quarta-feira, 4 de maio de 2016

O cavalo de Korchnoi

Por Fernando Melo

  Vamos começar com o cavalo de Alexandre, o Grande da Macedônia, o famoso e inesquecível Bucéfalo. Já o imperador romano Calígula tinha uma especial atenção pelo seu Incitatus, o qual tinha cerca de dezoito criados pessoais. Quem não se lembra de Tornado, o cavalo do Zorro? E do Trigger, de Roy Rogers? E do Corisco, de Durango Kid? E você sabia que aquela historia conhecida da cor do cavalo branco de Napoleão, tem sentido. o nome do cavalo era Branco  mas a cor não era branca! 
  Na literatura, o mais famoso de todos é sem dúvida o velho e sofrido Rocinante, o qual serviu ao seu senhor Dom Quixote de La Mancha em suas aventuras! Rocinante vem de Rocim que significa Pileca, cavalo fraco e pequeno. Sofreu muito, coitado de Rocinante, sujeito aos destemperos do seu senhor! Magricelo, mal nutrido, mas fiel e esteve em todos os momentos da vida do Cavaleiro da Triste Figura!  
  Mas vamos mesmo ao que interessa, ou seja, o cavalo de Korchnoi. Estou querendo falar da partida entre Marovic x Korchnoi, no Match URSS - Yugoslavia, jogado em Erevan 1971. Naquela época, a partida podia ser suspensa, e o que acontecia no tabuleiro era uma posição favorável a Marovic. A posição das peças era a seguinte: Brancas: Rd5, Bd3, d6, g4. Negras: Rf6, Cf7, b6. Como vemos, as brancas tinham um peão a mais. Interessante é que as brancas ganhavam se tivessem jogado tanto 71.Bb5, como 71.Bc4 ou ainda 71.d7. Ocorre que, na partida, Marovic jogou 71.Rc6? o que levou Korchnoi a lutar bravamente e empatar o jogo no lance 86. Isso foi, como sabemos, em 1971. Ao final desta partida, Korchnoi foi premiado com um estrondoso aplauso do público que enchia a sala.
  Muitos anos se passaram, e exatamente em 1996, 25 anos depois, durante a Olimpíada de Erevan, Marovic caminhava numa manhã para rever o local daquele encontro com Korchnoi. "O edificio estava decrépito e o espaço em torno dele estava deplorável, e tanto que não reconheci à primeira vista", confessa Marovic, que assim finaliza: "Só o cavalo de Korchnoi permanecia intacto em minha mente"!

6 comentários:

  1. Eita, que cavalaria! Só faltou o Policarpo do Candinho, que não é cavalo, mas, é da
    mesma família.

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  2. Que bela história Fernando. Contada por profissional. Poxa como é bom devagar nos contos bem escritos. Parabéns. Zirpoli

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  3. Ter leitores como Ivson, Céu e João Leite/Zirpoli é um privilégio!

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  4. É assim o xadrez, Mestre Resende, com esse poder de ter histórias que emocionam!

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