que disputou desde que confirmou
seu título mundial no ano passado, queira novos desafios para demonstrar que
não é o número 1 por acaso. Para nós, aficionados, é um ingrediente a mais para
as emocionantes disputas que se iniciam amanhã.
Fica só uma questão para ser
definida pela FIDE depois: caso Magnus alcance as finais ele terá excluído uma
das vagas que a copa dá para o Torneio de Candidatos. O que deixará algum forte
grande mestre muito triste.
Mas esperem, será que Magnus
pretende jogar o Torneio de Candidatos? E se ele ganha esse também? Aí, ano que
vem, teremos uma situação que não se vê desde 1975, quando só tivemos um
jogador na disputa do Campeonato Mundial; só que desta vez não restará nenhuma
dúvida de que o único presente é realmente o melhor do mundo!
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