sábado, 9 de setembro de 2017

A Copa do Mundo é pura emoção!

Por Rewbenio Frota

            Os tempos de hoje são os melhores para os aficionados do xadrez: torneios de elite com comentários online e ao vivo, aplicativos com força de GM para ajudar a aplacar a "cegueira enxadrística", grupos de mensagens para trocar informações e ideias; e tudo de graça!  A era da informação plena é muito benéfica para os admiradores do nosso amado jogo.

            Pensava nessas coisas enquanto assistia no feriado pátrio a algumas partidas da segunda rodada da Copa do Mundo, que trouxe surpresas como a eliminação precoce de Anand e Karjakin frente a jovens talentos (ainda mais jovens que Karjakin!). Houve também ações sem um sentido claro, como a proposta de empate feita pelo GM russo Anton Demchenko (jogando de brancas e precisando ganhar para não ser eliminado) ao lendário Kramnik após apenas dez lances de partida! Estaria Demchencko conformado com a eliminação e apressou-se em garantir pelo menos um empate contra o ex-campeão mundial como souvenir de sua participação em Tblisi? Nem o próprio Kramnik soube explicar!

O comentarista (GM Sokolov, à direita)
pressiona Kramnik por respostas


            Como falei no outro dia, torneios KO trazem os (às vezes) sobre-humanos GMs a um terreno bem mais conhecido para nós outros, aficionados: o das dúvidas e premências humanas. Quando se trata do nosso intrincado sistema emocional, não existem grandes mestres.

            Entretanto, aqueles jogadores que isolam suas emoções e conseguem deixá-las confortavelmente inacessíveis durante uma partida, colhem bons frutos nos torneios como esta Copa do Mundo. Vejamos o caso da nossa preferida GM Yifan Hou. Nas partidas clássicas, ela esteve sempre um passinho à frente do fantástico Aronian, mas faltou um pouco de frieza quando jogou com peças brancas, pois poderia ter complicado mais a partida para seu adversário ilustre, em vez de tentar sua sorte nos tie-breaks. Nas partidas rápidas, a técnica enxadrística, e emocional, do atual nº 2 do mundo prevaleceu de uma maneira que não foi vista nas partidas clássicas.

            As esperanças latino americanas também se esgotaram nessa segunda rodada, quando os talentosos Jorge Cori (Perú) e Lázaro Bruzon (Cuba) tiveram que inclinar seus reis frente aos seus difíceis adversários do Top 10 mundial, Grischuck (Rússia) e Nakamura (EUA), respectivamente. Mas, assim como fez Hou frente a Aronian, os latinos só foram derrotados nas partidas rápidas de desempate.

            O joio e o trigo estão começando a se separar: agora só 32 dos 128 jogadores iniciais permanecem na disputa. Lá no topo, único com 100% de aproveitamento, Magnus Carlsen parece estar a jogar um torneio de treinamento. Tem mostrado um xadrez de clara superioridade técnica, digno de Capablanca, que faz um capivara como eu achar que é fácil asfixiar sobre o tabuleiro as peças de um GM forte e experiente como o russo Alexey Dreev.

O campeão do mundo parece estar se divertindo até agora


            A próxima rodada (terceira) coincidiu com o final de semana! Mais uma alegria para os aficionados, que poderão ver embates como Kramnik x Ivanchuk, em full HD, comentado por um GM da classe de Ivan Sokolov.

            Mas pelo que todos ansiamos mesmo são os dramas, que certamente virão, quando os dígitos no visor começarem a mudar rápido demais, quando o peão esquecido alcançar a sétima fila, ou um garfo fatal aparecer dois lances à frente. Então, novamente, até o maior dos capivaras vai sentir-se estranhamente próximo ao mais forte dos GMs: no final somos apenas como crianças pelejando num jogo que ainda estamos longe de dominar!

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